Oligarquia Caldas

Deputado JHC compara rival a nazista em debate em Maceió

Candidato viu tática nazista em pergunta por pai 'sanguessuga'

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O primeiro debate entre todos os candidatos a prefeito de Maceió, na TV Mar, forçou candidatos a tratar de temas incômodos para suas campanhas eleitorais, na noite desta segunda-feira (19). Alguns dos momentos mais tensos foram quando o candidato João Henrique Caldas (PSB), que usa a alcunha de JHC, reagiu com irritação às referências feitas por adversários ao seu pai, o ex-deputado federal João Caldas.

Vice-presidente da Comissão Anticorrupção da Câmara dos Deputados, JHC disse o candidato Gustavo Pessoa (PSOL) usava tática nazista e fazia papel de laranja, porque o adversário o questionou sobre o fato de ele o deputado discursar contra as oligarquias de Alagoas e ser filho de João Caldas, que já foi condenado na Operação Sanguessuga e mantém um feudo no município de Ibateguara.

O que era um convite equilibrado de Gustavo Pessoa ao debate sobre as incoerências tão comuns na democracia e a respeito da proposta de mudança e renovação que JHC leva aos eleitores virou motivo de uma acusação desrespeitosa não apenas ao candidato do PSOL, mas ao debate democrático e aos eleitores.

“Querer medir com sua régua e nivelar as pessoas por baixo e fazer com que todos se sintam no mesmo balaio é uma tática, claro, nazista. É uma tática de querer, através da falácia, premissas falsas, querer reverberar algo que não é verdade. Mas, lamento muito que um candidato esteja se prestando a um papel de laranja e vir aqui para um debate como este, propositivo, querer desta maneira aguçar o senso crítico e subestimar a inteligência das pessoas”, foi a resposta de JHC.

Candidato Gustavo Pessoa (TV Mar)Direito de resposta

Gustavo Pessoa reagiu não apenas na réplica, como também em um direito de resposta admitido pela direção do debate. “Não sou laranja, não, ô João! E também não sou nazista. Estou em um debate democrático e me sinto no direito de perguntar para você. Eu tenho as mesmas críticas que você tem com relação às oligarquias estaduais e municipais. Contudo, acho que você na verdade representa uma embalagem nova com um conteúdo muito parecido com tudo que conhecemos e está aqui hoje. Os calheiros, vilelas, ou seja. Isso que você condena é sua raiz. Está no seu DNA político”, replicou o candidato do PSOL.

Em seguida, no direito de resposta, lembrou que o nazismo foi uma ideologia violenta que matou as pessoas que divergiam de suas ideias, matou minorias. “Minha candidatura, João, é a que melhor expressa o sofrimento dessas minorias. Maceió é a capital do País que mais mata a população LGBT, negros e jovens na periferia. E nossa candidatura é a que mais tem dialogado com esses setores”, respondeu Pessoa.

João Caldas realmente foi condenado por improbidade administrativa, em dezembro em 2014, pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por desviar R$ 390 mil na “Máfia das Ambulâncias”, alvo da Operação Sanguessuga. E uma decisão da 12ª Vara da Justiça Federal de Alagoas extinguiu o pai de JHC da ação penal quanto às infrações de corrupção passiva, formação de quadrilha e fraude à licitação, em fevereiro de 2015.

“Se trata de entretenimento político e me causa espécie desconhecer inclusive que neste mesmo processo a que o se refere, meu pai foi inocentado por maioria absoluta dos membros do Tribunal Regional Federal [da 5ª Região]”, disse JHC ao se irritar com a pergunta e garantir que seus eleitores sentirão orgulho dele.

Prefeito Rui Palmeira (TV Mar)Cadê o Soares?

Gustavo Pessoa não foi o único a fazer referências ao pai de JHC. Os candidatos Paulo Memória (PTC) e Rui Palmeira (PSDB) chamaram por diversas vezes o candidato do PSB pelo nome de João Caldas ou pelo sobrenome Caldas. Estratégia que conseguiu irritar JHC.

Quando perguntado o motivo do rompimento político de JHC com o deputado cassado e acusado de corrupção Eduardo Cunha (PMDB-SP), Paulo Memória, acusou o filho de João Caldas de se esconder por trás do “biombo” da sigla JHC para negar que representa “aquilo que existe de mais atrasado em Alagoas”.

Quando teve oportunidade de perguntar ao candidato Rui Palmeira, JHC atingiu o ápice de sua irritação, ao tentar “dar o troco”, chamando Rui por um dos sobrenomes pouco conhecidos, inclusive na política. Disse que sua pergunta iria para o candidato Soares, e confundiu o mediador Mauro Vedekin, diante de dois Soares no debate: o tucano Rui Soares Palmeira e José Cícero Soares de Almeida, do PMDB. E Rui aproveitou a oportunidade.

“O candidato Soares tem muito orgulho da minha origem, da minha história, do meu pai Guilherme Palmeira e da minha família. Diferente do candidato João Caldas, que esconde o pai, se utiliza de uma sigla, de um nome fantasia, para esconder suas origens”, rebateu Rui.

“Ofensa criminosa”

Na tarde desta terça-feira (20), Gustavo Pessoa publicou o seguinte texto para a imprensa, recuando da exigência que fez para que João Henrique Caldas pedisse desculpas pelo que chamou de “ofensa grave, criminosa”:

A Democracia pede desculpas

Não sei onde João Henrique Caldas estava com a cabeça durante o debate na TV Mar, segunda (19). Quando perguntei o que ele pensava a respeito da oligarquia Caldas, a qual ele pertence e controla politicamente a região de Ibateguara, ele respondeu me chamando de nazista. Difícil entender a associação.

O Nazismo, enquanto doutrina, pregava a supremacia de uma raça sobre as outras. Sob esse falso argumento, matou mais de 50 milhões de pessoas. Em uma entrevista logo após o debate, ainda perplexo, exigi que o candidato Caldas me pedisse desculpas pela ofensa grave, criminosa. Não sou racista, muito menos assassino.

Passado o calor do momento, venho a público retirar minha exigência das desculpas. Não devo esperar nada do candidato JHC, que posa orgulhoso ao lado de Eduardo Cunha. De um candidato-embalagem sem conteúdo, é melhor não esperar muito. Mas talvez João Henrique Caldas, o príncipe da oligarquia Caldas, devesse se desculpar com os negros, com as mulheres, com a comunidade LGBT e demais minorias. JHC chamou um cidadão de criminoso porque esse cidadão o fez uma pergunta. Não é a mim que ele deveria pedir desculpas: JHC deveria pedir desculpas à Democracia.

Gustavo Pessoa, cidadão e candidato a prefeito de Maceió.

A assessoria de comunicação do candidato JHC foi procurada pelo Diário do Poder para que ele se manifestasse sobre a nota de Gustavo Pessoa. E recebeu a resposta de que o candidato ainda não havia se manifestado e cancelou a agenda de campanha para ir ao sepultamento de um parente.

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