Fiat Titano Ranch, faltou a excelência da marca vista em Toro e Strada
Testamos a versão topo de linha da picape média, que nem de longe tem a mesma qualidade das irmãs menores
A Fiat no Brasil, ainda é a única montadora com representante entre as picapes compactas, com a líder Strada, e intermediárias, com a Toro, manda-chuva no seu segmento. Ambas são produtos totalmente consolidados e de grande sucesso por aqui. Não à toa, as duas são as que mais vendem entre todas as caminhonetes no mercado brasileiro.
Apesar do sucesso arrebatador de Strada e Toro, a categoria dos “ovos de ouro” das picapes é a de média. Para se ter uma ideia, enquanto as compactas contam com duas representantes e as intermediárias com cinco, as médias têm oito modelos disputando espaço na garagem de um criterioso cliente.
Sendo assim, a Fiat era uma das únicas grandes marcas a não ter uma representante entre as médias, o que era de se estranhar, visto o sucesso de Strada e Toro. A marca resolveu entrar na briga, mas em vez de criar um produto novo, com todo seu know-how, usou a Peugeot Landtrek, que é um projeto realizado em conjunto com a chinesa Changan.
A ideia até se mostrava interessante, usar um produto pronto e que ainda não estava no Brasil. Mas a Titano, principalmente na sua versão topo de linha, a Ranch, o nosso “Teste da Vez”, se mostra bem abaixo das irmãs e um “tiro n’água” da Fiat.
Precificação
Um ponto interessante é que, do lançamento até agora, a Fiat não subiu um centavo no preço da Titano. A topo de linha Ranch sai por R$ 259.990, o mesmo de quando foi apresentada em março. Com isso, ela segue o padrão visto há quase sete meses, com equipamentos de intermediárias, mas preço de versão de entrada das concorrentes.
Pegando apenas o top3 das mais vendidas, a Chevrolet S10 inicia em R$ 254.990 na versão WT, a próxima, a Z71, já pula para R$ 288.990. A primeira versão automática da Ford Ranger é a XLS, que já começa em R$ 264.490. A opção de entrada da Toyota Hilux, a STD Power Pack inicia em R$ 251.390 e a configuração seguinte, a SR, já bate R$ 277.890.
Complexidade
Como falamos, a Titano nada mais é do que a Peugeot Landtrek com o símbolo da Fiat. E se tem algo que a francesa sempre acertou muito em seus carros, é o design. Com a picape não é diferente. A italiana alterou apenas os nomes e logos, de resto, é tudo igual, do para-choque dianteiro ao traseiro, passando pela grade, luz de circulação diurna, estribos laterais, tudo.
Claro que visual é questão de gosto, mas sobre o externo da Titano, não há do que reclamar. Já o interno! A cabine também é idêntica ao da Landtrek, o problema é que ela lembra mais um veículo chinês dos anos 2010 do que um Peugeot. O interior é bem mais pobre do que estamos acostumados a ver nos veículos da francesa.
Os materiais têm um aspecto inferior, de baixa qualidade, até mesmo em relação a modelos de entrada da Fiat. Não é só o plástico duro tradicional de picapes, mas o acabamento é meio grosseiro e de aparência frágil, o que não combina com a robustez de uma caminhonete.
Há rebarbas por todos os lados, como no porta-copos da saída do ar-condicionado. Sem falar em peças mal encaixadas, botões sem função, até as “teclas de piano” – um clássico de modelos da Peugeot presente na Titano – e a alavanca do câmbio têm aparência frágil, com um ar de se forçar, ou aperto com muita força, quebra.
Um ponto positivo é a saída de ar para a traseira. Outro detalhe interessante são os bancos de trás bipartidos e que levantam o assento, revelando mais um porta-objetos. O espaço, principalmente o lateral, é bom, dá para ir três adultos sem aperto. Em compensação, as pernas ficam muito elevadas, o joelho fica para cima de forma desconfortável.
Ainda sobre capacidade, mas de carga, a caçamba conta com protetor e capota marítima de série, algo raro em qualquer picape média. Como de costume da categoria, leva um pouco mais de uma tonelada de peso (1.020kg, mais precisamente). Ela ainda conta com santo antônio, rack de teto, estribos tipo plataforma série. Ela ainda vem com rodas de liga leve de 18 polegadas e pneus 265/60 de uso misto.
Nível de Intermediária
Como falamos na parte dos preços, a Titano, principalmente na sua versão topo de linha, compete, na questão de equipamentos, com as configurações intermediárias das demais picapes disponíveis no Brasil. Tudo que ela conta é de série, a única opção são as cores, que podem ser sólidas ou metálicas.
De série, a Ranch vem com ar-condicionado dual zone e saída para a traseira, porta luvas refrigerado, chave sensorial com partida por botão, assoalho em carpete, luz de caçamba, volante multifuncional com ajustes de altura e profundidade, bancos em couro com ajustes elétricos para os dianteiros, navegação embarcada.
Um ponto que deixa a desejar, é justamente algo no qual a Fiat manda bem nos outros veículos, as telas. A do painel de instrumentos quase não dá para considerar, de tão pequena, a da Strada é bem melhor. A de central multimídia, até tem 10 polegadas, mas muita borda, visualização ruim e conexão com smartphones via Android Auto e Apple CarPlay apenas por cabo, deveria ser sem fio.
Na parte da segurança, seis airbags, piloto automático, auxiliares de partida e descida em rampa, assistente de reboque, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, de chuva e crepuscular, aviso de saída de faixa, rebatimento automático dos retrovisores, faróis, lanternas e luz de circulação diurna em LED, monitoramento de pressão dos pneus e câmera 360º, o único diferencial da lista.
Pior deslize
O conjunto mecânico é o grande calcanhar de aquiles da Titano. O propulsor 2.2 turbo diesel gera míseros 180 cavalos (são apenas 10 a mais que a irmã menor Toro), sem falar no torque baixíssimo, o pior entre as médias, de apenas 40,7kgfm. Direção hidráulica, transmissão automática de seis velocidades e sistema tração 4×4, completam o conjunto.
Mas você, caro leitor, pode nos questionar que, por ser uma picape, a potência da Titano não chega a ser um problema. E concordamos, se não fosse a dificuldade que ela tem para realizar manobras simples. Ela lembra muito as caminhonetes de 10, 15 anos atrás, onde tudo tinha que ser feito no tempo dela, não do motorista.
Mesmo se pisar fundo no acelerador, ela não dispara pelo asfalto, pelo contrário, dá para perceber com clareza a fusão de atrasos naturais do câmbio automático e do motor turbo diesel, o que dificulta na hora de realizar uma ultrapassagem ou saídas e retomadas de velocidades, claramente falta fôlego e, nessas horas, o motorista precisa de cuidado redobrado.
No entanto, a força do motor, ou falta dele, não chega nem perto de irritar como o sistema de suspensão. Aqui ela se parece ainda mais com picapes de uma década atrás. Tudo bem que os asfaltos Brasil afora não ajudam, mas ela simplesmente não absorve bem as imperfeições do solo, mesmo em pavimentação novíssima, ela sacoleja sem parar.
Rodamos com a Titano em vias que o asfalto tinha acabado de ser refeito, como novo, brilhando em preto petróleo. Mesmo assim, a picape balançava como se estivesse passando por muitas ondulações. Agora, se o sacolejo sem fim incomoda o motorista, imagina para os demais passageiros, principalmente os do banco traseiro.
O excesso de quique é tão grande, que há momentos no qual você vai olhar para o retrovisor e ele está simplesmente balançando. Sem falar no incômodo que gera para todos a bordo. Qualquer distância um pouco mais longa, deixa a viagem super cansativa, desconfortável e, sem falar, bastante irritante.
No habitat
Nas “primeiras impressões” do lançamento da picape, apontamos que havia um item muito bom no conjunto mecânico da Titano, a tração 4×4. Apesar de muito bom, o conjunto não é tão bom a ponto de neutralizar as demais partes ruins da motorização da picape.
O sacolejo visto no asfalto, diminuiu muito na terra, também graças aos pneus de uso misto. Um ponto positivo é que, em momento algum, ela passa a sensação de perder a traseira, mesmo em vias com muita areia ou cascalho solto. Além disso, em uma estrada de terra normal, nem precisa ativar o 4×4 e, mesmo com ele desativado, os controles atuam bem.
Como de costume para carros 4×4, levamos a Titano em uma trilha de nível elevado, repleto de valas, cascalho solto, subidas e descidas íngremes. Nessas horas, ela atua muito bem e o conjunto trabalha de forma assertiva, distribuindo a força de forma primorosa para cada roda, para que, mesmo em obstáculos mais difíceis, supere com tranquilidade.
Para encarar desafios mais ariscos, a Titano conta com números de capacidade que a auxiliam muito. Ela conta com 235mm de vão livre de solo, 29º de ângulo de entrada e 27ª de saída. Apenas os 600mm de capacidade de imersão ficaram aquém do esperado. Além disso tudo, a câmera 360º ajuda a observar a área em volta, otimizando a segurança no off-road.
A opinião do Diário Motor
Hoje em dia, principalmente entre as versões topo de linha, o cliente de picape média não quer mais um produto simples. A caminhonete precisa sim ser robusta, mas com um certo requinte e com qualidade em todos os parâmetros. Um grande porém da Titano é a aparência frágil da cabine, de quê se forçar um pouco, as peças quebrarão!
Mas o verdadeiro problema é o conjunto mecânico, enquanto o motor é fraco e demanda muita atenção do motorista ao realizar qualquer manobra, a suspensão é sofrível. Qualquer viagem é muito desconfortável. O excesso de quique, mesmo em asfalto liso, incomoda e irrita muito. Um raro ponto positivo é o eficiente sistema 4×4. Se você for andar muito no fora de estrada, ele pode salvar a Titano. Mas ainda assim, não vale a compra! Nota: 3,5.
Ficha Técnica
Motor: 2.2 diesel
Potência máxima: 180cv
Torque máximo: 40,7kgfm
Transmissão: automática de seis velocidades
Direção: hidráulica
Suspensão: independente na dianteira e eixo rígido com feixe de molas na traseira
Freios: a disco na dianteira e tambor na traseira
Capacidade de carga: 1.020kg
Dimensões (A x L x C x EE): 1.898 x 2.221 x 5.330 x 3.180mm
Preço: R$ 259.990