Verão sem censura

Prefeitura de São Paulo promete festival com peças censuradas no governo Bolsonaro

Gestão de Covas nega antagonismo a Bolsonaro, e justifica festival como valorização da cultura

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O prefeito Bruno Covas, do PSDB, se define como um radical de centro. E o responsável por trazer o pêndulo para a esquerda quando o tucano inclina para a direita é o secretário de Cultura, Alê Youssef, que ocupa o cargo desde janeiro deste ano, e promoverá um festival cultural com espetáculos censurados no Brasil governador pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Na arena cultural, a divergência do gestão de Covas com o governo Bolsonaro tem sido franca, com Youssef na linha de frente. No começo de 2020, ganhará corpo a medida mais radical nesse front.

O festival Verão Sem Censura em São Paulo acolherá, segundo o secretário, todas as peças de teatro que foram e venham a ser censuradas no país. Ele diz que será uma resistência pró-ativa aos ataques que a classe artística tem recebido do governo federal e de instituições a ele vinculadas, como a Funarte e a Caixa Cultural.

“Uma resistência que absorve o valor, que luta pelo valor mais importante da cultura, que é a liberdade de expressão”, diz o secretário à Folha. “Nós vamos fazer isso não como uma medida de antagonismo ao governo federal, mas de valorização da nossa cultura.”

Na sexta-feira (11), foi feito um primeiro teste para esse festival anticensura. Vetada pela diretoria da Funarte, a peça “Res Publica 2023”, do coletivo A Motosserra Perfumada, abriu temporada no Centro Cultural São Paulo, o CCSP, a convite da prefeitura.

Conhecido por sua trajetória como produtor cultural, Youssef critica o que vê como atitudes de “criminalização do artista” por parte de Bolsonaro. Para ele, São Paulo está se consolidando como um “oásis cultural”, exercendo sua vocação antiobscurantista.

“Há uma incompreensão sobre a identidade do Brasil. Se você por exemplo critica o Carnaval, está criticando um símbolo de identidade nacional, que é parte da cultura. Se você não homenageia o João Gilberto quando ele morre, da maneira que era merecido, está afrontando um ícone de identidade nacional.”

Projetando as eleições de 2020, Covas acredita ter em Youssef um trunfo para atrair eleitores de esquerda. O secretário desconversa ao falar de corrida eleitoral, diz que seu partido é o da cultura e até critica o que o PT se tornou.

No entanto, sua trajetória política mais próxima da centro-esquerda é suficiente para que antagonistas o considerem quase um bolchevique – Youssef foi coordenador da Juventude na administração municipal da petista Marta Suplicy (2001-2004) e ex-chefe de gabinete de Soninha (então no PT, hoje no Cidadania) na Câmara dos Vereadores, entre 2005 e 2006.

“Teve mudança enorme em relação à gestão João Doria. A nomeação do Youssef representou uma guinada da gestão para a esquerda. Com isso, Bruno Covas se tornou um estelionatário eleitoral”, diz o vereador Fernando Holiday (DEM), membro do MBL, que chama Youssef de “radical do PSOL”.

Youssef tem atuação que exalta eventos ao ar livre e a arte de rua. Mas é alvo de ataques à sua gestão por problemas no Theatro Municipal. O espaço administrado pelo instituto Odeon teve as contas rejeitadas e servidores responsáveis pela ação foram demitidos. Youssef promete mudar o modelo de administração do espaço, hoje tido por ele como frágil.

Como pontos positivos, Bonduki destaca a promoção da Virada Cultural, do Carnaval de rua e da Jornada do Patrimônio. Sobre críticas, diz que a pasta deveria ouvir as queixas de grupos da periferia de que a programação cultural tem ficado presa ao centro.

PEÇAS QUE FORAM CENSURADAS

‘Abrazo’
O espetáculo da companhia Clowns de Shakespeare foi cancelado após estrear na Caixa Cultural do Recife, em setembro 

‘Gritos’
O espetáculo, que tem uma travesti entre seus personagens, seria apresentado na Caixa Cultural de Brasília, mas foi suspenso

‘Caranguejo Overdrive’
O espetáculo havia sido programado pelo Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro. Produtores dizem que não houve justificativa para o cancelamento

‘Res Publica 2023’
A peça foi vetada pelo próprio diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, Roberto Alvim, e acabou estreando no CCSP. (Com informações da Folhapress)

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