Mineração danosa

Vereador diz que renuncia, se Braskem continuar em bairros que afundam em Maceió

Presidente de comissão de inquérito denuncia que problema adoece moradores

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Vereador Francisco Sales na audiência sobre o Pinheiro no Senado. Foto: Divulgação

O presidente da Comissão Especial de Inquérito (CEI) que apura o afundamento no bairro do Pinheiro na Câmara de Maceió (AL), vereador Francisco Sales (PPL), prometeu renunciar ao mandato, se a Braskem continuar extraindo sal-gema nas áreas de risco que afundaram 40 centímetros em dois anos, na capital alagoana. A declaração foi dada ontem (21) em Brasília (DF), durante audiência no Senado, após o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) apresentar dados atualizados de seus estudos, indicando que as áreas atingidas pelo fenômeno geológicos foram ampliadas para todo o Pinheiro e parte do Mutange e Bebedouro. Áreas que margeiam a Lagoa Mundaú, onde a mineradora concentra mais de 30 poços de extração, sendo quatro deles ainda ativos.

Ao afirmar que pede há um ano que a Braskem suspenda de forma preventiva todas as atividades na região, o vereador disse que as autoridades reunidas na audiência presidida pelo senador Rodrigo Cunha (PSDB-AL) na Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor do Senado (CTFC), não poderiam perder essa luta, nem deixar que o pessimismo atrapalhe esse trabalho. Mas disse estar tão cansado quanto a população, depois de chamar a Agência Nacional de Mineração (ANM) de inoperante e narrar ter escutado de moradores que “políticos não resolvem nada”.

“Gostaria muito que a Braskem não tivesse nada a ver com isso, até por sua participação econômica, pela quantidade de empregos que gera. Se fosse um gramado de futebol, já tinham interrompido as atividades esportivas. E como as explorações continuam [no Mutange] com o solo danificado? Famílias estão deixando suas casas que lutaram anos para conquistar. São quatro poços 24 horas no ar. Parece que, depois disso tudo, estão trabalhando a todo vapor. Se a ANM ou a CPRM disserem que a Braskem pode continuar operando naquela região dos bairros do Pinheiro, Bebedouro e Mutange, senador Rodrigo Cunha, renuncio o meu mandato. Porque vou saber que estou totalmente errado e não tenho condições de representar os maceioenses. Venho da iniciativa privada, não tenho apego a cargo público nenhum”, disse o vereador.

A fala do vereador ao final da audiência é resultado da apresentação do geólogo Thales Sampaio, que coordena os estudos da CPRM em Maceió e mostrou em um mapa de riscos atualizado que o problema não está concentrado apenas no bairro do Pinheiro. Francisco Sales lembrou das visitas realizadas pelo grupo de vereadores aos imóveis localizados em Bebedouro e Mutange, que sofrem gradativamente com as rachaduras.

“A Escola Bom Conselho [em Bebedouro] foi 100% interditada e agora aqueles alunos não sabem para onde vão. Todos estão com medos de ficar fora das salas de aulas e não sabemos o que responder. Não quero jamais acusar a empresa como única causadora de todo o problema, mas ficou demonstrado aqui que o solo está danificado e cada dia a situação está ficando pior. Precisamos agir agora para depois não lamentar uma tragédia”, afirmou o vereador.

Assista ao desabafo do vereador:

Braskem diz que ajuda autoridades

Apontada desde janeiro pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) como responsável pelas rachaduras ampliadas há um ano por dois tremores de terra, a Braskem levou representantes à audiência, para explicar que os procedimentos adotados nas atividades de mineração seguem padrões internacionais e afirmar que há controle de segurança das suas operações.

A mineradora subsidiária da Odebrecht ressaltou que presta apoio às autoridades públicas, como a Defesa Civil, a ANM, o Serviço Geológico do Brasil e o Ministério de Minas e Energia, realizando estudos para ajudar a determinar as causas do evento que afeta o bairro do Pinheiro.

“Esses trabalhos englobam a avaliação dos poços no terreno localizado no bairro do Pinheiro, onde a Braskem não possui mais nenhuma operação em atividade, além do apoio às investigações na geologia do bairro. A empresa tem estabelecido canais de comunicação com a comunidade, com a imprensa e com outras entidades da sociedade civil organizada. A Braskem reafirma seu compromisso com a segurança, a sustentabilidade e com uma atuação empresarial responsável e reitera sua posição de continuar colaborando com os órgãos públicos competentes na elucidação das causas e de ser parte da solução do problema”, disse a empresa.

Além da atuação da Braskem, há suspeitas de que o Estado e o Município tenham contribuído com falhas no saneamento e drenagem nas áreas afetadas.

Na próxima quinta (28), às 9h, será realizada a uma audiência pública dobre o problema, na Câmara de Vereadores de Maceió, proposta pelo vereador Cléber Costa (PP).

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