Empreendedora se inspira em bioma do Cerrado para confeccionar cadernos
Caroline Rodrigues encontrou sua fonte de inspiração ao trabalhar no herbário de botânica da Universidade de Brasília (UnB)
Quando jovens, sonhamos em desbravar o mundo. Sentimos aquele desejo de podermos ser tudo o que quisermos e somos motivados constantemente pelos programas de TV, jornais, revistas, internet, entre outros meios. Ao mesmo tempo, quando nos perdemos em meio a tanta informação e não sabemos o que estamos buscando, logo o pensamento aparece: “será que eu sonho em ser algo?”.
Era assim que Caroline Moreira dos Reis Rodrigues se sentia quando criança. A brasiliense, de 26 anos, assim como a maioria das crianças, também se viu confusa em querer ser tudo.
“Nunca tive uma profissão que eu parava e pensava em querer ser aquilo. Me sentia diferente das outras crianças que fazem e sabem desde pequenas o que querem ser”, conta Caroline.
Foi o seu amor pelas criações manuais, como desenhar e costurar roupas para as bonecas, que fez despertar a vontade de colocar em prática aquilo que era uma paixão.
“Sempre gostei de customizar meus cadernos. Desde pequena, inventava capas diferentes para eles. Fui fazendo cadernos bem simples, com folhas e papéis bonitos que encontrava. Gostava de rabiscar e escrever, em caderninhos mais simples, grampeados mesmo”, relata.
Ao ingressar no curso de Agronomia na Universidade de Brasília (UnB), Caroline conheceu a encadernação artesanal. E foi enquanto cursava a disciplina de Botânica, onde o professor desenvolveu um livro de botânica com alguns alunos, que ela aprendeu e buscou novas formas de produzir cadernos.
“Acredito que a ideia surgiu do curso que eu fazia. Estagiava no herbário de botânica da Universidade de Brasília e aquilo me inspirou muito. Amava ver aquelas plantas, todas sequinhas. No início, a ideia era pegar plantas do cerrado e fazer os cadernos com a identificação de cada uma”, declara Caroline.
Pelo perfil do Sebrae no DF no Instagram, a artesã descobriu o Prêmio Brasília de Manualistas. Assim que percebeu que seu trabalho se adequava aos requisitos solicitados, Caroline se inscreveu e passou a desenvolver o seu projeto: um caderno estampado com plantas do cerrado.
A vencedora do Prêmio Brasília de Manualistas de 2022 abriu a empresa Sabiê em 2016. Foi então que ela começou a desenvolver cadernos que destacam plantas do cerrado. O objetivo inicial do projeto era divulgar as plantas do bioma, pois percebeu que, assim como ela, as pessoas naturais de Brasília e que viviam no cerrado, não estavam familiarizadas com as plantas típicas da região.
“Tive essa percepção quando comecei a estudar botânica. O cerrado é muito rico e diverso. A população do Distrito Federal conhece pouco a nossa natureza. A gente só valoriza aquilo que vê, que conhece”, descreve.
Caroline desejava divulgar mais sobre a flora do cerrado, como as árvores, arbustos, herbáceas, plantas medicinais, entre outras. Com isso, nasceram os cadernos estampados do cerrado. Na produção, a artesã utiliza papelão especial para a encadernação manual, folhas de papel especial e plantas do cerrado que precisam ficar na prensa secando durante, aproximadamente, um mês. Tudo isso cortado e costurado à mão, seguindo as técnicas da encadernação manual.
A microempreendedora criou o projeto sozinha e, emocionada, conta que ter sido escolhida para a etapa final do prêmio foi uma comoção imensa.
“Tenho a Sabiê há muito tempo. É difícil demais empreender do zero, ainda mais em um ramo que não é tão comum, conhecido e valorizado como a encadernação manual. Muita gente diz se surpreender com meus cadernos, que nunca viram algo assim. É bem trabalhoso, fazer do zero, sem maquinários”, expõe Caroline.
Como microempreendedora, a vencedora do Prêmio Brasília de Manualistas de 2022 viu um filme passar pela sua cabeça.
“É intenso empreender sem recursos. Pensei em desistir mil vezes. Sempre acreditei em algo e fui fazendo as coisas de pouco em pouco. Cada coleção que lancei tinha muita coisa por trás. Mas quando a gente faz o que acredita, há uma motivação diferente”, retrata Caroline.
Enxergar que o seu trabalho realmente tem potencial e emociona as pessoas foi um dos principais reconhecimentos que a artesã gostou de receber. Com esse tipo de oportunidade, foi possível reconhecer como o trabalho manual tem valor no mundo.
“Prêmios como este do Sebrae tem um impacto gigante para os manualistas. A gente percebe que realmente tem alguém olhando pela nossa categoria agora”, expressa.
Caroline lança todo ano uma coleção nova de cadernos sobre o cerrado. Por ser um bioma muito importante para o Brasil e para a conservação da natureza do país, seu objetivo é seguir apresentando essa relevância em suas criações. Como inspiração para outras pessoas, a proprietária da Sabiê aconselha a seguir com a vontade de trabalhar com algo que realmente emociona e faz sentido para quem está realizando.
“Trabalhar com manualidades e artesanato não é um caminho fácil. As pessoas não reconhecem, dizem para a gente procurar trabalhos mais comuns. Eu acredito que temos que seguir naquilo que faz sentido para a gente. As recompensas vão surgindo aos poucos! Para mim, ter um caderno diferente, onde a gente pode dedicar um tempo inventando algo, escrevendo, desenhando, é totalmente inspirador. É como ter um espaço onde podemos descarregar sentimentos e ideias”, finaliza Caroline.
Histórias e vivências como a de Caroline mostram que há espaço para todo tipo de arte e de que sonhos se tornam realidade. Em junho, o Sebrae no DF abriu as inscrições para duas premiações que buscam reconhecer e valorizar o trabalho artesanal e manual: o 2˚ Prêmio Brasília de Manualistas e a 3ª Edição do Prêmio Brasília de Artesanato. Os prêmios visam incentivar a confecção de produtos artesanais de qualidade e destacar a criatividade e habilidade dos artesãos locais.
A iniciativa faz parte da atuação do Sebrae no DF que contribui diretamente no desenvolvimento e fomento do setor de artesanato e trabalhos manuais. Para participar do 2º Prêmio Brasília de Manualistas, o proponente deverá apresentar um produto já elaborado, testado no comércio local e que traduza a sua experiência e capacidade de produção. Os trabalhos serão avaliados em categoria única. Os interessados também devem possuir a Carteira do Trabalhador Manual, emitida pela Secretaria de Estado de Turismo do Distrito Federal, no prazo de validade e ter um CNPJ, incluindo os portes empresariais de Microempreendedor Individual (MEI), Microempresários (ME) e Empresas de Pequeno Porte (EPP).
Já o 3º Prêmio Brasília de Artesanato, cujo objetivo é enaltecer e premiar os artesãos do Distrito Federal, promovendo o desenvolvimento do setor de artesanato em Brasília, avaliará os trabalhos em quatro categorias: mestre artesão, artesão, artesão iniciante e artesão contemporâneo. Este concurso é uma oportunidade única para os artesãos mostrarem seu talento e criatividade, além de receberem reconhecimento e visibilidade. Podem participar da premiação os artesãos que possuírem a Carteira Nacional do Artesanato, válida no Distrito Federal.
As inscrições para ambos os prêmios terminam em 20 de agosto. Os três primeiros colocados, além da participação no catálogo e receberem um certificado, também serão premiados com uma quantia em dinheiro, que varia de R$4 mil a R$10 mil reais. Os links para as inscrições nos prêmios estão listados abaixo:
Serviço
2˚ Prêmio Brasília de Manualistas
https://premiobrasiliamanualistas.com.br/
3ª Edição do Prêmio Brasília de Artesanato