Demagogia desafiada

Greve de 69 dias força Lula a anunciar R$ 5,5 bi para universidades

Grevistas desafiam petista a mostrar qual lugar que a educação pública federal ocupará em sua agenda política e econômica

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Grevistas de universidades e institutos federais cobram de Lula reajuste salarial (Foto: Reprodução/Facebook/Fasubra)

Após passar os últimos anos do governo de Jair Bolsonaro (PL) criticando cortes de recursos para o setor científico, o presidente Lula (PT) reagiu, nesta segunda (10), ao desafio de uma greve nas universidades e institutos federais que chega ao seu 69º dia. O setor cobra a fatura do barulhento apoio dado à eleição do petista, e Lula tenta distanciar-se da demagogia eleitoral para evitar a comparação entre seu governo e o de seu rival, anunciando a reitores um pacote de investimentos de R$ 5,5 bilhões, apelidado de PAC das Universidades e Hospitais Universitários.

A tentativa de Lula para minar a greve ocorre em um momento considerado decisivo para sindicatos nacionais dos servidores de universidades e institutos federais. Ao divulgar a agenda de mobilização desta semana, iniciada com novo protesto na Praça dos Três Poderes, o Sinasefe afirmou que a reação do governo petista deixara evidente qual lugar que a educação pública federal ocupará na agenda política e econômica do governo Lula.

Os grevistas convocam “esforço máximo” de suas energias em busca de uma “estrondosa vitória”. Mas o que já ficou demonstrado é que a retórica de Lula era demagógica, ao chegar a um ano e meio de seu governo repetindo práticas que condenava no governo de Bolsonaro. E sindicatos e confederações nacionais da categoria alertam que mesmo com a liberação de crédito suplementar de de R$ 347 milhões pelo Ministério da Educação (MEC), anunciada em maio, muitas instituições correm o risco de fechar as portas até setembro.

O governo petista busca atender o pleito por investimentos constante na pauta de reivindicações de grevistas, mas, como a esquerda conhece bem, não atender a cobrança por reajuste salarial pode fazer do anuncio de hoje um tiro na água. E as próximas assembleias semanais podem prorrogar ainda mais os danos que as greves causam e seguir afastando estudantes do ensino público federal.

Insuficiente

A presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Márcia Abrahão Moura, discursou citando os efeitos de anos de reduções orçamentárias que exigem grande esforço nacional pelo ensino público superior federal. Mas ressaltou que o valor anunciado ainda é insuficiente, apesar de o PAC anunciado ser um alento.

“Com o anúncio de hoje, o orçamento [anual] passa para R$ 6,38 bilhões, o que supera em termos nominais os orçamentos de 2017 a 2023. O valor defendido pela Andifes, de R$ 8,5 bilhões nos aproximaria, ou nos aproximará, do orçamento de 2017, considerando a inflação. Esperamos que o orçamento de 2025 nos coloque em condições de atender o presente e planejar um futuro melhor”, declarou Abrahão, que é reitora da Universidade de Brasília (UnB).

Citando a greve, a presidente da Andifes ressaltou remunerações defasadas, se comparadas a reajustes recentes para outras categorias do serviço público federal. E disse esperar solução negociada entre governo e sindicatos, para pacificar a situação.

O reitor do Instituto Federal de Goiás, Elias de Pádua Monteiro, fez uma súplica para que o governo de Lula avance pelas negociações pelo fim da greve, que classificou como movimento legítimo e justo, mas que resulta no aumento da evasão e em danos ao cumprimento do calendário acadêmico.

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