Carro de família fuzilado

Presos no Rio militares suspeitos de envolvimento em morte de músico

Foram constatadas inconsistências entre os fatos inicialmente reportados pelos militares e as informações que chegaram posteriormente ao Exército

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Luciana Nogueira, viúva de Evaldo Santos Rosa, fala com a imprensa no IML. Foto: Reprodução/RJTV

O Exército determinou hoje (8), no Rio de Janeiro, a prisão de dez dos 12 militares que estavam na guarnição envolvida em disparos contra um carro ontem na zona oeste do Rio, que terminou com um morto e dois feridos. O automóvel foi alvejado com ao menos 80 tiros.

Segundo o Comando Militar do Leste (CML), eles foram presos em flagrante por descumprimento das regras de engajamento.

De acordo com o CML, foram constatadas inconsistências entre os fatos inicialmente reportados pelos militares envolvidos e as informações que chegaram posteriormente ao Exército.

As prisões foram determinadas depois de depoimentos dos militares envolvidos no episódio à Delegacia de Polícia Judiciária Militar e ao Ministério Público Militar.

Inicialmente, o CML informou que a guarnição circulava pelo bairro de Guadalupe quando se deparou com um assalto e foi atacada por criminosos. E que, por causa disso, atirou contra os assaltantes. Segundo essa primeira nota divulgada na tarde de ontem pelo Exército, o homem que morreu e o que ficou ferido eram assaltantes.

Uma terceira pessoa, um pedestre, foi atingido durante o tiroteio, segundo ainda a primeira nota do Exército.

A Polícia Civil, no entanto, depois de fazer uma perícia no local, informou que não havia assaltantes no carro e que as duas vítimas eram integrantes de uma família que estava no veículo. O homem que morreu foi identificado como Evaldo dos Santos Rosa e o ferido que estava no carro seria seu sogro. Evaldo tinha 51 anos e era músico.

Além deles, estavam no carro a mulher de Evaldo e uma criança, que não ficaram feridas.

De acordo com a última nota divulgada pelo CML, os militares presos estão à disposição da Justiça Militar, que realizará a audiência de custódia e decidirá se manterá ou não a prisão.

“O Exército Brasileiro reitera seu estrito compromisso com a transparência e com os parâmetros legais impostos pelo Estado de Direito ao uso legítimo da força por seus membros, repudiando veementemente excessos ou abusos que venham a ser cometidos quando do exercício das suas atividades”, finaliza a nota.

IML

A viúva de Evaldo Rosa, ficou emocionada depois de comparecer ao Instituto Médico Legal para reconhecer o corpo do marido.

“O meu filho estava no carro, viu tudo. Ele quer a foto do pai. Eu falei que o pai está no hospital. Por que o quartel fez isso? Os vizinhos começaram a socorrer, mas eles continuaram atirando. E falei: ‘moço, socorre o meu esposo’. Eles não fizeram nada e ficaram de deboche“, disse Luciana Nogueira, emocionada.

Luciana contou que estavam indo para um chá de bebê, e que pegaram aquele caminho próximo ao quartel porque se sentiam seguros. “Eu falei: ali é calmo, ali é nossa área. E eu vi o quartel. Tava protegida, da mesma forma que, quando eu vejo um policial, eu me sinto protegida”, relatou.

Ela comentou um pouco mais sobre o marido, que além de ser músico, trabalhava como segurança em uma creche.

“Eu perdi meu melhor amigo. Eu estava com ele há 27 anos. Adorava música, um homem caseiro, trabalhador. Cuidava de mim como ninguém. Meu deus, meu deus”, repetia ela.

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