BYD, maior fabricante de elétricos do mundo, aposta no Brasil
Conversamos com Henrique Antunes, diretor de vendas da chinesa e que fala dos planos da marca para o país
Há cerca de 10 anos, o público brasilero presenciou um êxodo de montadoras chinesas no Brasil. Na época, o foco era o grande varejo, com promessas de modelos baratos e completos. No entanto, as marcas enfrentaram – com certa razão – duras críticas aos veículos, principalmente pela qualidade.
Com o tempo, vimos que as críticas não eram de todas erradas e pouquíssimas marcas chinesas ainda se mantêm no Brasil, casos da Chery em parceria com a Caoa, e da Jac, sob insistência de seu importador, o empresário Sergio Habib. Agora, uma nova empresa “surge no horizonte” e chega disposta a enfrentar de igual para igual gigantes mundiais, estamos falando da BYD (leia-se bi-uai-di).
Talvez você já tenha visto, lido ou ouvido algo a respeito da marca, principalmente nos últimos meses. Desde que decidiu entrar no mercado de veículos leves no Brasil no início deste ano – a marca já atua no segmento de ônibus e outras divisões, sempre com foco na eletricidade –, ela apresentou dois modelos e confirmou que serão abertas 45 concessionárias pelo país.
Conversamos com Henrique Antunes, diretor de vendas da BYD do Brasil sobre o que a marca planeja para o mercado brasileiro, como deve atuar por aqui, a questão do preconceito do público com montadoras chinesas, a segmentação de mercado dentro dos veículos eletrificados e muito mais.
De acordo com o executivo, a BYD começou como uma empresa focada em áreas de trabalho, como negócios em ônibus, empilhadeira e energia solar. O carro era algo embrionário dentro da marca, que surgiu com mais força em 2015, mas também voltado para o trabalho. Dessa forma, surgiram na China modelos para táxi, patrulha e furgões.
“Em 2017 tomamos a decisão de internacionalizar os produtos para competir no mercado geral. Para isso, formamos um departamento de design e trouxemos grandes medalhões da indústria, como Wolfgang Egger (ex-Audi) nosso design de exteriores e Michele Paganet (ex-Mercedes-Benz) nosso design de interiores. Com isso, começamos a repaginar a linha para competir no mercado internacional. Em 2018 sai o primeiro produto, que é a primeira geração do Tan, com a nova versão sendo o primogênito no Brasil e que também está indo para outros mercados, como Austrália e Noruega.”
Para o Brasil, Antunes afirma que a marca atuará em duas frentes, o mercado de luxo e o premium de volume. Segundo ele, os modelos 100% elétricos (como os dois já lançados) focarão nos rivais de luxo, tanto a combustão, quanto eletrificados, e os híbridos serão os “carros-chefe” da marca quanto ao volume de vendas.
“No segmento premium, de luxo, já tem a equiparação de preço de um modelo elétrico para um a combustão, então, você consegue competir em parâmetros de igualdade. Este tipo de cliente é muito mais adequado para o carro 100% elétrico porque ele roda distâncias menores, dificilmente ele utilizará o veículo para uma viagem de mil quilômetros, por exemplo. Para este público, na questão de infraestrutura, o carregador mais importante é o residencial, porque ele não roda 400 quilômetros em um dia, basta carregar o carro em casa mesmo.”
“O mercado de volume tem nos híbridos uma ponte para chegar no 100% elétrico. Para que as pessoas desenvolvam a sua cultura de utilização do carro eletrificado. Esse público tem no modelo de R$ 200 mil a R$ 300 mil o melhor carro da casa, para um uso total. Ele vai para o trabalho, para a praia a mil quilômetros, neste aspecto, o híbrido é bem importante. Mas mesmo assim, 70% do uso desse carro será na cidade, rodando trinta quilômetros por dia, apenas no modo elétrico. Com isso, o motorista vai se acostumando a rodar só na bateria. Ai, na experiência híbrida desse cliente, ele buscará um de maior autonomia elétrica e na terceira compra partirá para o 100% elétrico.”
Segundo ele, dois segmentos crescerão no Brasil, o elétrico de luxo, mais caro, que cria uma espécie de guarda-chuva posicionando a marca junto às concorrentes e os premium híbridos, de maior volume. “Os modelos de alto valor agregado criam uma espécie de guarda-chuva para a marca, como uma empresa que entrega produtos premium. Eles dão o “now-how” para os híbridos, que atendem um público diferente, mas de grande demanda”.
Os dois primeiros modelos da marca disponíveis no Brasil, o Tan e o Han EV apontam para esse lado luxuoso que a BYD também focará por aqui. No entanto, eles podem esbarrar em um certo preconceito do público pela marca ser chinesa, pegando como experiência o que ocorreu com outras montadoras que desembarcaram por aqui, com produtos nada confiáveis em sua maioria. Antunes afirma que o momento é outro e que os produtos chineses evoluíram muito nos últimos 10, 12 anos.
“Tem dois momentos diferentes da China, ela evolui muito rápido e achou um nicho para liderar o mercado, que é o de eletrificados (híbridos plug-in e 100% elétricos). A tecnologia que existe na China, seja na bateria ou no powertrain, é de ponta. As baterias, quase que na totalidade, vêm de lá. Assim, você tem a China oferecendo produtos mais maduros, em alinhamento com mercado global. A BYD mesmo, conta com diversos profissionais internacionais, são caras de mercado, profissionais que colocam o produto em um patamar mais alto.”
“A grande diferença das marcas que vieram há 10 anos é que elas desembarcaram por aqui por meio de importadores, o que é diferente quando é a própria montadora atuando, vide a evolução da Chery quando se aliou a Caoa e passou a atuar com postura de fabricante. Hoje o chinês não mira apenas o volume, mas também a qualidade. Eu vejo sim que enfrentaremos muita dificuldade por causa desse ‘ranço’ lá de trás. Porém, a indústria chinesa como um todo está mais preparada para aguentar essa porrada. Para absorver isso, oferecendo um produto realmente premium e não só se dizer premium.”
O diretor de vendas da BYD afirma ainda que todos os chineses, hoje, estão mais preparados para oferecerem produtos de maior qualidade e se posicionarem em segmentos superiores, além do de entrada, que é o mais barato, mas um degrau acima. “Nós mesmos, o mercado está apontando que, com o Tan, vamos concorrer com o Audi X, o Mercedes-Benz Y, o que não esperávamos quando decidimos trazer o SUV para o Brasil”.
O executivo afirma que essa percepção aumentará com a inauguração das 45 concessionárias previstas para iniciarem a operação até o fim do ano. Sendo 15 grupos diferentes que cobrirão 12 capitais mais o Distrito Federal, além de pontos no interior dos estados.
“Esses quinze grupos até o final de 2022 abrirão, em média, mais duas lojas cada uma no interior de seus estados ou em estados vizinhos. Com isso, atingiremos o número de quarenta e cinco concessionárias, cobrindo grande parte do país. Todos os estados do Sul e do Sudeste, Goiânia e Brasília, Nordeste com Salvador, Recife e Fortaleza e Manaus como um polo no norte, terão pontos da BYD. Manaus pra gente é mais do que tudo estratégico, por causa da nossa fábrica de baterias.”
Falando das plantas da marca, a chinesa já conta com três polos industriais no Brasil em outras áreas, como a de ônibus, de baterias e de placas fotovoltaicas. Segundo Antunes, uma fábrica de automóveis está no radar da montadora, mas ainda sem prazo ou local para ser implantada.
“A BYD tem, por DNA, ter fábrica, adoramos fábricas. Somos uma empresa chinesa que tem plantas ao redor do mundo, tem aqui, tem nos Estados Unidos, por todo lugar, e ainda não temos uma, fora da China, de automóveis, porque começamos o projeto de volume internacional agora. Atingindo os objetivos que estamos traçando, temos alguns alvos de curto e médio prazo já definidos, é muito claro para gente que teremos que trazer a produção de alguns modelos para o Brasil, principalmente os modelos de volume, faz todo sentido para nós, é bom para a empresa, para o país, para todos.”
Por fim, o diretor de vendas da BYD no Brasil confirma que, após os dois modelos 100% elétricos já lançados, será a vez dos modelos híbridos desembarcarem por aqui, já no segundo semestre deste ano e que os modelos estão na fase de homologação.
“Os híbridos serão nosso principal balizador da linha do tempo que estamos planejando para a marca aqui no Brasil. Mas o fluxo de homologação de um híbrido é mais demorado do que de um 100% elétrico. Por exemplo, começamos ambos ao mesmo tempo, e os elétricos já foram lançados, sem falar dos que ainda não lançamos e já estão homologados. Até por isso os híbridos ainda não foram apresentados, mas eles já estão rodando pelo país e, assim que terminar essa fase burocrática, serão lançados no mercado, o que deve ocorrer no segundo semestre deste ano.