Conflito com bandidos

Em dia de conflito no Rio, 1º militar é morto sob a intervenção federal

Soldado do Exército morreu baleado na manhã desta segunda (20)

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Um segundo soldado chegou a ser ferido sem gravidade Foto: Fotos Públicas

Um soldado do Exército morreu baleado na manhã desta segunda-feira (20) durante uma operação das forças de segurança nos complexos de favelas do Alemão, Penha e Maré, na zona norte do Rio.

O soldado, que não teve seu nome divulgado, foi o primeiro militar morto em confronto desde o início da Intervenção Federal na segurança do Rio, iniciada em fevereiro deste ano.

Diversas operações contra o tráfico de drogas têm sido feitas com o apoio de militares das Forças Armadas e até então nenhum militar havia morrido em ação.

Um outro soldado já havia morrido na vigência da intervenção, em junho passado, mas ele foi vítima de um acidente de trânsito na avenida Brasil.

O Comando Militar do Leste e o Gabinete Integrado da Intervenção Federal não esclareceram a dinâmica do conflito que levou à morte do soldado nesta segunda, bem como que tipo de arma de fogo o vitimou e onde exatamente dos três complexos ocorreram os disparos que atingiram o militar.

Sabe-se apenas que ele foi baleado no contexto da ação desta segunda, que contou 4.200 militares das Forças Armadas, 70 policiais civis, blindados e helicópteros. Segundo relatos de moradores, os tiroteios começaram já durante a madrugada de segunda.

Inicialmente, fontes militares chegaram a informar que 14 pessoas tinham morrido em decorrência da ação: oito dentro das comunidades e outras seis em um acesso à ponte Rio-Niterói.

No início da tarde, porém, o coronel Carlos Frederico Cinelli, porta-voz do Comando Militar do Leste (CML), corrigiu o número de mortos dentro das comunidades (passando de oito para cinco) e descartou que houvesse relação direta entre os mortos na ponte e as operações nas três comunidades.

Com o soldado, portanto, o número de mortos na ação no Alemão, Penha e Maré passou para seis. Um segundo soldado chegou a ser ferido sem gravidade.

Segundo as forças de segurança, ao menos dez suspeitos foram presos nas operações -entre eles, seis foram detidos pelo Bope no Morro da Fé, no Complexo da Penha, após terem feito uma família refém. A principal hipótese, segundo os militares, é que os criminosos fizeram a família refém quando fugiam das tropas na operação. Nenhum morador feito refém se feriu. Cinelli lamentou as mortes de suspeitos, mas atribuiu os confrontos à “irracionalidade notória” dos criminosos de enfrentar as forças policiais.

Essa é a terceira operação em três dias no Complexo do Alemão, considerado o quartel-general da maior facção criminosa do Rio, o Comando Vermelho.

Pelas redes sociais, moradores relataram tiroteios em diversas áreas das favelas. “São muitos tiros, helicópteros sobrevoando… Deus proteja os inocentes”, escreveu um morador no Facebook. “Está em toda parte, o Exército já está no alto do morro”, escreveu outra moradora.

Moradores também relataram abusos dos militares durante as operações. Celulares estariam sendo revistados e pessoas que compartilharam informações sobre a ação policial em aplicativos de mensagens estão sendo detidas como suspeitas.

Uma moradora relatou à reportagem da Folha de S.Paulo que homens estão revistando mulheres, numa prática irregular, e que é comum que moradores troquem mensagens sobre operações policiais por meio de aplicativos.

Ela explicou que o objetivo dos grupos de monitoramento por mensagem é que os moradores saibam em tempo real a situação dos conflitos e possam evitar ficar na linha de tiro.
Há relatos também de que policiais e militares entraram em casas sem mandado de busca.

A intervenção federal na segurança do Rio completou seis meses na quinta-feira (16). A medida anunciada em fevereiro pelo presidente Michel Temer (MDB) ainda não conseguiu reduzir os homicídios, acumula o maior índice de mortes por policiais desde 2008 e tem retirado menos armas das ruas.

Desde que chegaram ao Rio, os representantes do governo federal também intensificaram as operações em favelas, sem comprar ainda os materiais prometidos às polícias com o R$ 1,2 bilhão liberado pelo Palácio do Planalto. Por outro lado, conseguiram reduzir os roubos de carga e de rua, e doações emergenciais de equipamentos.

Com a intervenção, na prática, as polícias, os bombeiros e o sistema penitenciário estão sob o comando federal, que nomeou interventor o general Walter Souza Braga Netto, do Exército. A medida ocorre paralelamente a uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) decretada por Temer em julho de 2017, que dá poder de polícia às Forças Armadas no estado também até o fim do ano.

A medida também foi decretada (às pressas e sem um plano pronto) logo depois do Carnaval, quando cenas de roubos em áreas nobres foram amplamente divulgadas pela imprensa e aumentaram a percepção de insegurança e vácuo no governo do estado.

Nesta segunda-feira, o efetivo de tropas e agentes usados é quase 60% maior que o número de policiais e militares que ocuparam os dois complexos de favelas em 2010, em ação preparatória para a implantação de oito UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) na região.

A operação desta segunda-feira é o desfecho de uma série de ações conectadas realizadas pelas forças de segurança desde o último dia 14 com o objetivo de prender membros do crime organizado, segundo afirmou à reportagem uma fonte ligada à cúpula da intervenção.

O primeiro passo da estratégia foi ocupar outra base do Comando Vermelho, a favela de Antares, que fica em Santa Cruz, na zona oeste do Rio, a cerca de 60 quilômetros do Complexo do Alemão.

Até a operação da semana passada, Antares havia passado por quase 20 dias de confrontos entre o Comando Vermelho e membros de uma milícia que invadiram uma favela vizinha, o Rola.

Setores de inteligência da Secretaria de Segurança monitoravam as lideranças envolvidas no conflito.

As etapas seguintes da estratégia acontecerem nas madrugadas de sexta-feira (17) e domingo (18), quando militares realizaram incursões de inteligência com cerca de 300 agentes no Complexo do Alemão e trocaram tiros com traficantes. Entre os objetivos deles estava localizar lideranças criminosas.

Na noite de domingo, a Polícia Civil descobriu que uma dessas lideranças, Eduardo José do Santos, conhecido como Sonic, suspeito de envolvimento no conflito na favela de Antares, se deslocaria para a favela da Maré para ajudar os criminosos a resistir a eventuais ações das Forças Armadas.

Sonic e seus aliados foram presos pela Polícia Civil quando chegavam à Maré. Quatro armas foram apreendidas. A reportagem não conseguiu localizar a defesa do suspeito até o fechamento desta reportagem.

Desde o início da intervenção em fevereiro, mais de 400 suspeitos foram capturados nas chamadas operações emergenciais do Comando Conjunto –ações ostensivas que visam enfraquecer o crime organizado em paralelo à reestruturação das polícias, que ocorre nos bastidores.

ÔNIBUS QUEIMADOS

Em retaliação à operação, criminosos incendiaram um ônibus na Linha Amarela, sentido Barra da Tijuca, próximo ao Complexo da Maré, no início da tarde. Com o veículo em chamas, a via expressa ficou fechada por cerca de 40 minutos -a reabertura ocorreu às 12h.

Segundo o coronel Carlos Frederico Cinelli, o incêndio do ônibus foi determinado por criminosos como uma tentativa de interromper a via e diminuir a intensidade da operação militar.

“O ônibus incendiado é fruto de uma determinação da criminalidade para que a população das comunidades vá à linha Amarela e atrapalhe as operações”, disse ele. A orientação dos militares é de que os moradores fiquem em suas casas e não se aproximem da linha Amarela.

A via, que margeia o Alemão, é uma das principais ligações entre o centro e a zona oeste do Rio.

O corredor expresso de ônibus, o BRT, também interrompeu a circulação de ônibus entre o bairro de Madureira (zona norte) e o aeroporto do Galeão devido a atos de vandalismo na estação Penha. Os articulados estão operando apenas entre as estações Alvorada e Madureira. (Com informações da Folhapress)

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