AQUARTELAMENTO

Associações militares ameaçam motim contra governo de Renan Filho

PMs e bombeiros dizem não temer ser presos por se aquartelar

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Associações de policiais e bombeiros militares de Alagoas responderam com uma ameaça de aquartelamento à proposta que o governo de Renan Filho (MDB) teria apresentado para reajustar seus salários em 3,8%, somente no próximo ano. E reforçaram a convocação das tropas e de seus familiares para a assembleia prevista para 14h desta quarta-feira (11), à porta do Palácio República dos Palmares. A categoria afirmou que a proposta foi rejeitada nesta segunda-feira (09), na Secretaria de Estado de Planejamento, Gestão e Patrimônio (Seplag).

Durante a reunião com a Seplag, um dos líderes do movimento disse que prefere ser preso pelo aquartelamento, de que ir para a prisão como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, “como um ladrão”. A declaração do presidente da Associação dos Oficiais Militares de Alagoas (Assomal), coronel José Cláudio do Nascimento, o “J. Cláudio”, é um reconhecimento de que as associações estão dispostas a radicalizar, mesmo cientes de que o aquartelamento de policiais é considerado inconstitucional, desde abril de 2017, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). 

Aquartelamento de policais pode e já foi considerado motim, a exemplo de quando a PM do Espírito Santo indiciou, no ano passado, 703 policiais pelo crime militar, cuja pena pode variar de 8 a 20 anos de prisão em presídio militar, além da expulsão da corporação.

“Se a tropa disser: ‘vai parar’, a Polícia Militar vai parar. E dê o que der. A gente vai parar na Justiça, vamos para os nossos quartéis… Não tenho medo de ficar preso aqui. Para isso fizemos concurso. Tenho medo é de ser preso como um ladrão, ou igual como Lula foi preso, por roubar o povo. Mas, para ir preso para assumir as responsabilidades da categoria que estamos aqui defendendo, disso ninguém aqui tem medo”, disse o coronel J. Cláudio.

O presidente da Assomal ainda disse ao Diário do Poder que o governo "prenucia a tragédia do caos e da insegurança que está por vir" com a ausência dos militares nas ruas. "A responsabilidade única e exclusiva desse momento é do governo, pelo abandono e desprestígio dos militares na sua política de valorização salarial, em especial dentro da pasta da Segurança Pública. Só estamos cobrando que o governador cumpra a lei da revisão geral e nos trate de maneira isonômica", defendei o oficial.

Veja a declaração do presidente da Assomal, na reunião com a Seplag: 

'INDEPENDÊNCIA OU MORTE'

Logo após o encontro com integrantes do governo, os representantes das associações militares divulgaram vídeos convocando as categorias para a assembleia. O presidente da Associação dos Praças Policias e Bombeiros (ASPRA), Wagner Simas, usou o mesmo tom beligerante.

“Aquartelamento é a bandeira que defendemos, porque o governo, até o momento, não se mostrou sensível para atender às nossas demandas. Então, chega de ser execrados. Chega de tanto engodo por parte do governo. Ou a gente consegue o que queremos, ou o governo cede para a criminalidade”, disse Simas.

O sargento Gedson, presidente da Associação dos Subtenentes e Sargentos Militares de Alagoas (ASSMAL), disse que esperavam uma contraproposta para os 10,61% de reajuste pleiteado. Mas não pode aceitar o que o governo nos ofereceu, nem a rotina de trabalho que considerou uma “escravidão”. “Nos foi proposto apenas 3,8%, sendo que a partir de 2019. Não vimos valor nenhum, é escravização humana. Arrumar serviço não é valorização", disse Gedson, à Gazetaweb.

O movimento da categoria responsável pelo maior avanço do governo de Renan Filho, a redução dos números oficiais de crimes violentos letais e intencionais, é composto pelas associações dos Oficiais Militares de Alagoas (Assomal), dos Bombeiros (ABMAL), de Cabos e Soldados (ACS), dos Subtenentes e Sargentos Militares de Alagoas (ASSMAL) e dos Praças (Aspra), e pela União dos Policiais e Bombeiros Militares (UMP).

'NÃO É MOTIM'

O diretor de comunicação da ACS, Thiago Omena, discordou do uso da palavra motim pelo Diário do Poder. "Militar não pode fazer greve nem tão pouco motim. O que vamos realizar amanhã é uma assembléia geral com decisão de aquartelamento. Nós das associações militares, incluindo a ACS, jamais convocariamos a tropa para cometer um crime militar. O que vamos realizar amanhã em frente ao Palácio do Governo é um ato legítimo e legal. Acima de tudo vamos em busca de uma decisão favorável do Governo. Caso eles não entrem em acordo faremos a nossa assembléia geral com todos presentes nesse ato público", manifestou-se o bombeiro militar, em contato com a reportagem.

O coronel J. Cláudio também se manifestou: "Só não concordo com motim. Em nenhum momento falamos em prática de violência. O movimento é pacífico e não estamos contrariando nenhuma ordem da autoridade".

O Diário do Poder contatou as assessorias de imprensa do governo de Alagoas, de Seplag e do próprio governador Renan Filho, que não se manifestaram sobre a mobilização das associações.

Veja a convocação para a Assembleia, feita no início da noite desta segunda:

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