E a favor do garimpo

Senador flagrado com R$33 mil na cueca preside comissão da crise Yanomami

No ano passado, Chico Rodrigues chegou a declarar ser favorável ao garimpo e da legalização da atividade em terras indígenas

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Senador Chico Rodrigues foi flagrado pela PF em situação constrangedora. Foto: Foto Jane de Araújo Agência Senado

A Comissão Temporária sobre a Situação dos Yanomami foi instalada nesta quarta-feira, 15, no Senado.Foi eleito presidente o senador Chico Rodrigues (PSB-RR), famoso após ser flagrado com R$ 33 mil na cueca em outubro de 2020. Além disso, no ano passado, ele chegou a declarar ser favorável ao garimpo e da legalização da atividade em terras indígenas, enquanto integrava a Comissão que apurava violências contra indígenas praticadas por garimpeiros na Terra Yanomami.

Além de Chico Rodrigues, Dr. Hiran (PP) e Mecias de Jesus (Republicanos), ambos senadores por Roraima, Elizane Gama (PSD), do Maranhão e Humberto Costa (PT) de Pernambuco também integram a comissão. A senadora Eliziane foi eleita vice-presidente da comissão. Já a relatoria ficará com Dr. Hiran.

O grupo deve acompanhar in loco a saída dos garimpeiros das terras Yanomami no prazo de 120 dias.

Ao ser eleito presidente, Chico Rodrigues chegou prometer um trabalho isonômico entre indígenas e garimpeiros para encontrar a solução para a crise humanitária de Roraima, e rejeitou a possibilidade de politização dos trabalhos do colegiado.

“Unidade no essencial hoje é nós resolvermos essa questão do Poder Judiciário com a proteção a todos aqueles que são cidadãos brasileiros: os indígenas ianomâmis e aqueles garimpeiros que estão na área. Então, o Brasil é maior do que qualquer crise”, resumiu.

“Devemos acompanhar e desobstruir a área indígena para proteger aquela etnia no seu território, e também proteger os garimpeiros porque são cidadãos brasileiros. São seres humanos e precisam de um cuidado especial. Eles foram tangidos para aquelas áreas, muitas vezes por donos de máquinas e empresários que ninguém sabe nem quem são, e hoje são os mais prejudicados”, disse Chico Rodrigues em entrevista antes da reunião da comissão.

Dr. Hiran também alertou para a situação dos “operários do garimpo” com dificuldades de sair da reserva.

“Estamos distribuindo cestas básicas nas comunidades indígenas. Garimpeiro que tem fome vai terminar tendo uma atitude de conflito para conseguir comida. Tudo isso nos preocupa. Que nós possamos também ajudar os garimpeiros a sair da área indígena e, a médio e longo prazo, fazer programas de auxílio para que essas pessoas não voltem”, afirmou.

A disputa pelos três cargos-chave da comissão externa para apurar a crise gerou embate entre os senadores de Roraima e governistas. Os três senadores de Roraima tentaram concentrar na bancada o comando da comissão.

Maior território indígena do Brasil, a Terra Yanomami passa por uma grave crise humanitária e sanitária em que dezenas de adultos e crianças sofrem com desnutrição grave e malária devido ao avanço do garimpo ilegal.

Antes de se filiar no PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, Chico estava filiado no União Brasil e foi vice-líder do ex-presidente Jair Bolsonaro no Senado. Com uma extensa vida política, o senador esteve em 12 partidos desde 1987.

Ainda em 2020, à época em que foi flagrado com dinheiro na cueca, a Polícia Federal apreendeu uma pedra que suspeitava ser uma pepita de ouro, encontrada no cofre do quarto do senador. Com a repercussão da investigação, deixou o cargo de vice-líder em 15 de outubro de 2020.

Como o senador possui foro privilegiado, todos os mandados cumpridos pela PF precisaram ser autorizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O inquérito tramita sob sigilo e está sob a relatoria do ministro Luís Roberto Barroso.

 

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