Virada

Artistas reclamam de desorganização e desrespeito na Virada Cultural

Anunciados, nem sequer foram convidados, como Hermeto Pacoal

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Criada pela Secretaria estadual de Cultura para celebrar o bicentenário de Alagoas, a “Virada Cultural” acabou sendo alvo dos protestos de artistas e ativistas culturais pela desorganização do evento, marcado pelo anúncio mentiroso de atrações que nem seuer foram convidadas, pelo menos 13 shows cancelados, transferência de locais de apresentação. etc. O principal alvo das críticas é a secretária de Cultura (Secult), Mellina Freitas, ex-prefeita de Piranhas denunciada por centenas de crimes e desvio de R$16 milhões.

A banda Xique Baratinho até divulgou nota de protesto nas redes sociais, sob o título "Respeito é bom e nós gostamos!”, contando ter sido incluída na programação sem ao menos ser consultada. Eles telefonaram à Secretaria de Cultura, quando então acertaram a apresentação. Mas a desorganização, inacreditável para um evento histórico, estava só no começo:

– Macacos velhos, acostumados a levar porrada e à burocracia dos trâmites nos órgãos públicos, nos certificamos, na sexta à noite, de que estava tudo ok: “Sim está tudo ok”, disse uma pessoa do setor de compras da Secult, responsável por abrir os processos. Também recebemos um “bom show pra vocês”, da produção do evento. Não vamos citar nomes. Nos preparamos, ensaiamos, investimos, cancelamos compromissos. Eis que, na noite desse sábado fomos surpreendidos com um telefonema de um dos diretores da Secult cancelando o nosso show, programado para as 20h20 deste domingo, na Praça Marcílio Dias, após zilhões de mudanças da programação – relata a nota da banda Xique Baratinho.

O Mova (Movimento Cultural Alagoano) também protestou contra a desorganização do evento, “construído de forma completamente vertical, sem a participação da classe artística e com uma comunicação desastrosa.” Em nota nas redes sociais, o Mova confirma que artistas souberam de suas participações pela divulgação oficial, antes que as negociações tivessem sido feitas ou consolidadas. “Outros sequer foram contatados pelo evento, mas ainda assim tiverem seus nomes divulgados na programação, como é o caso do músico Hermeto Pascoal. Sua produção disse não ter recebido qualquer contato da Secult.”

– Numa prova flagrante de desorganização e irresponsabilidade, ao menos 13 shows foram cancelados e alguns outros tiveram seus horários mudados repentinamente. Agora, os artistas lidam com justificativas cínicas que os culpam pelos problemas causados pela incompetência da equipe responsável – diz a nota do Mova.

 

Leia a íntegra da nota do Xique Baratinho:

“Respeito é bom e nós gostamos!

Vamos tentar resumir o que ocorreu, pelo menos, o que vivemos nesses últimos quatro dias. Fomos surpreendidos na última quarta-feira, com a inclusão do nome do Xique Baratinho, sem a nossa autorização, na programação da tal virada cultural. O que nos causou transtornos para explicar ao pequeno público que nos acompanha que não sabíamos de nada. Entramos em contato com a Secult, que explicou que não conseguiu falar conosco, mas que contava com a nossa participação, pela relevância da banda e tal. Após breve reunião, decidimos fazer a apresentação. Enviamos na quinta-feira a documentação exigida. Macacos velhos, acostumados a levar porrada e à burocracia dos trâmites nos órgãos públicos, nos certificamos, na sexta à noite, de que estava tudo ok: “Sim está tudo ok”, disse uma pessoa do setor de compras da Secult, responsável por abrir os processos. Também recebemos um “bom show pra vocês”, da produção do evento. Não vamos citar nomes. Nos preparamos, ensaiamos, investimos, cancelamos compromissos. Eis que, na noite desse sábado fomos surpreendidos com um telefonema de um dos diretores da Secult cancelando o nosso show, programado para as 20h20 deste domingo, na Praça Marcílio Dias, após zilhões de mudanças da programação. “O procurador não conseguiu apreciar o processo de vocês, ele trabalhou até uma da manhã, mas não tinha mais condição física para continuar. Sendo assim , não vamos ter como pagar o cachê de vocês. Vamos ter que cancelar o show”, disse o diretor, ao tentar explicar o que para nós não tem explicação. Aconteceu com outras bandas também. Agora perguntamos, e aí? A gente responde como a essa falta de respeito, a essa desorganização? O Xique Baratinho tem quase 20 anos de formação e sabe bem o que é tentar sobreviver na aridez cultural e de oportunidades de Alagoas. Temos um trabalho reconhecido e de muita importância para a música alagoana. Se vcs não acham, fodam-se! Nós sabemos do nosso valor. Não temos discos lançados todo ano, não estamos no mainstream, não somos posers nem fazemos baladinhas românticas. Mas temos uma obra e temos uma história! Graças a nossas releituras, muitas crianças, jovens e adultos repetem verso dos verdadeiros mestres da nossa cultura popular, que jamais teriam acesso se não fosse pelas nossas músicas.  Exigimos respeito! Respeitem o Xique Baratinho!"

 

Leia a nota do Mova (Movimento Cultural Alagoano):

“Política de eventos não é política cultural

Não há nada de errado em celebrar nossos marcos históricos: eles nos trazem memórias coletivas e sentidos compartilhados. Assim, seria imperdoável passar por uma efeméride tão importante como os 200 Anos de Alagoas sem uma grande comemoração.

Cientes disso, representantes da comunidade cultural alagoana atenderam, em 2016, ao convite da Secretaria de Estado da Cultura, formando comissões para elaborar propostas em sintonia com as demandas de cada segmento. Não se tratou de uma chamada pública, como devem ser feitos os processos de fato democráticos, mas de um convite particular a alguns nomes. O método evidencia o pensamento provinciano de uma gestão que padece de legitimidade desde seu primeiro dia, servindo de salvo conduto para os mais de 400 crimes atribuídos pelo Ministério Público a sua titular.

Como resultado da comissão dos 200 Anos, foram propostas diversas ações, incluindo atividades de formação, circulação, reflexão e debates, num calendário extenso de eventos para, de fato, evocar a relevância dos dois séculos de história alagoana. Infelizmente, chegamos ao 16 de setembro, dia da emancipação política do estado, sem que quase nenhuma das ações construídas coletivamente tenha sido colocada em prática.

De maneira arbitrária, foi anunciado pela Secult/AL um evento construído de forma completamente vertical, sem a participação da classe artística e com uma comunicação desastrosa. Alguns artistas souberam de suas participações pela divulgação oficial, antes que as negociações tivessem sido feitas ou consolidadas. Outros sequer foram contactados pelo evento, mas ainda assim tiverem seus nomes divulgados na programação, como é o caso do músico Hermeto Pascoal. Sua produção disse não ter recebido qualquer contato da Secult.

Numa prova flagrante de desorganização e irresponsabilidade, ao menos 13 shows foram cancelados e alguns outros tiveram seus horários mudados repentinamente. Agora, os artistas lidam com justificativas cínicas que os culpam pelos problemas causados pela incompetência da equipe responsável.

Política cultural deve ser feita com mecanismos democráticos. Deve ser feita através de uma Lei Popular de Cultura, que possibilite o repasse de recursos para todo o território alagoano e que contemple a diversidade de manifestações e saberes culturais. Política cultural deve ser feita com investimento em editais, consultas públicas, planejamento a longo prazo e, obviamente, respeito às cadeias produtivas da cultura. Isso não tem sido praticado pela atual gestão e nem foi visto na Virada dos 200 Anos. A gestão de Renan Filho e Mellina Freitas não esconde a sua preferência pela velha política de eventos, aquela mesma que garante belos e propícios “showmícios”, oferecendo um palco perfeito para a pré-campanha para a reeleição. Esse tipo de evento tem sido o foco dos investimentos da secretaria.

Além disso, em mais uma demonstração de descaso pela política cultural, há quase um ano a Secult/AL se recusa a honrar o compromisso com dezenas de artistas contemplados em três editais voltados para diversos segmentos. Sem os recursos do Prêmio Diogo Silvestre (pago apenas parcialmente), do Prêmio Mestre de Guerreiro Cicinho (voltado para a produção cultural) e do IV Edital do Prêmio de Incentivo à Produção Audiovisual, todo um calendário de ações culturais planejadas para 2017 simplesmente não acontecerá.

Empresas foram criadas para participar desses certames, e hoje amargam dívidas e risco de falência devido ao não pagamento.

Estamos muito longe de uma verdadeira virada cultural, que seria a tão esperada mudança no histórico de desrespeito do Estado para com a cultura alagoana.

#maisculturamenospalanque".

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