Maurício Terra

Toffoli e a censura

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O ato do ministro Dias Toffoli em relação à liminar que censurava o vídeo do grupo Porta dos Fundos é o máximo que os produtores da obra poderiam esperar. Não há dinheiro que pague uma propaganda dessas. É difícil calcular quantas pessoas foram atrás do Netflix procurando o vídeo só para saber do que se trata, e o por quê de tanto rebuliço a respeito do trabalho.

Não cabe aqui discutir a qualidade do conteúdo veiculado. Eu mesmo, que não vi a “obra” e nem tenho a intenção de vê-la, discordo da censura. Eu sei do que se trata, eu ouvi e li diversos comentários e opiniões a respeito mas, como não tenho absolutamente nenhum apreço pelo que já vi da mesma produtora e pelo que se deduz do próprio título, tenho a convicção de que não tenho nenhum interesse em averiguar com meus olhos se meu palpite está correto. A minha impressão é a de que o grupo pretendia, com a produção do vídeo, chocar e imobilizar a sociedade com um tema espinhoso e que transformaria qualquer crítica negativa em um motivo para ação judicial de movimentos LGBT do país inteiro. Mais propaganda gratuita para o vídeo.

Apesar de qualquer opinião sobre o valor da obra (opinião negativa, naturalmente) é importante compreender que censura é um ato que só é admissível quando praticado pelo público ou pelo patrocinador. Se não gostou, não assista, não promova e não financie. É bastante simples. Aqui nós vivemos em uma terra de liberdade, onde é possível ter acesso até a monumentos da estupidez como o Mein Kampf, que ninguém é obrigado a ler. Se alguém se sentiu pessoalmente ofendido, tem o óbvio direito de cobrar reparação, mas, enquanto o próprio produtor não decidir que deva tirar o conteúdo do ar, a lei diz que não há como censurá-lo.

Assim, por mais que a população tenha indicado com a eleição de Bolsonaro que encheu o saco dos movimentos de abuso cultural promovidos pelos governos Lula e Dilma, está correto o ministro ao derrubar a censura. Afinal, não temos nenhum aiatolá dando ordens por aqui.

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