Fome de taxação

Lula criará 100 boquinhas na ANM para arrecadar bilhões da mineração

TCU pressiona governo após identificar sonegação estimada em R$ 16,4 bilhões, em oito anos, no setor responsável por série de desastres

acessibilidade:
Foto: Ricardo Teles/Portal Brasil.gov.br

Após o Tribunal de Contas da União (TCU) identificar uma sonegação estimada em R$ 16,4 bilhões, em oito anos, no setor da mineração, o governo de Lula (PT) tenta criar mais de 100 cargos comissionados para reforçar a estrutura da Agência Nacional de Mineração (ANM). A informação é do Ministério de Minas e Energia (MME), que negocia com o Ministério da Gestão e Inovação (MGI), a criação das novas “boquinhas” famintas por taxação de um setor responsável por tragédias em série no Brasil.

O MME já havia autorizado concurso público para 220 cargos efetivos na ANM, que tem até o dia 16 de janeiro de 2025 para publicar o edital do concurso. Mas o governo petista prevê para “breve” o reforço da estrutura de cargos de confiança para impedir a sonegação bilionária atribuída a falhas da Agência na fiscalização e na cobrança dos impostos do setor da mineração.

O TCU pressiona a ANM a agir contra o problema da sonegação na mineração, citando que quase 70% dos mais de 30 mil processos ativos de mineração não pagaram espontaneamente a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem), entre 2017 e 2022. E ainda enfatiza que somente 40% dos 134 processos fiscalizados pela ANM pagaram o tributo devido, via autodeclaração das mineradoras.

Em suma, bilhões foram sonegados no setor responsável por tragédias como as de Mariana e Brumadinho, causadas pela Samarco e Vale, em Minas Gerais; e da Braskem, em Alagoas, sob inércia da ANM.

Desmantelamento danoso

O TCU apontou um processo de desmonte da ANM, com redução de servidores e queda nas fiscalizações do setor mineral. E evidenciou falhas na automação de processos que favorecem a sonegação de bilhões em impostos, limitando a fiscalização.

Um exemplo do desmantelamento da agência é a redução de 41,9% do quadro de pessoal da ANM, entre 2010 e 2023, com redução de 1.196 para 695 servidores. E os efeitos nocivos desse movimento foram registrados pela Controladoria-Geral da União (CGU), que identificou queda de 92% no número de fiscalizações realizadas pela ANM, caindo de 2.184 autuações da Compensação Financeira pela Exploração Mineral, em 2014, para apenas 173 em 2019.

O ministro relator do processo no TCU, Benjamin Zymler, diz que não existem instrumentos para persuadir mineradoras a pagar os impostos, que acabam dependendo da boa-fé das empresas, porque a estrutura fiscalizatória da ANM é incapaz de gerar a expectativa de controle no setor regulado. “Mesmo após as poucas fiscalizações, não se logra efetividade na cobrança”, concluiu o ministro.

O MME classifica a fiscalização do TCU como “pertinente e adequada” e cita ter se deparado, no início de 2023, com salários dos servidores entre 40% e 60% mais baixos que os das demais agências reguladoras, déficit de servidores públicos concursados, cargos em comissão incompatíveis com as responsabilidades dos servidores e falta de orçamento adequado.

O governo de Lula alterou o Plano de Cargos da ANM, ano passado, para equiparar os salários. E autorizou nomeação de 64 novos especialistas em recursos minerais para atuar na fiscalização de barragens.

O MME prevê atender recomendação do TCU, em 180 dias, definindo prioridades e objetivos para adequar o orçamento da ANM com um plano de ação para solucionar ou reduzir as dificuldades enfrentadas pela entidade. Mas vai começar criando os mais de 100 cargos comissionados. (Com Abr)

Reportar Erro