Os materiais que transformaram a vida do colombiano Juan Pablo Martinez Quimara
o chegar no Brasil, há 8 anos, o artesão transformou sua capacidade e talento em mobiliários industriais, revestimentos e soluções para arquitetos
Trabalhar com arte sempre foi a paixão de Juan Pablo Martinez Quimara (39 anos). Mas o que começou pela arte da gastronomia, se transformou em uma grande admiração pelas artes da madeira, bambu e aço.
Colombiano, natural de Pereira, Juan passou alguns anos na Espanha, quando estudou Gastronomia e trabalhou em diversos locais industriais, como a BMW. Ao retornar para a Colômbia, descobriu o mundo do artesanato com madeira.
“Comecei a perceber que eu tinha capacidades diferenciadas para trabalhar com madeira e aço. Todo o tipo de material que eu pegava nas mãos conseguia transformar em produtos”, narra Juan.
O seu talento transformou-se em profissão, pois os produtos tornaram-se comerciais quando o colombiano percebeu que conseguia reproduzi-los em quantidade e com qualidade. Dessa forma, Juan enxergou uma possibilidade de comércio e suas criações se tornaram ainda mais apaixonantes, mais elaboradas e aprimoradas.
Solteiro e sem filhos, Juan fez amizade com um brasileiro na Colômbia, que lhe convidou para abrir um negócio, em parceria, no Brasil.
“Montamos um ateliê. Algum tempo depois, meu parceiro saiu do negócio e eu fiquei sozinho no empreendimento. E até hoje está dando muito certo. Deixei a Gastronomia para um lado mais privado da minha vida e submergi mais nas áreas das artes”, relata o artesão.
Juan Pablo possui uma empresa chamada Clorofila Studio (@clorofila_studio), que fornece produtos para a arquitetura, como estruturas de aço com cobertura de vidro e forro de bambu, considerado o seu carro-chefe no mercado. Atualmente, também fabrica mobiliários industriais, revestimentos e soluções para arquitetos.
“A arte faz parte das ciências humanas. Nela, você encontra uma sensibilidade diferente para entender o mundo, os materiais, os processos físicos, mecânicos, entre outros. Quando você tem essa sensibilidade, esse talento, não pode fugir de virar um profissional dessa área”, explica.
Estabelecido no Brasil desde 2015, Juan Pablo descobriu o Prêmio Brasília de Artesanato pela rede social Instagram. Providenciou a sua carteira de artesão e a inscrição para o concurso, e passou a utilizar o tempo para desenvolver a peça que desejava com o intuito de testar suas capacidades.
“O projeto que criei é uma mesa luminária, de serralheria, com tampo de compensado revestido de bambu, com haste de sucupira e madeira reaproveitada. Ela tem uma cabeça inspirada em uma retroiluminação que tem nas luminárias da Terceira Ponte, da Ponte JK, em que a luz é projetada desde uma fonte de LED contra um disco que reflete a luz para o ambiente”, ilustra o colombiano.
Desde 2016, sua fixação por criar luminárias o fez produzir mais de 30 peças de formatos diferentes. Por isso, Juan Pablo decidiu criar um produto que tinha total domínio, manejo e que acreditava conseguir um resultado excelente. Focado no projeto, o artesão não tinha como mostrar a ideia para outras pessoas o ajudarem, pois o concurso qualifica acabamento, proporção, resistência, tipos de materiais e projeção cultural. Para o colombiano, apenas uma pessoa que tem capacidade e conhecimento consegue executar um produto assim.
“Embora eu seja um artesão de muitos tipos de materiais, também sou um empreendedor, tenho visão de negócio. Quando a minha arte começou a ter retorno econômico e aceitação no mercado, pensei: ‘é isso mesmo que vou fazer’. E consegui ter uma solidez econômica”, explica Juan Pablo.
Para o colombiano, quando um artesão faz seu trabalho, ele se torna a obra de um artista. Hoje, com 39 anos, Juan percebeu que consegue atender todo o tipo de público e de mercado, por isso o desejo de permanecer nessa profissão.
“Eu gosto muito do que faço. Todo dia tem um projeto diferente, e eu domino bastante essa área. Descobri que além de ser artesão, sou também um empreendedor. Ao ver tudo dar certo, fiquei ainda mais empolgado para continuar”, celebra.
Ao ser premiado na edição de 2022 do Prêmio Brasília de Artesanato, Juan ficou muito emocionado. Sua peça campeã foi inspirada na capital do país, que traz inspiração por suas linhas curvas e retas nas suas construções modernas, na natureza do cerrado que envolve todo seu contorno e no ar limpo junto com sua cultura e gastronomia.
“Não há como esconder a gratidão. Eu lembro que, quando recebi o prêmio, estava um pouco agitado pela emoção. Eu sentei na cadeira e comecei a chorar porque lembrei de tanta vontade que eu coloquei neste projeto, de todas as experiências que eu já vivi no Brasil. Cheguei aqui com uma mala e três cuecas, há oito anos, e hoje tenho uma empresa sólida, com funcionários, logística automotiva e outra capacidade de trabalho. Me transformei totalmente. Senti que o prêmio foi um reconhecimento de todo o esforço nesses anos de luta e de trabalho”, avalia Juan.
Com o prêmio, Juan Pablo aprendeu que pode almejar voos maiores como artista e artesão, e que os limites não podem impedir a realização dos sonhos. Com trabalho e foco, é possível conseguir resultados vencedores.
“Eu iniciei o projeto e pensei: “vou criar uma peça para ganhar”. Não é possível que, com toda essa trajetória, talento e conhecimento eu faça um projeto só para participar. Quando recebi o prêmio, percebi que estava certo desde o início. Isso me deu muita coragem para enfrentar novos desafios, não só no artesanato, mas na vida no geral. Foi enriquecedor demais”, comenta.
Para o futuro, Juan Pablo deseja ficar em Brasília e continuar trabalhando e buscando mais conhecimento no mundo das artes. O artesão reforça que quem deseja seguir nesse caminho deve participar do Prêmio Brasília de Artesanato, pois acredita ser uma forma de avaliar até onde se pode chegar como profissional.
“É uma forma de você avaliar seus conhecimentos e capacidades, mas de uma forma séria, pensando que existem outros profissionais de grande patamar. Que você vai concorrer diante deles e eles diante de você. Você tem que fazer o melhor. É uma escolha de coragem mesmo”, finaliza Juan Pablo.