Redução salarial

Jornalistas rejeitam redução de um terço do piso salarial na imprensa de Alagoas

Mais de cem jornalistas recusaram proposta no estado onde o piso é teto salarial até a aposentadoria

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Jornalistas rejeitam redução do piso salarial em Alagoas. Foto: Divulgação Sindjornal

Mais de cem jornalistas alagoanos se reuniram em assembleia no último sábado (27) e recusaram a proposta de reduzir em um terço o piso salarial pago à categoria pelos veículos de imprensa. Os profissionais que lotaram a sede do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas (Sindjornal) organizam protestos nas ruas de Maceió (AL) e nas redes sociais, contra a proposta.

O presidente do Sindjornal, Izaías Barbosa, disse ter sido surpreendido na mesa de negociações com a proposta considerada um ataque aos direitos dos trabalhadores. Porque, ao invés de debater a reposição da inflação do período ou um índice de aumento real do salário, os patrões propuseram a redução do piso salarial da categoria, que atualmente é de R$ 3.565,27 e seria reduzido para R$ 2.150,00.

As empresas TV Pajuçara (Record), TV Gazeta (Globo), TV Ponta Verde (SBT), G1 Alagoas, TNH1, Gazetaweb, OP9,  e o jornal Gazeta de Alagoas defendem a redução dos salários dos jornalistas, argumentando que o mercado está em crise e o piso salarial de Alagoas é o mais alto do país.

Os profissionais da imprensa pretendem demonstrar que a crise enfrentada nacionalmente pelo setor, em Alagoas, possui agravantes ligadas à precarização da atividade por meio do descumprimento de direitos trabalhistas, com a gestão incompetente das empresas e do uso meramente político dos veículos de comunicação, cenário que levou à falência outros três grandes jornais alagoanos desde a década de 1990, bem antes da crise atual: o Jornal de Alagoas, a Tribuna de Alagoas e O Jornal.

Diante da crise que atinge o setor, com fechamento de grandes jornais e revistas impressos e a redução para 10% das tiragens, outro fato que os jornalistas alagoanos citam como peculiaridade na realidade do estado é a histórica negação de direitos aos trabalhadores que não recebem horas extras há pelo menos quatro anos, sendo obrigar a cumprir cargas extras no expediente. Além de que muitos dos demitidos em massa, na crise atual e nas dificuldades de décadas passadas, jamais receberam suas indenizações trabalhistas.

A maioria dos jornalistas que participaram da assembleia temem que as empresas tenham, com a proposta, a intenção de demitir e propor a recontratação com aplicação do piso reduzido.

“Os patrões esquecem de dizer é que aqui no estado o piso é o teto, ou seja, dificilmente um jornalista ganha mais do que o piso, independente do tempo de trabalho”, destacou Valdice Gomes, vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas.

‘Dor que não sai no jornal’

Segundo o presidente do Sindjornal, Izaías Barbosa, além da redução do piso salarial, as empresas sugeriram outras cláusulas, como acabar com o pagamento de hora extra, suspender gratificações extras de exercício de atividade de editor, entre outras.

“A gente não vai pagar pela má gestão das empresas. Se não conseguiram administrar bem o dinheiro que entrou na empresa, não vamos pagar pela crise. Patrão não quer baixar seu lucro, tirando do trabalhador. Vamos brigar de todas as formas, porque a empresa não apresentou contraproposta e veio com essa proposta absurda e inconstitucional. Redução de salário não se discute. Vamos mostrar o que os barões da comunicação estão querendo fazer com os jornalistas. Nossa dor não sai nos jornais locais. Por isso vamos às ruas buscar o apoio da sociedade”, concluiu o presidente do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas.

Alegando desinteresse das empresas em negociar, a categoria judicializou o dissídio na última quinta-feira (25),  pedindo 5% de ganho real mais reposição de perdas da inflação sobre o piso salarial vigente.

O Diário do Poder procurou as duas maiores empresas de comunicação que defendem a redução do piso salarial dos jornalistas de Alagoas: a Organização Arnon de Mello (OAM), de propriedade da família do senador Fernando Collor (Pros-AL) e o Pajuçara Sistema de Comunicação (PSCOM), que tem como um dos sócios o ex-senador João Tenório (PSDB-AL).

O PSCOM disse que “a empresa não irá se pronunciar”. E o diretor executivo da OAM, Luis Amorim, afirmou que não haverá redução salarial dos trabalhadores em atividade. “O que se está conversando é a possibilidade de diminuirmos o piso para servir de parâmetro para os novos contratados. O que se está sendo tratado é a adoção de um novo piso”, disse Amorim.

A reportagem fica à disposição das demais empresas para expor os argumentos da proposta.

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