Renault Megane E-Tech: o presente representando bem o passado

Após um hiato, o modelo volta ao Brasil como um crossover elétrico que esbanja ousadia visual e tecnológica, mas com um preço…

São Paulo (SP) – Em 1998, a Renault apresentou no Brasil uma nova geração de veículos com o Megane. O modelo, lançado em 1996 na França, chegou ao país importado da Argentina nas versões hatch e sedã médios e como a minivan Scénic (que logo parou de usar o pré-nome da família), produzida localmente, inaugurando a planta de São José dos Pinhais, no Paraná.

Com a segunda, e mais famosa, geração do modelo – apresentada mundialmente em 2003 e que chegou por aqui três anos depois com produção local –, a Renault tirou de linha a versão hatch e apresentou uma nova, a station wagon, que tinha como “sobrenome” Grand Tour e que fez muito sucesso na década passada.

Em 2008, a Renault lançou a quinta variação de carroceria do Megane no Brasil, a Coupé Cabriolet. Ela foi a que menos ficou por aqui, sendo aposentada em 2010 junto com o sedã. A perua ainda foi vendida até 2012, quando, no auge de vendas, “premeditou” a derrocada da categoria, ao ser descontinuada para abrir espaço para o novato SUV compacto Duster na planta paranaense e, assim, finalizar a história do francês no mercado brasileiro.

Agora, 11 anos depois, o francês retorna ao Brasil na quinta geração e como um Crossover (fusão de vários estilos) elétrico. Fomos até São Paulo ver de perto como é a sexta variação do modelo a desembarcar por aqui. Totalmente eletrificado, o Megane E-Tech tem um visual bem futurista, uma lista de equipamentos interessante e parte de salgados R$ 279.900.

À francesa

O visual é ousado, tanto dianteiro quanto traseiro.

Sem contar o Zoe, que teve uma passagem relâmpago por aqui, o último modelo da Renault com “DNA” francês de verdade foi o Clio, que aposentou em 2016. Mesmo antes da aposentadoria do pequeno, a marca apostava em veículos oriundos de outros países, como Romênia (famílias Sandero e Duster), Índia (Kwid) e Rússia (Fluence e o nosso Captur).

Com o Megane, a marca volta a contar com um legítimo francês por aqui, inclusive produzido por lá. Dessa forma, o visual é ousado como os compatriotas costumam ser. Pois, se tem uma coisa que não faltou a Renault na hora de desenvolver o crossover elétrico, foi ousadia. Visualmente falando, ele chamará muita atenção na rua.

O Megane E-Tech inaugura o novo logo da Renault.

A marca aproveitou a novidade para inaugurar alguns elementos. Da plataforma ao logo, passando pelo visual, batizado pela francesa de “sensual tech”, há muitos pontos inéditos. De linhas fluídas, a dianteira do crossover chama a atenção pelo para-choque volumoso e pelo conjunto óptico muito bem desenhado. 

O capô é levemente inclinado para frente, o que reforça o ar esportivo, assim como as colunas B e C em preto brilhante. O spoiler traseiro, a antena tipo barbatana de tubarão e as maçanetas embutidas dão um charme a mais ao modelo. A traseira mantém o estilo elegante, com black piano no para-choque e um filete luminoso que liga as lanternas.

O interior também tem um toque de modernidade.

O interior tem um ar de “esperava mais”, mesmo com as linhas modernas. O conjunto de telas batizado de “OpenR” chama bastante atenção, com destaque para o painel de instrumentos gigante, de 12,3 polegadas e configurável. Já a central multimídia, poderia ser maior, tem apenas nove polegadas e fica meio perdida no painel do carro. 

Uma ausência da cabine é de um teto solar, que o modelo não conta. Mas a luz ambiente eleva o padrão do interior, assim como a cobertura das peças do painel e das portas, em um misto de tecido e couro sintético, segundo a montadora, reciclados. O espaço interno é bom, leva quatro adultos com conforto e o porta-malas conta com 440 litros. 

Quase um 10

Entre os itens de destaque, a câmera traseira com imagem projetada no retrovisor.

Por pouco a lista de equipamentos não tira um 10. Bem completa, ela vem com o OpenR, iluminação ambiente, chave sensorial tipo cartão, ar-condicionado digital, dual zone e com saída para a traseira, volante e retrovisores com aquecimento, carregamento e conexão sem fio via Android Auto e Apple CarPlay e quatro portas USB-C.

Na parte da segurança, ele vem com alerta de saída e assistente de manutenção de faixa, monitoramento de pontos cegos, piloto automático adaptativo com stop&go, alertas de tráfego cruzado traseiro com frenagem automática em marcha a ré e de abertura de porta, faróis full LED adaptativos em LED e sensores de estacionamento dianteiro e traseiro.

A central multimídia deveria ser maior.

Ele conta ainda com sistema de câmeras “Smart Rear View Mirror” para o retrovisor interno e a de marcha ré, sete airbags, auxiliar de partida em rampa, controles de tração e estabilidade, detector de fadiga, reconhecimento de placas de velocidade e sensores crepuscular e de chuva.

O crossover só não gabaritou porque, para um carro de R$ 280 mil, mesmo eletrificado, faltaram ajustes elétricos para os bancos dianteiros, no mínimo para o do motorista, teto solar, porta-malas de abertura elétrica e, de preferência, com acionamento “sem as mãos” e a tela da central multimídia ser maior.

Energético

Os 220 cavalos elétricos respodem bem.

Outra novidade do Megane é que ele inaugura a plataforma CMF-EV, pensada para ser elétrica. Com isso, há um equilíbrio ainda maior na construção do veículo. O conjunto de bateria mede apenas 110mm de espessura, melhorando o centro de gravidade do crossover, que em veículos elétricos já são naturalmente bons.

Assim, as tomadas de curvas ficam mais otimizadas, principalmente em relação ao porte do carro, que pode passar a impressão de ser um “trambolho”, mas está longe disso. Mesmo em alta velocidade, o volante está sempre “na mão” do motorista, em momento algum, há a mínima percepção de perda de controle do veículo.

O Megane apresenta uma condução dinâmica e até divertida.

Com 60kWh de capacidade, a bateria alimenta o motor elétrico que gera 220 cavalos e 30,6kgfm de torque. Com isso, o crossover alcança o 100km/h em 7,4 segundos e tem velocidade máxima limitada eletronicamente em 160km/h. Quatro modos de condução (Eco, Confort, Sport e Perso) auxiliam o motorista na condução do modelo. 

No primeiro contato com Megane podemos ver que, como em qualquer elétrico, a aceleração dele é instantânea. O diferencial para este tipo de modelo são as retomadas, que no francês não é excepcional, mas está longe de fazer feio também. Ele responde bem aos comandos do acelerador, deixando a direção divertida. 

O motorista tem sempre o volante “a mão”.

Outro ponto interessante do Megane é o sistema de um pedal – quando ativado faz com que, ao aliviar o pé do acelerador, o carro comece a frear –, que conta com níveis diferentes de sensibilidade, controlados por uma espécie de borboleta no volante, fazendo que ele fique mais ou menos ativo e ajude na recuperação de energia para as baterias. 

Como foi apenas um primeiro contato com o Megane E-Tech, não foi possível mensurar precisamente a autonomia das baterias. Ao fim da nossa rápida avaliação, ele apontava no painel 72% de bateria com 245 quilômetros de autonomia, sendo que boa parte do teste foi feito em rodovias, o que gera um “consumo” maior. Ou seja, ele ficou dentro do padrão do Inmetro, que aponta 337 quilômetros totais com uma carga.

A recarga

Recarga de 15 a 80% em pontos de 130kW em apenas 36 minutos.

Segundo a Renault, para recarregar as baterias, a marca afirma que pode ser utilizado qualquer sistema, desde um de 130kW, como o de carregadores rápidos de rodovias, a uma tomada doméstica de 10A/2,2kW monofásica. No super rápido, ele vai de 15% a 80% da carga em 36 minutos, um em um Wallbox de 22kW, leva 1h50 para ganhar a mesma carga.

Aqui, outro porém, de série, o Megane traz cabo Modo 3 para recarga em terminais públicos ou privados, que é apenas um cabo. Para uma recarga em domicílio em uma tomada tradicional, é oferecido como acessório o flexicharger compatível com o modelo. Além disso, apenas os 100 primeiros compradores têm direito a um Wallbox, os demais terão que comprar separadamente.

A opinião do Diário Motor

Renault Megane E-Tech.

O retorno do Megane ao Brasil como modelo E-Tech mostra que a marca deveria apostar mais em modelos verdadeiramente franceses por aqui. Mesmo sem olhar o lado elétrico dele, o refino (tanto no visual, quanto no acabamento), a lista de equipamentos (mesmo sem o 10), a dirigibilidade e até a ousadia do design, mostram que ele é muito superior aos romenos e russos que a Renault insiste em produzir por aqui.

Se o preço não é tão chamativo quanto o resto do veículo – afinal são R$ 280 mil em modelo que tem uma concorrência pesada –, a ousadia, principalmente visual e o equilíbrio do crossover, que une boas tecnologias a um conjunto mecânico elétrico ajustado, faz com que o Megane seja uma boa opção para quem procura um modelo deste porte. Vale a compra! Nota: 8.5.

Ficha técnica

Motor: elétrico

Potência máxima: 220cv 

Torque máximo: 30,6kgfm 

Transmissão: automática 

Direção: elétrica

Freios: a disco nas quatro rodas

Autonomia: 337 quilômetros (padrão Inmetro)

Porta-malas: 440 litros

Dimensões (A x L x C x EE): 1.519 x 1.768 x 4.200 x 2.680mm  

Valor: R$ 279.900

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*Viagem a convinte da Renault