Um tema muito doloroso
É com profunda dor, compaixão e preocupação que a sociedade tem observado o crescente número de suicídios de jovens. Na semana passada, um caso ocorrido em um colégio de elite de uma grande cidade brasileira tomou conta dos meios de comunicação e, como era de se esperar, suscitou as mais diversas e contraditórias reações.
Não se deve procurar nestes casos uma causa única ou um grande culpado, uma vez que concorrem para situações desse tipo fatores da própria constituição do indivíduo, do seu relacionamento familiar, do peso das circunstâncias presentes e futuras a que o jovem está exposto e o ambiente intolerante – se for o caso – ao que estiver inserido.
Comentando exclusivamente o ambiente escolar, é uma situação não de hoje, mas de sempre, a tendência a que alguns alunos sejam perversamente assediados por seus colegas por alguma característica que possua. Às vezes, esta é uma deficiência física, um precoce sinal de orientação sexual, fazer parte de um grupo étnico minoritário em relação ao resto da turma ou ser de uma família com uma condição sócio-econômica inferior, que se traduza em uma vida extraescolar completamente diferente dos colegas.
São inúmeros os possíveis fatores que expressam no microcosmo sala de aula o festival de desafios vigentes na sociedade e que não encontram nem no ambiente familiar, nem na escola as condições que gerem no jovem a força e as ferramentas para enfrentá-los.
Nesse sentido, raciocinando pelo absurdo, como seria a experiência de inserir cinco alunos privilegiados acadêmica e economicamente em uma escola pública regular? Qual seria o efeito para eles – no sentido de estarem expostos a uma maior diversidade – e para o resto da turma? Por que se pensa que o inverso funciona como modo de estimular o crescimento pessoal, como parece ser o caso de alguns desses infortúnios?
O que me parece bem mais razoável é incentivar que escolas particulares de elite e as diversas fundações e institutos que buscam incentivar uma melhoria da educação incentivem a colaboração, por parte dos segmentos mais afluentes da sociedade, de escolas públicas, levando de forma generalizada os benefícios que podem vir de uma melhor educação para todos os jovens, sem dissocia-los das realidades de suas famílias e das comunidades que vivem. Em outras palavras, o que é imperativo é a elevação do padrão da escola pública brasileira, que tem performado de modo muito inferior, salvo exceções, das escolas privadas e que retrata a incapacidade do Estado brasileiro, em qualquer dos seus níveis – federal, estadual ou municipal – ser minimamente eficaz. Na educação, o Estado também deveria contar com o apoio do setor privado e mais do que isso, com a conscientização por parte das elites que uma escola pública de qualidade é primordial para a melhoria da qualidade de vida e bem estar de toda a sociedade. O ente privado que se dispusesse a colaborar deveria receber alívios tributários compatíveis, uma vez que estaria assumindo responsabilidades financeiras do governo. Por que não criar leis como a Rouanet de incentivo à cultura, para a Educação?
A situação de inequidade entre a educação pública para a privada só acentua a desigualdade social que vem das demais condições de vida e que compromete irremediavelmente o futuro da sociedade brasileira em um século onde a qualidade da educação irá significar, mais do que nunca, a possibilidade de uma vida mais digna para todos.