Alagoas lidera desemprego no Brasil em 2022, e Renan Filho ‘colhe frutos’
Ele exalta "saldo positivo", sem citar liderança nacional em desemprego
Alagoas ostenta saldo negativo na geração de emprego neste ano eleitoral de 2022, com percentual de -2,92%, segundo dados atualizados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Mais do que isso, o estado tem o pior índice de desemprego do Brasil, de janeiro a maio, com o fechamento de 10.991 postos de trabalho no estado. Ainda assim, o ex-governador e pré-candidato a senador Renan Filho (MDB) exaltou estar “colhendo os frutos dos investimentos” de seu governo, ao expor seletivamente dados do Caged que colocariam Alagoas como “líder em desenvolvimento no Nordeste” por ter acumulado o melhor saldo proporcional na geração de empregos entre estados nordestinos e o 7º melhor índice do Brasil, em um cenário mais antigo, entre junho de 2021 e maio de 2022.
O político que renunciou ao cargo de governador em abril divulgou, ontem (13), parte dos dados do Caged sobre o mercado de trabalho alagoano, depois de decidir seguir carreira disputando uma segunda vaga de emprego de oito anos no Senado para seu clã Calheiros, ao lado de seu pai, Renan Calheiros (MDB-AL). E não fez referência à seguinte realidade deste ano eleitoral: após sete anos e três meses do governo de Renan Filho, os alagoanos seguem dependentes da sazonalidade dos empregos nos canaviais e no turismo, e têm oportunidades apenas nas safras e nas altas temporadas.
O saldo de empregos exaltado por Renan Filho em suas redes sociais, relativo a junho de 2021 e maio de 2022, é de 29,9 mil contratações, que ele cita como a maior geração de empregos do Nordeste. Proporcionalmente aos demais estados nordestinos, a variação relativa é realmente a maior, de 8,92%. Mas em números absolutos, Alagoas é o 4º pior em saldo de empregos no Nordeste, nos 12 meses citados.
Além de Alagoas, que ostenta saldo negativo de -2,92% na geração de empregos neste ano eleitoral de 2022, somente Pernambuco tem variação negativa, com percentual de -0,03%, tendo fechado 443 postos de trabalho neste ano. Ambos os estados contrariam a tendência nacional da geração de emprego em 2022, que registrou aumento de 2,58%, com saldo positivo de mais de 1 milhão de postos de trabalho abertos, exatamente 1.051.503.
‘Colhendo frutos’
Ao apresentar a estatística que escolheu para divulgar, o ex-governador Renan Filho demonstrou estar satisfeito com o resultado de investimentos que fez em infraestrutura, segurança, educação e saúde. “Trabalhamos duro para melhorar a vida do povo alagoano e vamos continuar lutando pelo desenvolvimento do nosso estado. Já é outra Alagoas, agora, toca pra frente”, escreveu o pré-candidato.
Porém, a realidade é que Alagoas não se livrou da inércia do poder público que mantém os alagoanos vivendo no 3º estado mais pobre do Brasil. A conclusão é do estudo mais recente da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que aponta que 50,36% da população alagoana viveram em situação de pobreza, em 2021. Quadro que só não é pior que os estados do Amazonas (com 51,42%) e do Maranhão (com 57,90%).
Consultado pelo Diário do Poder, o economista Cícero Péricles, professor e pesquisador da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) vê com naturalidade que, em ano eleitoral, as estatísticas sejam usadas conforme o lado em disputa. Mas faz ponderações a respeito da evolução dos dados do Caged no Brasil, desde o primeiro ano da pandemia.
“Em 2020, os saldos na criação de empregos formais (com carteira), no Nordeste (a região que serve para medir Alagoas) foram negativos (BA, SE, PE, RN, e PI) ou pouco expressivos (AL, CE, MA e PB). No ano passado, com a reabertura da economia (com vacinação e a passagem para a fase azul no segundo semestre), os resultados foram positivos e expressivos em todos os estados nordestinos, em decorrência da retomada da economia, principalmente dos setores que eram os alvos diretos do distanciamento social, comércio e serviços, nos quais foram gerados mais de 70% desses empregos em 2021, aumentando o estoque de postos de trabalho. Era esperado porque comércio e serviços representam 72% do PIB estadual e são os maiores empregadores”, avaliou o doutor em Economia pela Universidade de Córdoba (Espanha).
Cícero Péricles ainda ressalta que os dados deste período de ano, de janeiro a agosto, são sempre negativos em Alagoas, pelo período chuvoso, desde março, quando acontece uma combinação entre: baixa estação de turismo e, principalmente, a entressafra da cana-de-açúcar, além da desaceleração da construção civil, comércio com vendas menores porque suas datas boas e maiores são no último trimestre, etc. Uma economia, em muitos aspectos, ainda parecida com a de Pernambuco, que também está com saldo negativo, conclui o economista.
Veja a publicação de Renan Filho exaltando dados do Caged:
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