Por que uma Quarta-Feira de Cinzas?

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A Quarta-feira de Cinzas é o primeiro dia da Quaresma no calendário cristão ocidental. Ela sempre acontece quarenta e quatro dias antes da Páscoa. Pode ocorrer desde o começo de fevereiro até a segunda semana de março. A tradição da Quaresma vem do início do Cristianismo. Jejuavam-se alguns dias antes da Páscoa. Depois, a duração do jejum foi ampliada. Até hoje, a tradição atualiza no presente o recebido do passado.

O concílio de Laodicéia (364) prescreveu o uso exclusivo de pão e frutas secas, como alimento quaresmal. Dieta vegana. No século VII, a Quaresma ficou definida pela Igreja Católica praticamente como é hoje. A regra para a data móvel de seu início foi fixada em 1091 e rege nossos calendários. A dupla dinâmica da tradição católica, transmitir e atualizar, segue a transformar as formas de viver a Quaresma, na preparação à Páscoa.

O primeiro dia da preparação pascal inicia-se com o rito da imposição das cinzas sobre a cabeça dos fiéis, marca indicativa de um tempo de penitência e conversão. Católicos são convidados a reconhecer, com humildade, seu estado de mortalidade e a revisar sua vida perante os valores perenes do Reino de Deus. A ordem é: convertei-vos e crede no evangelho (Mc 1,15).

Na missa da Quarta-feira de Cinzas, o padre sinaliza a testa de cada participante com cinzas ou as coloca sobre suas cabeças. Elas costumam vir da queima dos ramos abençoados e distribuídos no ano anterior no Domingo de Ramos. Esse simbolismo relembra a antiga tradição do Oriente Médio de jogar cinzas sobre a cabeça, como sinal de arrependimento perante a Deus.

Na Bíblia, cinzas são sinal de dor, aniquilamento, luto e humilhação. Estão associadas a atos de mortificação e penitência, nos quais a nulidade da vida humana está presente. As cinzas ilustram a precariedade da vida humana e o resíduo de uma purificação pelo fogo. As terras agrícolas são fecundadas com cinzas, um verdadeiro adubo. Para a Igreja Católica, as cinzas evocam o tema da vida como uma terra fértil, a ser fecundada pela palavra de Deus. A mortificação quaresmal não tem nada com necrofilia ou depressão. Evoca as palavras de Jesus: se o grão de trigo cai em terra e não morre, fica só, mas se morrer, dá frutos em abundância (Jo 12,24).

A terra é encontro diário dos agricultores. A fórmula bíblica usada na Quarta-feira de Cinzas é explícita: És pó e ao pó voltarás (Gn 3,19). O convite é para uma volta, uma consideração, uma conversão, como no trânsito. Voltar-se no sentido de girar: voltar o olhar para a terra e para si mesmo. Lavrar sua terra sua lavoura, para dar frutos. Bons e em abundância. O corpo humano é nossa primeira terra. Considere: és pó, húmus, homem, feito de barro. Considere o vínculo com a terra-mãe.

Em seu magnífico diálogo com Deus, em defesa dos justos de Sodoma, Abrahão diz: “Vou ousar falar ao meu Senhor, eu que não passo de pó e cinza” (Gn 18,27). Após a morte, pelo enterro no solo ou cremação, o humano reencontra sua terra, seu pó. Humanos são filhos da terra. Obras de argila, trabalho de oleiro (Is 64,8).

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