Portugueses criticam condução do governo na crise do coronavírus
Cuidados para evitar pânico entre portugueses reduzem alertas para evitar a doença
Lisboa – Somente na noite desta quinta-feira (13) o primeiro-ministro de Portugal, Antonio Costa (Partido Socialista), colocou o país em quarentena. Pelo menos para as creches, escolas e Universidades, públicas e privadas, a medida se estenderá até nove de abril, prazo que poderá ser dilatado.
Contudo, a “arraia miúda”, como se intitulam os próprios os médicos que vivem diariamente no Sistema Nacional de Saúde, não está nada satisfeita com o modo como a crise do coronavírus vem sendo conduzida pelas autoridades competentes e divulgaram descontentamento e informações que julgam serem úteis para ajudar a acalmar a população.
Compreendem a atitude do governo de evitar o pânico na população, mas advertem que a verdadeira mensagem sobre a doença não está sendo transmitida, o que leva muitos a se descuidarem, julgando exagero notícias e medidas oficiais de prevenção. Observam que nem mesmo as consecutivas entrevistas da imprensa com os dirigentes dos serviços de saúde tem resultado na conscientização do conjunto da população. Quarta feira, num raro dia de sol de inverno em Lisboa, as praias estavam repletas, bem como restaurantes, bares e o comércio em geral.
Com base na progressão da doença na Itália e na Espanha, estes médicos calculam que 80% pessoas infectadas terão sintomas mais leves, como uma gripe ou resfriado. A estas aconselham não ir aos hospitais e serviços de urgência, não só para não sobrecarregá-los, ”mas também porque não há qualquer tratamento a oferecer aos casos mais ligeiros. Nada que os impeça de agravar”. E outro problema, poderão por em risco os doentes internados e os profissionais.
Avaliam ainda que pelo menos 10% dos casos serão graves e terão de ser internados, majoritariamente idosos ou com doenças pré-existentes, mas também jovens e saudáveis. Todos estes doentes precisarão de ventilação mecânica. Em 10 mil contaminados, calculam, 0,2% serão crianças, enquanto nos idosos poderá chegar a 15 a 25%,quantidade que o Serviço Nacional de Saúde não tem capacidade de atender.Não haverá ventilação mecânica para todos.
É que está acontecendo na Itália, onde o instrumento está sendo recusado a quem tem mais de 60 anos. Mas a “arraia miúda” busca tranquilizar a população divulgando medidas de prevenção e informando que, em Portugal, não há nenhum caso de doença grave em menor de 10 anos. Por outro lado, lembra que durante esta época as outras doenças graves não vão tirar férias. Portanto, se a qualquer espirro as pessoas correrem aos hospitais, faltarão leitos e atendimento para quem realmente necessite. E, estas doenças, que já matavam, matarão ainda mais.
Para evitar a falência dos serviços médicos e a impossibilidade de atender a todos, aconselham quarentena domiciliar.Muitos poderão trabalhar remotamente e se dedicar a outros afazeres. Aproveitem o período para curtir a intimidade, ler, ver filmes, jogar, brincar, conversar, que o tempo passará mais leve. O importante é que cada um de nós faça sua parte para evitar o agravamento da crise. Eu, pelo menos, já estou recolhida em casa há uma semana, trabalhando, pondo em dia a leitura e a escrita.