Não fala em indenizar

Após afundar três bairros, Braskem não se desculpa e fala em ‘proteger’ maceioenses

Mineradora solidariza-se, mas esquiva-se de indenizar vítimas, ao priorizar ações emergenciais

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Vice-presidente da Braskem, Marcelo Cerqueira. Foto: Reprodução TV Gazeta

Em nota publicada no fim da tarde de ontem (8), a mineradora Braskem prestou solidariedade às cerca de 30 mil vítimas de suas atividades de extração de sal-gema em três bairros que registram afundamento de até 40 centímetros no solo, em dois anos. Nem na nota, nem nas declarações de seu vice-presidente Marcelo Cerqueira, a Braskem não se desculpa com a sociedade alagoana, tampouco fala em indenizações, depois de ser apontada pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) como responsável por reativar uma falha geológica adormecida há milhões de anos, com a perfuração de poços ao longo de 44 anos.

A Braskem que perfurou 35 poços, sobre e no entorno de uma falha geológica, diz na nota que tem compromisso com a segurança das pessoas e analisará juntamente com as autoridades a melhor orientação sobre suas operações locais, alvo de pedidos de suspensão de licenças ambientais, formalizados ontem pelo Ministério Público e Defensoria Pública de Alagoas.

O diretor-geral da Agência Nacional de Mineração (ANM), Victor Bicca, e técnicos da CPRM ressaltaram na audiência pública de ontem que a paralisação da mineração também traz riscos de agravar a situação na região, se for feita de forma abrupta. Ainda assim, o Governo do Estado informou ontem que o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) vai interditar mais quatro poços da Braskem, identificados pelos números 32, 33, 34 e 35, ainda em atividade, além da aplicação de multas estabelecidas em lei.

A empresa reforça que mantém “compromisso inegociável” com a sociedade alagoana, após falar em contestar os dados técnicos do laudo divulgado pela CPRM ontem, “frente aos dados coletados por geólogos e especialistas independentes.

Quando questionado pela TV Gazeta de Alagoas sobre indenizações da Braskem às vítimas, o vice-presidente Marcelo Cerqueira não garantiu o ressarcimento aos danos causados, falando que prioriza esforços para que as pessoas fiquem seguras e voltem às suas casas, nos bairros do Mutange, Bebedouro e Pinheiro, considerados de risco pelos estudos da CPRM coordenados pelo geólogo Thales Sampaio.

“Nossa prioridade no momento é garantir a segurança das pessoas. Nós tivemos hoje, pela primeira vez também, o acesso a essa informação sobre as potenciais causas ou as causas apontadas pela CPRM e nós vamos só fazer o entendimento com eles e saber quais as ações a partir daí, de forma garantir a segurança das pessoas e os próximos passos que vão ser tomados para garantir que as pessoas estão seguras, que possam voltar para as suas casas, que podem tomar sua vida com a normalidade que todo mundo deseja”, falou Cerqueira.

O Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL) já suspendeu a distribuição de R$ 2,6 bilhões de lucros para acionistas da Braskem, em resposta ao pedido de bloqueio de R$ 6,7 bilhões no patrimônio da subsidiária da Odebrecht, formalizado pelo Ministério Público e Defensoria Pública Estadual, que reforçarão o pedido para efetivação do bloqueio total.

Veja a nota à imprensa e outras declarações do representante da Braskem:

Marcelo Cerqueira, vice-presidente da Braskem, para TV Gazeta: 

Suspensão das atividades:

“Isso [paralisação] vai depender muito do parecer final dos órgãos, inclusive CPRM. Hoje esse assunto foi discuto lá na audiência e nós vamos procurar o entendimento com eles. Se a melhor solução é fazer a paralisação, assim será feito. De forma, garantir a segurança das pessoas”.

Estudos da Braskem:

“Nós estamos trabalhando diuturnamente na solução, no entendimento e nos ensaios. Alguns ensaios vêm apresentando uma dificuldade maior, como foi relatado hoje, mas nós estimamos que em um prazo de dois a três meses, a gente consiga ter uma avaliação completa e, com isso, também completando o estudo da CPRM e, de fato, apontando quais as causas e principalmente as soluções para garantir a segurança das pessoas que estão ali”.

Medidas imediatas:

“Desde o início do ano, a gente já vem discutindo com as autoridades, incluindo o Ministério Público, o CREA e a Prefeitura, ações emergenciais para conter, principalmente a entrada de água no subsolo do bairro que todos concordam que podem trazer problemas para as pessoas. Então, esse é um exemplo de ações que a gente já iniciou a implementação. Já temos aí ações que visam, exatamente, melhorar a condição das pessoas ali no bairro. A partir, agora, com os avanços dos estudos da CPRM e com os estudos da Braskem, nós vamos continuar avançando em soluções de engenharia para melhorar ainda mais a segurança das pessoas que estão ali”

Mensagem aos moradores:

“A Braskem é uma empresa que está em Alagoas há 44 anos, sempre honrou com os seus compromissos e responsabilidades. A Braskem em Alagoas é operada por alagoanos, pessoas que cresceram e se realizam no seu trabalho e que procura sempre fazer o melhor e sempre focando na segurança dos integrantes que atuam na Braskem, na segurança das comunidades e na proteção do ambiente. Então, esse é o nosso foco principal. A Braskem é a empresa que vai atuar de forma responsável em qualquer cenário junto à sociedade alagoana, assim como tem feito nos últimos 44 anos”

Nota à Imprensa

A Braskem vem a público externar sua solidariedade a todas as famílias atingidas pelos eventos do bairro do Pinheiro, em Maceió. A empresa reafirma que continuará com as ações emergenciais que já executa no bairro, o que inclui a inspeção dos sistemas subterrâneos de drenagem, a instalação de estação meteorológica e de equipamentos de GPS de alta precisão para detecção da movimentação do solo, entre outras medidas, a fim de evitar o agravamento dos problemas no bairro frente ao ciclo chuvoso e com vistas a proteger a segurança das pessoas.

A empresa tomou conhecimento com a sociedade alagoana do laudo divulgado na manhã de hoje (08/05) pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e analisará os resultados apresentados frente aos dados coletados por geólogos e especialistas independentes. Desde o início do agravamento das rachaduras e fissuras no bairro, em março de 2018, a Braskem vem colaborando com as autoridades na identificação das causas e informando com transparência e responsabilidade os estudos realizados por empresas de renome internacional.

A Braskem tem compromisso com a segurança das pessoas, tanto de seus integrantes quanto das comunidades em que atua, e analisará juntamente com as autoridades a melhor orientação sobre suas operações locais. A empresa possui laços com Alagoas há mais de quatro décadas e mantém seu compromisso inegociável com a sociedade alagoana.

Braskem

Veja um dos estudos técnicos da CPRM:

 

E entenda o que acontece nos bairros:

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