Renan Filho relança programa criado há seis anos, dizendo ser ‘pioneiro no Nordeste’

Exaltado como “divisor de águas” na saúde pública de Alagoas pelo governador Renan Filho (MDB), o programa Remédio em Casa, lançado na última sexta-feira (30) como “pioneiro no Nordeste” foi uma ideia criada em 2013 pelo então governador Teotonio Vilela Filho (PSDB). A velha iniciativa do ex-gestor tucano, tratada agora como invenção recente, avançou até o atual governo, entregando remédios mensalmente nas residências de 600 alagoanos, pelo menos até 2017.

Em vez de admitir que resolveu ampliar ou reformular a boa ideia de seu antecessor, o governador Renan Filho travestiu-se de vanguardista, rebatizando o programa que o secretário de Saúde Alexandre Ayres disse ter começado “a discutir a possibilidade de criar”, ao assumir a pasta, em fevereiro deste ano. O discurso segue a retórica do governador, que a legislação eleitoral adiou a concretização, em 2018, da ideia que ele diz ter nascido em seu governo.

“Esse é um programa que a gente tinha pensado há um tempo atrás, de maneira diferente. Depois estava chegando o ano eleitoral e terminamos não lançando. Mas o Alexandre, quando assumiu a secretaria, resgatou a ideia, aprimorou, melhorou o programa do ponto de vista técnicos das entregas. E está hoje lançando o programa que será, sem dúvida, um divisor de águas do Estado de Alagoas”, disse Renan Filho, em seu discurso no evento que lançou o Remédio em Casa.

A promessa do governador é de, em até quatro meses, ampliar para 8 mil alagoanos o antigo serviço já operado pelo seu próprio governo, desde seu primeiro mandato. Há 1,5 mil usuários cadastrados atualmente. Mas a Secretaria da Saúde de Alagoas (Sesau) não respondeu ao Diário do Poder se o atual governo extinguiu Farmácia Cidadã e porque o Remédio em Casa foi tratado como pioneiro no Nordeste.

“Se funcionar, será um programa referência em Alagoas. O cidadão vai, e talvez alguns pela primeira vez, perceber que agora o Estado busca caminhos novos para cumprir o seu objetivo. Eu digo sempre que, para resolver problema antigo, a gente precisa criar solução nova. A solução velha, ela não deu certo. Então, repetir a solução velha é chegar de novo no mesmo lugar: Vai dar errado novamente”, sentenciou o próprio Renan Filho, ao relançar o programa.

O governador luta desde seu primeiro mandato contra um problema crônico de desabastecimento em hospitais alagoanos. E já teve sua gestão alvo da Polícia Federal, na Operação Correlatos, que investiga desde 2017 fraudes na compra de R$ 180 milhões em medicamentos.

Segundo nota publicada pela própria Sesau em 28 de abril de 2017, o Farmácia Cidadã fazia entrega em domicílio de medicamentos por meio de uma unidade móvel, contando com uma equipe multidisciplinar, com um farmacêutico, assistente social e motoboy, para atender os 600 pacientes por mês, visitados por técnicos e aconselhados sobre a importância de seguir tratamento à risca, para evitar complicações.

“Este programa que lançamos hoje vai humanizar o atendimento e melhorar a vida das pessoas que, comprovadamente, possuem dificuldades de vir até a Farmex [Componente Especializado da Assistência Farmacêutica]buscar os remédios”, afirmou o então governador Téo Vilela, ao lançar o Farmácia Cidadã em 15 de agosto de 2013.

Renan Filho produziu um vídeo como se fosse a primeira entrega do programa tratado como “pioneiro no Nordeste”. Nele, a usuária de insulina, dona Rosineide agradece por ser contemplada e evidencia a falta de novidade na ação, ao citar que o programa “melhorou muito”.

A verdade é que Edvania dos Santos foi a primeira alagoana contemplada pela ação, em 2013, quando recebeu do ex-governador tucano o medicamento Lamotrigina para o filho Jéferson Patrick, que tem epilepsia. Na entrega na mesma residência, Edjane dos Santos, tia do garoto, também recebeu a medicação Betaferon, para esclerose múltipla.