Passos perdidos*: De crise em crise. E agora é pessoal.
Enquanto escrevo estas linhas Portugal pode estar a caminho de novas eleições legislativas. Na próxima semana é votada no parlamento uma moção de confiança proposta pelo próprio governo. A iniciativa nasce depois de duas moções de censura para a sua demissão e de uma série de notícias que envolvem uma empresa do Primeiro-Ministro. Depois do chumbo da última moção de censura, o governo decidiu avançar com uma moção de confiança que o PS, até agora, diz que vai reprovar provocando assim a queda do executivo. Se assim for, podem ser as terceiras eleições legislativas em três anos. E as quartas eleições me onze meses (regionais em março, legislativas em maio, autárquicas em setembro e presidenciais em janeiro). Cada uma delas pode influenciar o resultado das seguintes.
As sondagens dizem que o resultado final pode não ser muito diferente do que temos agora: um parlamento fragmentado e a atual coligação sem uma maioria clara. Dito de outra forma, mesmo que a coligação volte a vencer as eleições arriscamo-nos a manter o ambiente de instabilidade política e a fragilidade do governo.
A grande incógnita é comportamento eleitoral do Chega e se será capaz de repetir o último resultado (18% e 50 deputados eleitos). Deputados do Chega viram-se envolvidos numa série de escândalos muito públicos (inclusive furto) e foi o autor de uma das duas moções de censura contra o governo. Montenegro fez campanha à volta da promessa “não é não” quanto à possibilidade de chamar o Chega para um governo. E certamente voltará a repetir a promessa. Com a reputação moralista manchada e a sua utilidade posta em causa, manter o resultado será muitíssimo complicado para André Ventura e o seu partido.
Do outro lado, no Partido Socialista, um resultado negativo, numas eleições provocadas, também pode ter consequências. Pedro Nuno Santos é conhecido por se um homem do aparelho e com mão no aparelho. Mas uma nova derrota poderá fragilizar a sua liderança. Já era contestado antes. E a sua promessa de fazer cair o governo já lhe valeu críticas públicas de figuras importantes do seu partido. Será quase inevitável fazer eleições internas.
Mas, para já, é aguardar mais uns dias para saber se realmente teremos eleições. É que nem isso é seguro.