Nascido há 124 anos, Lampião dizia ser cangaceiro ‘pela maldade dos outros’
Lampião era devoto de Padre Cícero e respeitava suas crenças e conselhos
O ex-presidente nacional da OAB, Cezar Britto lembra que no dia de hoje, 4 de junho, no ano de 1898, nascia em Vila Bela, atual Serra Talhada, no interior de Pernambuco, Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião, e que se tornou o líder absoluto do cangaço brasileiro. “Tornou-se cangaceiro em 1919 após jurar vingança ao ver o pai assassinado em conflito agrário”.
Como o fenômeno do cangaço, é apontado como herói ou bandido. Contudo, ninguém discorda de que a sua luta o faz ser um dos maiores personagens da história do Brasil”, afirma o advogado sergipano nascido em Propriá. Cezar Britto cita uma frase famosa de Lampião: “Não sou cangaceiro por vontade minha, mas pela maldade dos outros”.
Segundo o biógrafo Cicinato Ferreira Neto, o apelido “Lampião” foi lhe dado devido ter facilidade em manejar o rifle, “que, de tanto atirar, mais parecia um candeeiro aceso nas escuras noites da caatinga”.
Até os 21 anos de idade trabalhou como artesão. Era alfabetizado e usava óculos para leitura, características bastante incomuns para a região sertaneja e pobre onde ele morava. Uma das versões a respeito de seu apelido é que sua capacidade de atirar seguidamente, iluminando a noite com seus tiros, fez com que recebesse o apelido de lampião.
Sua família travava uma disputa com outras famílias locais, geralmente por limites de terras, até que seu pai foi morto em confronto com a polícia em 1919. Virgulino jurou vingança, e junto de mais dois irmãos, passou a integrar o grupo do cangaceiro Sinhô Pereira. Em 1922, tornou-se líder do bando até então comandado por Sinhô Pereira em Pernambuco. No mesmo ano matou o informante que entregou seu pai à polícia, e realizou o maior assalto da história do cangaço àquela altura, contra a Baronesa de Água Branca em Alagoas.Além do grupo principal, Lampião tinha o comando de diversos subgrupos paralelos, designando outros cangaceiros à frente, a exemplo de Corisco e Antonio de Engracia.
Em 1930 se junta afetivamente a Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria de Déa e, após sua morte, Maria Bonita, foi uma cangaceira brasileira, companheira de Lampião e a primeira mulher a participar de um grupo de cangaceiros. Nasceu no dia 17 de janeiro de 1910, em Paulo Afonso, Bahia, vindo a falecer em 28 de julho de 1938, em Poço Redondo, no estado de Sergipe. Virgulino e Maria Déa tiveram uma filha, Expedita Ferreira Nunes, nascida em 13 de setembro de 1932. O casal teria tido ainda dois natimortos.
Lampião era devoto de Padre Cícero e respeitava as suas crenças e conselhos. Os dois se encontraram uma única vez, no ano de 1926, em Juazeiro do Norte. No dia 27 de julho de 1938, o bando acampou na fazenda Angicos, situada no sertão de Sergipe, esconderijo tido por Lampião como o de maior segurança. Era noite, chovia muito e todos dormiam em suas barracas. A polícia chegou tão silenciosamente que nem os cães perceberam. Por volta das 5:00h do dia 28, os cangaceiros levantaram para rezar o ofício e se preparavam para tomar café; quando um cangaceiro deu o alarme, já era tarde demais.
Anos mais tarde, foi construído na cidade de Piranhas, em Alagoas, o Museu do Sertão. Tudo no museu gira em torno de Lampião e Maria Bonita, rei e rainha do cangaço. Não existe uma visita orientada, apenas um casal, vestidos de cangaceiros que, apenas, recebem os turistas. Cada visitante, para entender a história do cangaço, tem que ler as matérias daquela época e entender, através dos acervos e objetos dispostos.