Racismo ou politica?

Pré-candidato a reitor da Ufal vê armação da esquerda em acusação de ‘racismo’

Eleitor de Jair Bolsonaro, o professor Alexandre Toledo foi atacado em sala de aula

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Professor da Ufal Alexandre Toledo foi acusado de racismo pelo aluno André Maia. Fotos: Facebook

A pré-campanha eleitoral para os cargos de reitor e vice-reitor e a batalha política entre militantes de esquerda e de direita na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) viraram pano de fundo para uma acusação de injúria racial atribuída ao professor Alexandre Toledo do curso de Arquitetura, denunciado pelo estudante André da Silva Maia. O acusador afirma ter sido discriminado enquanto aluno afrodescendente, quando o professor explicava a diferença entre o pensamento religioso e o científico.

O professor afirmou ao Diário do Poder que o aluno teria aproveitado a oportunidade do tema da aula para atacá-lo, porque ele é um dos poucos professores do curso a ter feito campanha para a eleição do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e seria perseguido pela maioria de professores e estudantes militantes de esquerda na Ufal, em suposto um complô para caluniá-lo e tentar inviabilizar sua eleição para reitor.

Alexandre Toledo diz que até via com naturalidade os embates criados nas aulas de sua disciplina de Formação do Pensamento Científico por um grupo de alunos que “resistia em aceitar a existência da liberdade de pensamento no meio acadêmico”. Mas vê a necessidade e buscar justiça contra difamadores e caluniadores, por ver que foi extrapolada tal resistência.

“Na verdade, é uma grande armação dos alunos ligados ao Centro Acadêmico, afiliados a uma instituição Afronte Nacional, ligada à esquerda, principalmente ao PSOL. É esse grupo político que faz a maior algazarra hoje na Ufal, porque tem o apoio da reitora [Valéria Correia]. O aluno chegou na aula como um franco atirador. Usei um livro espírita para comparar o pensamento religioso com o científico. E as palavras são dele, o aluno que veio distorcer o que eu estava dizendo, para reforçar a ideia, uma armadilha para esse factoide, de dizer que eu estava afirmando que as raças da África seriam inferiores. E não falo nem de brancos ou negros ”, disse Toledo.

A acusação

O fato gerador da denúncia foi uma aula em 14 de maio, quando Alexandre Toledo expôs como exemplo de teoria não científica o livro Os Exilados da Capela. Segundo nota de repúdio do Centro Acadêmico, endossada pelo Conselho da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, a polêmica ocorreu quando o professor explicou que a tese não científica do livro diz que o Norte da Terra foi povoado por seres “intelectualmente capazes” expulsos do planeta Capela, enquanto seres “racionalmente inferiores” ocuparam a África, teoria interpretada como “muito conveniente” ao discurso de ódio contra negros.

Segundo a acusação veiculada na nota, o professor teria apontado para o aluno negro, elogiando-o como muito inteligente e teria sugerido que a tese do livro diria que o aluno teria evoluído até a universidade por causa de processo de miscigenação.

Para o site Tribuna Hoje, o estudante André da Silva Maia afirmou que o discurso do professor dentro da sala de aula teria sido racista. “Ele apontou para mim, que sou negro, e disse que talvez a teoria estivesse errada, porque havia na sala um estudante, André, muito inteligente. Porém ele falou que era importante não esquecer de todo processo de miscigenação que eu passei para estar ali. Indicando que minha capacidade intelectual estava atrelada a pessoas brancas que passaram pela minha família durante toda a história, o que considerei um desrespeito total a minha pessoa”, disse o estudante, que afirmou que Ufal acolheu a denúncia e as ações estão sendo movidas dentro do ambiente universitário”, afirmou o estudante.

‘Campanha difamatória’

Ao Diário do Poder, Alexandre Toledo disse que ingressará na Justiça contra os autores e apoiadores da acusação que ele chama de “campanha difamatória”.

“Desde que começou essa disciplina que eles ficam me provocando, por saberem que tenho uma posição conservadora e apoiei Bolsonaro. Não sou do grupo do ‘Lula Livre’, que é a maioria dos professores do curso de Arquitetura. Como minha campanha para reitoria é a voz do conservadorismo e do liberalismo, sou muito visado por esses grupos de esquerda lá dentro”, disse Alexandre Toledo.

O professor disse que falava para os alunos da teoria da evolução das espécies, de Darwin, e da teoria do livro em questão, que é como se fosse uma distopia. E falou da tese de que o avanço de algumas civilizações, sobretudo a egípcia, a mesopotâmica, a asteca, a maia, foi concentrada mais perto do círculo do Equador, desenvolvendo-se mais do que os povos que estavam ao norte e ao sul do globo.

Foi quando, segundo o professor, o aluno André da Silva Maia quis provocar perguntando se o docente estaria dizendo que sua raça negra seria inferior a outras. E Alexandre Toledo lembra que o Egito é composto por um povo negro e se localiza na África. E os povos da América Central também não eram brancos, ao citar que a perspectiva citada pelo livro era religiosa e sem comprovação científica.

“Estão acrescentando falas que não aconteceram e querem transformar isso em um fato, apelando eu diria até com certa ingenuidade, porque não estão vendo a gravidade do fato, que pode ter efeito reverso. Se eu abrir um processo por difamação e calúnia contra eles, vão ter que responder civilmente e penalmente por isso. Eles estão sendo manipulados por professores do curso, meus adversários políticos, inclusive algumas professoras tiveram o descuidado de postar em redes sociais apoio às atitudes desses alunos”, disse o professor, ao afirmar ter certa admiração pelo aluno, que é trabalhador, mas de “natureza relapsa, com 12 faltas em 18 aulas, em um mês”.

O professor ainda lembra que o aluno que o acusa não teria perfil que poderia levar a uma discriminação em relação a ele. “É um aluno nascido numa família bem situada economicamente, o pai é arquiteto conhecido em Maceió, esse aluno é professor de Inglês, por isso inclusive já pedi ajuda a ele em algumas traduções para publicação de artigo científico. Foi relapso no semestre passado em disciplina que ministrei com outro professor, praticamente seria reprovado por falta, e teve que fazer alguns trabalhos”, resumiu.

‘Sem vínculo político’

O Diário do Poder fez contato com o estudante André da Silva Maia, e o pediu para que comentasse sobre a versão do professor, que o acusa de armação com motivação política. A resposta do aluno foi a seguinte:

“É de direito e dever de todo cidadão denunciar qualquer tipo de fala/posicionamento de cunho racista. Creio que todos nós devemos nos responsabilizar por nossas falas.

O processo administrativo sobre o ocorrido em sala com o professor Alexandre Toledo foi aberto porque presenciamos, durante o exercício de sua função enquanto professor universitário, afirmações que consideramos racistas no que se propõe a justificar uma suposta superioridade racial eurocêntrica. Seguidas de injúria racial, quando o mesmo afirmou que minha capacidade intelectual seria fruto de miscigenação de minha família com pessoas brancas.

Não entendo como isso possa ter vínculo com qualquer posicionamento político dele ou meu. Creio que qualquer tentativa de levar o ocorrido para o campo político é infundada”.

Reitora manda apurar

Sem evidenciar se apoia o estudante ou o professor, na troca de acusações, a reitora da Ufal Valéria Correia enviou a seguinte nota ao Diário do Poder, por ter sido citada por Alexandre Toledo como “apoiadora da algazarra” atribuída ao grupo político do aluno que o denunciou. Eleita em 2015, o mandato da reitora termina em dezembro deste ano de 2019. Ela poderia disputar a reeleição. Mas sua base de apoio, com militância de esquerda, sinaliza lançar o vice-reitor José Vieira para a sucessão na Ufal.

Veja a nota da reitora:

“A reitora da Universidade Federal de Alagoas reafirma que a prática de racismo, além de crime, é incompatível com o ambiente universitário e que as providências para apuração do caso em questão estão sendo tomadas.
Ressalta que em 07 de maio deste ano foi aprovada no Consuni a Resolução n.19/2019 que “assegura o livre exercício das atividades de ensino, pesquisa e extensão na Ufal “. Esta resolução no parágrafo único do artigo 1: ‘O direito à livre expressão do pensamento e ao pluralismo de ideias não se confundem, nem autorizam ações ou manifestações que configurem a prática de calúnia, difamação, injúria, assédio moral, discriminação, racismo, violação dos direitos humanos e outras infrações penais'”.

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