Contratos milionários

Réus por crimes de R$ 30 milhões seguem faturando no governo

Empresa pivo da Operação Mapa da Mina recebeu R$ 14 milhões do governo federal e R$ 65 milhões do governo de Pernambuco

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Loteria alvo da Operação Mapa da Mina no Recife. Foto: Ascom PF/Arquivo

Uma empresa de segurança com quadro de sócios formado por réus por crimes de R$ 30 milhões, em Pernambuco, seguem faturando com contratos milionários com os governo federal e de Pernambuco. Trata-se da Alforge Segurança Patrimonial, que abriga alvos da Operação Mapa da Mina, em 2020, quando a Polícia Federal atribuiu aos seus sócios os crimes de lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e organização criminosa ligada a políticos.

Mesmo citada pela PF e pela Controladoria Geral da União (CGU) por desvios via organização criminosa, a Alforge recebeu R$ 14 milhões do governo federal e R$ 65 milhões do governo de Pernambuco, somente em 2023, como revelou a reportagem da jornalista Natália Portinari, do UOL.

A maior parte dos contratos da Alforge com a o governo federal são com a Codevasf, justamente o órgão que a CGU e a PF diz ter provas da participação da Alforge em fraudes a três processos licitatórios, em Petrolina (PE). Caso que envolve mensagem do policial militar Pércio Araújo Ferraz, lotado na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), em que ele fala abertamente em dar um “presente à vista” para um integrante da Codevasf cancelar pregão e contratar a Alforge, com dispensa de licitação.

Desde o final do governo Jair Bolsonaro (PL), em 2022, a Alforge voltou a fazer a segurança do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional (Pisf), na Codevasf. O contrato que se estendeu para o governo de Lula (PT) prevê repasse de R$ 18,3 milhões anuais para a empresa distribuir 200 vigilantes e equipamentos de segurança para 57 canteiros de obras da Codevasf.

Mesmo após as operações, a empresa também recebe recursos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Instituto Federal de São Paulo e da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares(Ebserh).

Já o governo de Raquel Lyra (PSDB), em Pernambuco, realizou pagamentos para a Alforge por meio da Agência de Desenvolvimento Econômico, Empresa de Turismo de Pernambuco, do Consórcio de Transportes da Região Metropolitana do Recife, da Companhia Pernambucana de Saneamento, além de outros órgãos.

Ligações políticas

Pércio foi apontado pela PF como sócio oculto da Alforge, que tem sua esposa, Margarida Ferraz, no quadro oficial de sócios empresa. Na Operação Decimus, deflagrada em abril de 2018, o PM foi acusado de liderar uma organização criminosa que desviou recursos públicos de licitações por meio de um grupo empresarial.

Tais verbas eram submetidas a lavagem de dinheiro com o uso de lotéricas, ainda segundo a PF, de propriedade do então prefeito de Itamaracá, Mosar Tato (PSB), e do então deputado estadual e hoje deputado federal Guilherme Uchôa Júnior (PSB), filho do ex-presidente da Alepe, Guilherme Uchôa, que morreu em julho de 2018. Tato e o deputado federal dariam a retaguarda política para favorecer empresas de segurança em licitações, em um esquema supostamente liderado por Pércio.

‘Vingança e legalidade’

À reportagem do UOL, o advogado Emerson Leõnidas, disse não ter havido nenhuma irregularidade nem ilegalidade. E atribuiu as conclusões da Polícia Federal a equívocos “frutos de uma vingança”, motivada por alegadas desavenças entre um delegado federal e o policial militar Pércio Ferraz.

A Codevasf disse ao UOL que não havia impedimentos legais à contratação da Alforge, na última licitação que a empresa venceu. E destacou que as empresas fornecedoras têm o dever de atuar conforme leis, normas, editais e termos de referência que regulam as licitações.

“A Companhia mantém contratos com pessoas jurídicas, de modo que é desconhecida a conduta pessoal de sócios de empresas fornecedoras. Apurações sobre irregularidades eventualmente cometidas por essas empresas são conduzidas por órgãos independentes e contam com a irrestrita colaboração da Codevasf”, diz um trecho da nota da companhia.

Questionada sobre o vínculo com Pércio Ferraz, a Alepe disse que caberia à Polícia Militar avaliar um eventual afastamento do policial.

Guilherme Uchôa Júnior, hoje deputado federal, e Mosar Tato, ex-prefeito de Itamaracá, não responderam.

 

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