Crise de identidade, Fiat Toro Ultra e seu ‘porta-malas’ não fazem sentido
Testamos a versão topo de linha da picape que conta com capota rígida trancável, mas que teria mais nexo nas versões urbanas da italiana
Em 2019, a Fiat apresentou o primeiro facelift para a Toro. A atualização visual da picape foi bem discreta, até porque, o estilo da italiana agradou o público brasileiro desde o primeiro momento. Há época, a grande novidade seria um modelo quase conceito, batizado de Ultra.
Junto com o lançamento da linha 2020, a marca mostrou um modelo com capota rígida totalmente diferente do comum em picapes, que, à primeira vista, funcionaria como uma espécie de porta-malas para a caminhonete. Batizada de Ultra, a versão chegou ao mercado no fim de 2019 como opção topo de linha.
Para o segundo facelift da picape – este bem mais profundo, apresentado em abril deste ano –, a Fiat manteve a Ultra e seu “Dynamic Cover” como opção topo de linha, alinhado com o consagrado conjunto mecânico com motor turbo diesel, câmbio automático de nove velocidades e tração 4×4. Ela é o nosso “Teste da Vez”.
Carro no Brasil está caro e, com a Toro, não é diferente. A Ultra parte de salgados R$ 203.890. Um dos diferenciais dela é que não há pacotes extras. Apenas a pintura pode ser alterada, como a da unidade que testamos, que acrescenta R$ 2,5 mil no valor da picape.
Sem sentido
Como falamos, o Dynamic Cover funciona como uma espécie de porta-malas, pois, além de ser rígido, conta com amortecedores para movimentação e tranca e deixa, a já elegante picape, ainda mais bela visualmente. Mas na prática, não se mostra tão útil assim, principalmente se falando de um veículo com pegada off-road como uma caminhonete.
A primeira questão é que, apenas olhando para a caçamba, o Dynamic Cover aparenta ser capaz de resolver um problema que todo picapeiro passa, o de água e poeira no compartimento de carga. Mas mesmo com um isolamento maior, o sistema não impede a entrada de líquido e de pó. Até por isso, a marca disponibiliza a Cargo Bag de série.
A bolsa de viagem sim permite alocar objetos, não muito grandes, com segurança e protegido de intempéries. Na hora de levar qualquer carga maior, se passar da altura da caçamba, não é possível levar nada na Toro Ultra por causa da “tampa”, o que, como falamos, perde um pouco da ideia de uma picape, principalmente uma 4×4.
Talvez, se a Fiat tivesse investido a ideia nas versões flex (agora com motorização turbo) da Toro, a Ultra poderia ter uma vantagem maior, com apelo urbano. Já que realmente funcionaria como um porta-malas, podendo trancar e, com o auxílio da Cargo Bag, proteger cargas pequenas levadas no dia a dia, como compras de mercados e shoppings.
Ainda melhor
Desde sua primeira aparição, ainda como conceito, durante o Salão do Automóvel de São Paulo de 2014, a Toro sempre chamou a atenção pelo visual, sabemos que gosto é algo pessoal, mas o estilo da picape é praticamente uma unanimidade. No último facelift, a Fiat foi além e conseguiu melhorar o que já era bom.
Uma das principais modificações foi estilos diferentes para as versões. Assim, a Ultra tem um visual dianteiro próprio, com uma grade frontal imponente toda em preto, assim como o airbump no para-choque. O acabamento escuro também é visto no logo, rodas, estribos e rack de teto. O santo-antônio também é diferenciado, por causa do Dynamic Cover.
Por dentro, as mudanças são tão impressionantes quanto na dianteira. A picape ganhou uma cabine quase toda nova. Destaques para as telas digitais, a gigante na vertical da central multimídia e a do painel de instrumentos. Os bancos contam com detalhes em vermelho (também vistos nas portas) e o nome Ultra bordado e o acabamento é todo em preto também.
Como de costume, os materiais são bem empregados, não há rebarbas ou peças mal encaixadas. O espaço interno é bom e leva quatro adultos com extremo conforto, um quinto sempre gera apertos desnecessários. O maior deslize do interior da picape é a falta de uma saída de ar para o banco traseiro, que pelo menos conta com uma porta USB e uma tomada 12V.
Recheada
Falando nos equipamentos, a Fiat melhorou ainda mais a já completa lista da Toro, principalmente na topo de linha. Além das telas de 10 e sete polegadas, ela vem com ar-condicionado dual zone, carregamento e conexão sem fio para smartphones, bancos em couro e do motorista com ajuste elétrico e chave sensorial para abertura das portas e partida do motor.
Na parte da segurança, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, crepuscular e de chuva, câmera de ré, auxiliares de partida e descida em rampa, monitoramento de pressão dos pneus, retrovisor eletrocrômico, faróis full LED, sete airbags, controles de tração e estabilidade, piloto automático (mas que não é adaptativo) e sistema ADAS que engloba frenagem autônoma, comutação automática do farol alto e assistente de permanência em faixa.
Terra e asfalto
Durante nosso teste, rodamos quase mil quilômetros com a Toro Ultra, boa parte deles em rodovias, mas também na cidade e no fora de estrada. Uma das vantagens do novo painel de instrumentos são as funcionalidades, uma delas é o histórico de consumo que mostra os últimos cinco trechos de 20 quilômetros cada, o que auxilia o motorista a ter uma melhor condução.
Falando de consumo, no geral, contando todos os tipos de terreno que rodamos, a Toro fez bons 10,8km/h. Mas pelo histórico, teve momentos de 13,3km/l. Ou seja, é possível otimizar a condução para ter um gasto de diesel ainda melhor.
O motor 2.0 turbo diesel de 170 cavalos e 35,7kgfm de torque já é velho conhecido. Na estrada, aliado com o câmbio automático de nove velocidades e direção elétrica, deixa a condução da picape segura. Todas as manobras são feitas sem maiores problemas, mesmo com quatro adultos mais bagagem.
De ultrapassagens à retomada de velocidade, passando pelas saídas, o motor responde prontamente – sempre tem aquele pequeno delay clássico de propulsores diesel e câmbios automáticos, mas nada que atrapalhe – basta pisar no acelerador que a picape dispara pelo asfalto sem maiores problemas.
Como não sofreu alterações no conjunto mecânico e o sistema 4×4 permanece o mesmo, a Ultra mantém a qualidade da Toro no fora de estrada. É até um pouco melhor, já que ela vem com pneus AT de uso misto de série, o que ajuda bastante na hora de desbravar vias sem asfalto.
Na hora de encarar pistas com cascalhos soltos, valas, descidas íngremes, basta ativar os modos 4×4 ou 4×4 com reduzidas por meio de botões no painel, que ficaram ainda mais práticos. A única coisa que falta para a Toro é o seletor de terreno, como nos primos da Jeep, o Renegade e o Compass. Mas mesmo assim ela não se atrapalha na hora do off-road.
A Opinião do Diário Motor
A Toro, como um todo, é um excelente carro, principalmente nas versões diesel. O grande porém da Ultra é conceitual. A ideia parece boa, criar uma proteção maior para a caçamba, mas que impede de levar coisas grandes, o que “derruba por terra” a ideia de se ter uma picape, principalmente uma 4×4.
No geral, a Ultra é bem equipada, anda bem, tem visual agradável – tanto interno quanto externo – mas não funciona dentro do conceito de picape.
É um veículo muito caro para rodar apenas na cidade (as opções turboflex são melhores neste caso) e se perde, por exemplo, na hora de ir para o sítio levando qualquer “tralha” (aqui a Ranch faz melhor essa função).
Dessa forma, apesar de ser um excelente veículo, conceitualmente falando, a Ultra não vale a pena. Ela cairia muito melhor como opção topo de linha das versões flex (#ficaadicafiat). Dessa forma, apenas por isso, apesar de merecer uma nota alta pelo conjunto da obra, ela não merece a compra! Nota: 8.
Ficha Técnica
Motor: 2.0
Potência máxima: 170cv
Torque máximo: 35,7kgfm
Direção: elétrica
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: a disco nas quatro rodas
Capacidade de carga: 1t
Dimensões (A x L x C x EE): 1.741 x 1.844 x 4.945 x 2.990mm
Preço: a partir de R$ 203.890