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Crianças são expostas a moléculas que mudam equilíbrio hormonal, diz pesquisa

Cosméticos são prováveis fontes de muitos disruptores endócrinos

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Cerca de 5,5% do volume de água distribuído no país não recebem tratamento antes de chegar à população.

Pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP em colaboração com pesquisadores norte-americanos descobriram que as crianças brasileiras estão expostas a níveis altos de parabenos e benzofenonas, duas classes de disruptores endócrinos (um tipo de molécula que não ocorre de forma natural no organismo e que pode alterar o equilíbrio hormonal) presentes em cosméticos e produtos de cuidado pessoal.

O estudo foi publicado na revista Environmental International. Os pesquisadores analisaram amostras de urina de 300 crianças entre 6 e 14 anos, coletadas em 2012 e 2013 nas cinco regiões do Brasil. Apesar de também afetarem a saúde dos adultos, a exposição a essas substâncias é especialmente preocupante em crianças, já que o balanço hormonal é fundamental para um desenvolvimento saudável.

Em comparação com estudos feitos em outros países, a principal peculiaridade da amostra brasileira foi a alta concentração nas amostras de urina de disruptores endócrinos que costumam fazer parte da formulação de cosméticos.

“Compostos como os parabenos, as benzofenonas, o triclosan e o triclocarban são frequentes em produtos relacionados ao cuidado pessoal. No geral, as concentrações das substâncias que foram maiores no Brasil foram aquelas relacionadas a esse tipo de produtos”, explica Bruno Alves Rocha, primeiro autor do trabalho, que lembra que o Brasil é um líder mundial na venda de produtos de cuidado pessoal.

Além disso, a presença dessas substâncias foi maior nas amostras de crianças das regiões Norte e Nordeste, o que condiz com os dados de vendas de cosméticos.

Plástico

Outro disruptor endócrino que se destacou nos resultados foi o bisfenol A, uma substância utilizada na produção de alguns tipos de plásticos e resinas. Embora seu uso em mamadeiras seja proibido no Brasil desde 2012, o bisfenol A foi detectado em 98% das amostras. De acordo com Rocha, a exposição ao bisfenol A é grande.

Dentre outros lugares, a molécula está presente em alimentos enlatados, garrafas de água, brinquedos, papel térmico e inclusive na poeira de ambientes fechados. Apesar do achado, os níveis de bisfenol A encontrados nas amostras brasileiras foram similares aos de países como EUA e Canadá, e muito menores do que os observados em Índia e China.

Mineração de dados

Pela primeira vez, os os pesquisadores também realizaram uma análise de “mineração de dados”, que permite avaliar os efeitos da exposição simultânea a vários disruptores endócrinos.

A técnica permitiu identificar a presença nas amostras de dois grupos distintos. A principal diferença entre os grupos foi a concentração de 8-OHDG, uma molécula que se origina nas células quando o DNA sofre danos, e que é um indicador do chamado “estresse oxidativo”, uma condição que favorece o desenvolvimento de vários tipos de doenças. (Com informações do Jornal da USP)

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