Política de Haddad é danosa ao mercado imobiliário, avaliam especialistas
Brasileiros tendem a adiar compra de imóveis devido à insegurança em relação ao futuro econômico
A política econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pode influenciar a decisão dos brasileiros em adquirir imóveis em 2025.
Em entrevista ao Diário do Poder, o escritor, palestrante, analista e consultor no mercado imobiliário, Daniel Claudino, afirmou que com a desconfiança geral sobre a continuidade das políticas econômicas de Haddad, muitas pessoas, mesmo com uma situação financeira estável, podem hesitar em fazer um investimento.
O especialista avalia que historicamente, os brasileiros tendem a adiar a compra de imóveis devido à insegurança em relação ao futuro econômico, mais do que por razões objetivas.
“A desconfiança sobre as políticas econômicas do atual ministro e a incerteza são muito mais danosas do que as próprias ações em si. Apenas um exemplo: hoje, temos uma baixa taxa de desemprego, o que, para o mercado imobiliário, é excelente, já que há mais ‘pagadores de prestação de imóveis disponíveis’. Por outro lado, a instabilidade e a desconfiança sobre o futuro da economia fazem com que as pessoas prefiram esperar para comprar depois”, destacou.
O que muda no mercado imobiliário do Brasil para 2025?
Daniel Claudino avalia que do ponto de vista macroeconômico, teremos menos dinheiro barato (juros baixos) para financiar imóveis, por “escassez de recursos na Caixa Econômica Federal e a Taxa Básica de Juros da Economia (Selic) em alta”.
Em 2024, o mercado imobiliário brasileiro obteve a maior variação anual dos preços dos imóveis desde 2013, com um aumento médio de 7,7%. Os dados são do índice FipeZap, que monitora o setor em todo o país.
Tendo em vista esse aumento, o Diário do Poder também entrevistou Heitor Kuser, empresário do mercado imobiliário e CEO do CIMI360 — maior evento imobiliário da América Latina — que afirmou que o crescimento ocorrido em 2024 pode se repetir ou aumentar em 2025, dependendo de vários fatores.
“Em geral o mercado imobiliário sempre cresce, todavia o cenário deste ano mostra uma série de dificuldades estruturais que são um enorme desafio para o governo e para o mercado”, afirmou Kuser.
O empresário destaca que o setor terá um ano difícil em 2025 por vários aspectos, entre eles:
1. O crédito imobiliário terá restrições:
a. Faltará funding, pois a poupança está cada vez com menos recursos e ela é o principal fomentado, ou origem dos recursos para financiamentos; estima-se que faltarão R$ 20 bilhões para financiamentos;
b. Ainda teremos recursos para o programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) especialmente os já contratados. Projetos novos dependerão de recursos federais que até o momento não se sabe de onde virão. O financiamento imobiliário depende de recursos da caderneta de poupança que a cada dia mingua e do FGTS, ambos com problemas de caixa e que o governo estuda soluções;
2. A inadimplência de contratos de financiamento irá explodir como em 2015/2016 e os bancos, securitizadoras e fundos terão que rever seus modelos de negócios. Àquela época, os bancos tinham 135 mil imóveis retomados e tínhamos 115 mil imóveis novos à venda, sem considerar o mercado de usados, ou seja, um enorme problema;
3. Com a falta de crédito, as incorporadoras terão que encontrar alternativas para vender suas unidades;
4. Já temos o problema de que atualmente tem mercado e funding, são os projetos Minha Casa Minha Vida que é o programa de habitação mais popular e de maior sucesso no mundo sendo referência no setor;
5. A grande preocupação do mercado e do governo são os imóveis entre R$ 350 e R$ 1 milhão, porque não há uma linha de crédito para este segmento da classe média. Este debate está na Presidência da República para resolver esse problema;
6. Já o mercado de locações terá um crescimento significativo pois cada dia mais investidores entendem que imóvel para renda é muito vantajoso e se um acordo com Airnbnd for feito, os ganhos vem com tranquilidade e segurança.
Kuser afirmou ainda que a insegurança quanto ao futuro da economia pode atrapalhar a compra de um imóvel este ano.
“Todo tipo de insegurança atrapalha desde a decisão de um casamento, comprar um carro, ter filho e por aí vai. Nos imóveis não é diferente. A decisão da compra de uma propriedade neste ano é muito mais complicada pelo que teremos pela frente, com falta de crédido imobiliário e aumento dos juros, além da mais apertada análise de quem conquistará o financiamento dos bancos”, avalia.
Oportunidades
O especialista cita que mesmo com o cenário desafiador, há oportunidades no setor.
“Por outro lado, o aumento dos valores dos imóveis deve ter um arrefecimento ou um freio de arrumação, na medida em que temos um cenário econômico de juros e falta de recursos parecido com 2015/2016 quando a inadimplência disparou, faltou dinheiro e os estoques das incorporadoras aumentou muito. Some-se a isso que a inadimplência do sistema de financiamento imobiliário irá crescer como na crise de 2016 o que irá gerar imóveis retomados por bancos e levados a leilão em condições em geral, vantajosas. O futuro comprador de imóvel portanto, tem oportunidades à vista, mesmo com as dificuldades que estão em curso. Depende se ele quer chorar ou vender lenços”, ponderou Heitor.