O Mercosil

acessibilidade:

Está com saudade daquele queijo delicioso adquirido durante uma viagem pelo interior? Lembra daquela linguiça saborosa que seu parente trouxe de algum lugar distante? Ou daquele sabonete artesanal maravilhoso comprado em alguma feira regional? Ou, ainda, daquela manteiga que só se encontra em um dado município – e que combina à perfeição com o pão e o café produzidos em um outro?
Agora levante-se e vá a algum mercadinho – qualquer um – para nele encontrar, por exemplo, queijos holandeses, linguiças alemãs, sabonetes italianos, manteiga francesa, pães austríacos e café vietnamita. Dificilmente, porém, um daqueles produtos regionais brasileiros!
É difícil de entender um quadro desses! Exportamos empregos e enfraquecemos a economia nacional de uma forma absolutamente primária. Entregamos o esforço de tantos brasileiros a um desamparo cruel. Nós, e somente nós, os condenamos aos confins do Brasil, limitando-os em tamanho e dignidade.
O culpado maior, como sempre, responde pelo nome de “burocracia”, origem da esmagadora maioria das barreiras comerciais que impedem brasileiros de vender produtos – feitos aqui – para brasileiros.
Há não muito tempo os canadenses decidiram estudar este problema. Descobriram que a simples remoção das barreiras comerciais internas proporcionaria ao país ganhos estimados em US$ 200 bilhões a cada ano!
Apurou-se também que o Produto Interno Bruto (PIB) do Canadá é em média 5,05% menor somente por conta dos custos e restrições impostas pelas barreiras comerciais internas. Fico a pensar nos números brasileiros…
Porém, praga pior nos atinge: o tratamento claramente discriminatório dispensado às pequenas empresas regionais em nosso país, quando comparadas às grandes transnacionais aqui instaladas – estas, não raramente, são presenteadas com benefícios fiscais e facilidades de crédito governamental. Já aquelas… ora, aquelas!
Nas últimas décadas vimos nosso país promover uma segunda “abertura dos portos”, desnacionalizar vasta parcela de sua economia e desindustrializar-se a um ponto perigoso. Nós o temos visto a tentar reduzir barreiras comerciais com estrangeiros, a torto e a direito.
Pois é. Talvez, fascinados por tanta “globalização”, não estejamos percebendo que uma boa iniciativa seria criar, ontem, o Mercosil – Mercado Comum do Brasil.

Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo.

 

Reportar Erro