'Selic injustificada'

CNI quer pacto nacional por metas fiscais e políticas estruturantes

Setor produtivo reage à alta de juros e propõe estímulos a investimentos, diante do desequilíbrio das contas públicas e da inflação sob governo Lula

acessibilidade:
Presidente da CNI, Ricardo Alban. (Foto: Iano Andrade/CNI)

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) defendeu, nessa quarta (29), um pacto nacional entre todos os Poderes, empresários e trabalhadores, para criar um consenso em torno de metas fiscais e de políticas econômicas estruturantes. A proposta tenta garantir estímulos seletivos para assegurar a continuidade dos investimentos, enquanto se busca o equilíbrio das contas públicas e o combate à inflação, frustrados pelo governo de Lula (PT).

A manifestação é uma reação do setor produtivo nacional ao aumento de um ponto percentual na Selic, definido ontem pelo Comitê de Polícia Monetária (Copom), elevando a taxa oficial de juros para 13,25% ao ano. O presidente da CNI, Ricardo Alban, considera tal alta injustificada e fruto da longa cultura de juros reais elevados que persiste no Brasil. Ele critica o Banco Central (BC) por insistir na elevação dos juros como única ferramenta de política monetária, no enfrentamento de expectativas de inflação.

A CNI afirma que o BC não considera, no entanto, os efeitos impactantes dos juros e a taxa de câmbio na própria inflação. O setor produtivo ressalta que o comprometimento com o equilíbrio fiscal e com a racionalidade dos gastos públicos precisam ser exercidos e cobrados por todos. E conclui ter ficado evidente que o aumento da Selic representa mais custos financeiros para as empresas e os consumidores, e perda adicional e desnecessária de emprego e renda.

“Por isso, os setores econômicos defendem um pacto nacional, que envolva todos os Poderes, empresários e trabalhadores, pela criação de um consenso em torno de metas fiscais e de políticas econômicas estruturantes, garantindo estímulos seletivos que assegurem a continuidade dos investimentos, enquanto se busca o equilíbrio das contas públicas e o combate à inflação. A busca pela disciplina fiscal deve vir acompanhada de medidas de incentivo à inovação, à infraestrutura, à educação e à tecnologia, garantindo uma elevação do PIB no médio e longo prazo, gradual e sustentada”, propõe a CNI.

Política contracionista fará três anos

A nota divulgada pela CNI lembra que, com o aumento da Selic, a taxa de juros real do Brasil chega em 7,8% ao ano, que é 2,8 pontos percentuais acima da taxa de juros neutra estimada pelo Banco Central de 5% ao ano. E classifica a política monetária como restritiva, em campo contracionista desde fevereiro de 2022, no Brasil.

“A decisão não leva em conta os efeitos da aprovação do pacote fiscal [pelo Congresso Nacional], que ainda deve ser ampliado este ano, segundo declarações do governo federal, e a forte desaceleração do impulso fiscal, observada desde o segundo semestre de 2024 e que seguirá em 2025. Afinal, as despesas federais devem apresentar um crescimento real de 2,3% este ano, em comparação com um crescimento próximo a 4% em 2024”, conclui a CNI, com base sem suas projeções.

A CNI afirma ser fato que a meta de resultado primário será cumprida em 2024 (no limite mínimo de déficit que o governo pode ter para cumprir a meta fiscal). E estima que também deve ser cumprida em 2025, pois depende de um contingenciamento de R$ 4,2 bilhões, também com base no limite inferior da meta.

A Confederação ainda ressalta que a decisão do Copom do Banco Central não considera, com o peso correto, a desaceleração da atividade econômica, observada já no PIB do terceiro trimestre de 2024, e mantida nos dados parciais do último trimestre, até novembro.

“Em novembro de 2024, a produção industrial caiu 0,6% em relação ao mês anterior, sendo o segundo mês consecutivo de queda. Ainda, a queda no volume vendido no varejo foi de 1,8% em novembro de 2024, revertendo o crescimento que havia sido registrado em outubro. Já nos serviços, houve recuo de 0,9% em novembro, praticamente anulando a alta que tinha sido obtida em outubro”, expôs a CNI.

Reportar Erro