Trabalho premiado da Ufal mostra como o coronavírus danifica células
Pesquisa aponta danos a funções e morfologia dos glóbulos vermelhos
Um trabalho desenvolvido na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) ganhou o prêmio de Menção Honrosa na 35ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), realizado em formato virtual, de 8 a 11 de setembro. O trabalho premiado tem título em tradução livre Covid-19 é uma doença que pode alterar a função e a morfologia de eritrócitos e foi apresentado pelo aluno do Programa de Pós-graduação em Química e Biotecnologia (PPGQB) da Ufal, Marcos Vinícius Sales.
Os pesquisadores se aprofundaram, especificamente nesse trabalho, para analisar os eritrócitos, conhecidos como glóbulos vermelhos do sangue, que são responsáveis por carregar o oxigênio para todo o organismo. Eles chegaram a seguinte conclusão: “É válido afirmar que o vírus, de alguma forma, leva a danos estruturais, funcionais e morfológicos para eritrócitos, que talvez seja um dos fatores que agravam os problemas respiratórios, que é a manifestação mais pronunciada em pacientes com covid-19”.
O estudo mostrado no evento é fruto de um projeto realizado com pacientes do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HU) da Ufal. Por meio de amostras de sangue coletadas, um grupo de pesquisadores investigou os vários parâmetros de prognóstico para a covid-19, e assim, tenta prever o que leva um paciente ao desfecho de óbito e, outro, de ter alta.
A professora Ana Catarina Leite, orientadora de Marcos Vinícius, conta que uma equipe inteira esteve meses dedicada à pesquisa, mas, especialmente Marcos, enfrentou vários desafios, incluindo o deslocamento para o Laboratório de Bioenergética. Ele precisou morar na casa da orientadora, que buscava o aluno na cidade de Pilar toda segunda-feira e deixava de volta na casa dos pais na sexta-feira. O esforço tem rendido muito mais do que reconhecimento. É motivação.
“Eu sei o quanto é difícil ganhar um prêmio, nunca ganhei quando era estudante, então, quando os meus alunos ganham, eu fico extremamente feliz e realizada. Estamos no caminho certo. A motivação é sempre continuar. O nosso sobrenome deveria ser ‘resiliência’ porque ser pesquisador no Brasil tem sido isso”, reforçou Ana Catarina.
Sobre a pesquisa
A pesquisa iniciou em abril do ano passado, logo no início da pandemia, e coletou sangue dos pacientes que deram entrada no Setor de Covid-19 do HU, mediante autorização da família para o estudo.
A coleta das amostras dos pacientes terminou no último mês de agosto e a equipe trabalhou com o vírus inativado, para bloquear sua replicação dentro das células. Os pesquisadores utilizaram diferentes técnicas e abordagens, o que levou a três artigos que serão submetidos a periódicos científicos. De acordo com a professora Ana Catarina, algumas amostras ainda foram congeladas para que outros estudos sejam feitos, mas todos os ensaios já foram realizados.
São quatro unidades acadêmicas envolvidas no projeto que contou com financiamento da Ufal, por meio do Ministério da Educação. Participam os professores Ana Catarina Leite, Thiago Aquino e Josué Carinhanha, do Instituto de Química e Biotecnologia (IQB); Alexandre Borbely e Emiliano Barreto, do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS); Thiago Sotero e Jorge Coelho, da Faculdade de Medicina (Famed); e os docentes Uéslen Rocha, Samuel Souza e Eduardo Fonseca, do Instituto de Física (IF). Também estão engajados com as pesquisas alguns alunos de pós-doc, doutorado, mestrado e iniciação científica.
O prêmio e o incentivo
A 35ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), teve como tema A Ciência que Resiste, e contou com a participação de 24 sociedades associadas.
Foram 213 resumos de trabalhos aceitos, 27 simpósios, três conferências, duas sessões de vídeo-pôster e 10 cursos. A sessão de premiação concedeu duas medalhas de Serviço à Ciência, 22 Menções Honrosas e homenageou um professor de ciências do ensino básico.
O anúncio do trabalho entre os destaques do evento emocionou os envolvidos. “Eu não sabia nem como reagir, só chorei quando vi que meu nome e o de todos estavam lá como ganhadores. É muito gratificante receber um prêmio como esse, em um congresso nacional tão importante na nossa área. Valida todo o esforço que nós, do grupo, tivemos com essa pesquisa”, disse Marcos, ainda emocionado.
O entusiamo dessa conquista foi contagiante. E quando cientista se destaca, ganha a sociedade. “Marcos me ligou chorando, todos ficaram muito felizes, principalmente nós que somos da área, que sabemos a importância da Fesbe. É bom para todo mundo! Saber que na Ufal, numa pandemia, com coisas incertas, não nos deixamos abater e fomos ajudar a sociedade da nossa forma: pesquisando”, contou Ana Catarina, e destacou: “Pode demorar, mas sempre vem o reconhecimento”. (Com informações da Ascom Ufal)