ALIANÇA SUPERA CURRÍCULO

Governador de Alagoas admite que posse de estudante visa sua reeleição

Renan Filho diz que aliança credencia gestor sem formação em AL

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Falta de formação pautou posse de Arthur (Foto: Márcio Ferreira)Um dia depois de a Comissão de Ética Pública da Presidência da República abrir processo contra o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, por declarar que o presidente Michel Temer (PMDB) teria usado critérios estritamente políticos para nomeações de ministros, o governador Renan Filho (PMDB) admitiu, nesta terça-feira (21), que a posse do estudante de Direito, Artur Albuquerque, de 26 anos, no comando da Secretaria do Trabalho e Emprego de Alagoas é parte de uma estratégia de fortalecimento da aliança partidária para seu projeto de reeleição em 2018.

Ao chegar ao evento de posse, no Palácio República dos Palmares, Renan Filho exaltou a “juventude e disposição” do novo secretário do Trabalho que não tem qualificação profissional, nem formação técnica. Arthur Albuquerque foi chamado de “preparado” pelo governador que lhe deu um primeiro emprego público com salário de R$ 18 mil.

Questionado sobre o credenciamento de Arhur Albuquerque para o cargo, o governador destacou a atração dos partidos do pai do secretário, o deputado estadual Antonio Albuquerque (PTB) e do irmão do novo gestor, o suplente de deputado federal Nivaldo Albuquerque (PRP).

“O que o credencia?”, quis saber um repórter. Eis a resposta de Renan Filho: “Um governo formado por uma aliança política. E essa aliança política traz hoje dois partidos importantes, o PTB e o PRP. E traz também a força jovem, a capacidade, e a vontade de fazer e realizar que o Arthur tem bastante. E eu acredito muito que vai dar certo”.

ALIANÇA SUPERA CURRÍCULO

Meta principal é o PRP de Nivaldo e o PTB de AlbuquerqueO viés majoritariamente político já havia sugerido timidamente pelo governador ao Diário do Poder, na semana passada, quando Renan Filho comparou Arthur Albuquerque ao ex-presidente Lula e indicou que o maior trunfo seria atrair recursos e “força política” através dos aliados no Congresso Nacional e na Assembleia Legislativa de Alagoas.

Quando questionado se o evento desta terça representava o fortalecimento da aliança para as eleições de 2018, Renan Filho confirmou viés eleitoral. O mesmo governador que prometeu em campanha priorizar gestores técnicos, mesmo se tivessem origem em indicações políticas tratou a nomeação do secretário sem currículo como parte da estratégia de "fortalecimento do governo".

“Trabalho politicamente para fortalecer o governo. Hoje trazemos dois novos partidos, o PRP e o PTB para o governo. O PTB fazia parte no início do governo, mas mudou a direção e eu o trago de volta, porque é um partido importante aqui e em Brasília. Vamos ter também o apoio do deputado Nivaldo, que é irmão do secretário e, em Brasília, o deputado federal vai ajudar a angariar recursos federais para fazer a secretaria ter cada vez um papel de maior protagonismo”, justificou o governador.

Renan Filho ainda se referiu indiretamente ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, no ano passado, como exemplo de consequência de manter uma “aliança frágil”, que resultou na mobilização do próprio PMDB do governador, para garantir a ascensão de Michel Temer à Presidência. “O Brasil acompanhou nos últimos tempos o que significa uma aliança frágil para sustentar um governante. É uma coisa sempre complexa”, completou Renan Filho.

TRABALHO DE PATRÃO

Arthur Albuquerque também falou sobre a dispensa de currículo para sua nomeação, quando foi questionado pelo repórter Fábio Atual, do programa Super Manhã, da Rádio AM 1020: “Como você sabe, não tenho como apresentar o meu currículo no serviço público. Mas eu sou sócio proprietário da empresa da minha família, nasci no interior e fui criado por uma família que me ensinou a trabalhar desde cedo. E isso me credencia, me capacita, tenho certeza, a surpreendê-lo com o meu trabalho, que posteriormente poderá ser avaliado”.

O secretário estudou dois períodos do curso de Direito, antes de trancar matrícula em 2013. Após três anos sem estudar, retomou o curso depois de fracassar no primeiro teste nas urnas, em 2016, na disputa pela Prefeitura de Limoeiro de Anadia contra o agricultor Marcelo Rodrigues (PP), que derrotou o clã Albuquerque com vantagem de quase dois mil votos, diferença de 14% dos válidos.

Renan Filho disse que vai pactuar planos e metas para o jovem gestor, assim como fez com todos os secretários. O novo gestor sem currículo terá a missão de intensificar a presença da secretaria no interior, para fortalecer o acesso ao mercado de trabalho para o primeiro emprego da maioria dos alagoanos que não tem partido, nem berço político, para servir ao governo com farto salário, sem qualificação.

No Governo de Alagoas, não se tem notícias de alguma Comissão de Ética Pública, nos moldes da que atua na Presidência da República e que deu a Eliseu Padilha prazo de um mês para o ministro explicar a declaração feita por ele durante evento na Caixa Econômica Federal. Na ocasião, Padilha disse que a nomeação do ministro da Saúde, Ricardo Barros, teria como objetivo garantir votos para a base do governo no Congresso Nacional.

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