Walmar, o Baianinho do Iate, louco por Brasília, foge à mesmice sobre a capital
Elmo Serejo acatou sua sugestão, fã de automobilismo, para construir o autódromo de Brasília
Nascido em Livramento, no sertão da Bahia, Walmar Montenegro Matos enfrentou oito dias de viagem dentro de um caminhão até chegar em Brasília, no dia 8 de dezembro de 1960. O Baianinho, como ficou conhecido, conta que acreditou na saga da construção e na coragem de Juscelino Kubitschek ao propor a interiorização do Brasil. “Ele fez o que fez contra tudo e contra todos”, resume.
Walmar Montenegro Matos, o Baianinho, integra a série OS SESSENTA DE BRASÍLIA, que registra a vida e a experiência de brasileiros, alguns ilustres, outros desconhecidos, todos absolutamente fundamentais na construção da História da cidade que hoje proporciona a melhor qualidade de vida do País. É a declaração de amor da equipe do Diário do Poder a Brasília.
Aos 76 anos, o professor de Geografia aposentado relembra histórias que, segundo ele, fogem às mesmices do que contam sobre a capital. Apaixonado por automobilismo, Baianinho conta o dia em que teve uma conversa com o então governador Elmo Serejo sobre os “pegas” que ocorriam pelas madrugadas na nova capital. “Ele falou sobre as coisas boas que estava fazendo na saúde e educação, mas reclamou do que chamou de juventude transviada. Eu o informei que organizava as corridas e que Brasília precisava urgentemente de um autódromo. E assim foi feito”.
Os 1.000 km de Brasília, corrida que era disputada entre os dias 20 e 21 de abril em alusão ao aniversário da cidade, desperta saudades em Baianinho. Além de ser um dos organizadores, ele também era o chefe da pista – posto que tem orgulho em relatar. “O chefe de pista é responsável por evitar acidentes logo após um acidente. É ele quem coloca a bandeira amarela e limita a velocidade em pontos de perigo no circuito. Brasília poderia viver de automobilismo. Sempre teve vocação para isso”, afirma, relembrando nomes que disputavam a prova como Nelson Piquet, Roberto Pupo Moreno e Emerson Fittipaldi.
A consolidação de Brasília como capital da República também foi tema da conversa. Na avaliação de Baianinho, Brasília só é Brasília porque os presidentes militares “a bancaram”. “O presidente Castelo Branco teve compromisso com o DF. Existia um medo coletivo de Brasília não dar certo e alguns setores pressionavam para que a capital voltasse a ser o Rio de Janeiro. A revolução consolidou Brasília”, diz.
Apaixonado por Brasília, Baianinho se irrita quando ouve alguma pessoa chamar o DF de “quadradinho” e esbraveja: “O que existe é um quadrilátero. O quadrilátero Cruls, em homenagem ao belga Luís Cruls que demarcou o que viria a ser a nova capital”. Ainda para ele, reclamar que Brasília não tem esquinas é apenas ignorância.
“Se quer ver esquina, vai para outra cidade. Brasília não foi pensada para ter esquinas. As coisas são assim”, sentencia.
Um capítulo à parte na vida de Baianinho é o Iate Clube de Brasília, local sempre escolhido para receber amigos. Sócio do clube há 43 anos, ele faz questão de lembrar uma frase de JK sobre o local: “O Iate é, de muito, a sala de visita da nova metrópole”. Com 150.000 m² de área, o Iate é um dos locais mais badalados de Brasília até hoje. “Somos uns 17 mil sócios. Desses, quase 4 mil sócios proprietários. Temos quase todas as modalidades de esportes e oferecemos uma vida social intensa”, conta, cumprimentando pelo nome cada pessoa que se aproximava da mesa em que concedia entrevista.
Ao olhar para trás, relembrar tantas histórias e momentos da vida, Baianinho conta o que sempre o impressionou em Brasília: qualidade de vida e poder aquisitivo. Segundo ele, sempre houve o que fazer na capital. “Alguns dizem que Brasília não tem muito o que fazer. Estão errados. Eu vivo aqui há tanto tempo e sempre tive o que fazer. A cidade é pulsante e entrega muito a quem quer conhecê-la”, finaliza.