O caso do pouso de emergência foi assim

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Eu era diretor de comunicação do Senado (isso foi em 2001, 2002) e assessor do então presidente do Senado, Ramez Tebet. Estávamos eu, ele e um senador chamado Jonas Pinheiro, indo para Cuiabá, em um Lear Jet da FAB, com piloto, copiloto e um ajudante de ordens militar.

Lá pelas tantas, Ramez Tebet, que dormiu a viagem toda, vira pra mim e diz:

– Nossa, como Cuiabá está grande. Faz uns 20 minutos que nós estamos sobrevoando a cidade e nada de chegar o aeroporto!

Eu respondi pra ele:

– Presidente, já faz mais de uma hora que estamos rodando aqui, deve estar acontecendo alguma coisa.

Passam mais uns dez minutos, ele chama o ajudante de ordens e pergunta o que está acontecendo.

– Parece que o trem de pouso não abriu; estamos gastando combustível para o caso de termos que fazer um pouso de emergência, e estamos tentando descobrir o problema.

Passa mais uma meia hora, volta o ajudante de ordens:

– O painel está indicando que o trem de pouso não abriu. Nós já gastamos quase todo o combustível. Vamos fazer um voo rasante perto da torre para que eles vejam se abriu ou não (era noite).

Passamos umas três vezes em cima da pista, na altura da torre. Lá embaixo, todos os aviões parados, bombeiro, ambulância, uns carros de serviço na pista auxiliar, um monte de gente olhando pelos vidros.

Volta o ajudante de ordens:

– O trem de pouso de trás abriu e o painel está indicando que ele travou. O da frente baixou, mas o painel diz que ele não travou. Vamos fazer um pouso de emergência.

Daí a pouco vem o copiloto, explicar os procedimentos:

– Nós sabemos que o trem de pouso da frente abriu, mas ele parece não estar travado. Então eles encheram a pista de espuma, para segurar o avião. Nós vamos pousar e tentar manter o bico levantado o máximo possível, porque se o trem dianteiro não tiver baixado nós vamos bater com força no chão e há o risco de a fuselagem partir. Quando a gente tocar o chão, vai ter muita fumaça e cheiro de queimado, mas não se preocupem porque é o cheiro da espuma que vai nos segurar. Quando a gente baixar a frente, se o trem de pouso estiver travado, nós paramos, eu abro aqui na frente e vocês descem rapidinho. Deixem tudo no avião porque os bombeiros vão jogar água pra esfriar o avião.

Aí o Jonas, que estava na saída de emergência, pergunta:

– Não é melhor eu abrir aqui a saída de emergência?

E o copiloto, pra nos “tranquilizar”:

– Não porque aí é em cima da asa e se tiver fogo, pode pegar no restinho de combustível que a gente tem; então vocês saem pela frente.

Jonas olha preocupado pro Ramez. O copiloto continua:

– Agora, se o trem de pouso não estiver travado, o avião vai esfregar o bico no chão. Quando parar, eu abro aqui na frente e vocês saem. Mas, se por acaso a porta travar com a pancada no chão, aí o senhor abre a saída de emergência e vocês descem por cima da asa.

Jonas, ressabiado:

– Mas… e se tiver pegando fogo?

– Bom, os bombeiros vão estar lá fora… Tomem as posições de emergência e, eu aviso quando estiver descendo.

Ramez pegou o celular, olhou pra mim e disse:

– Eu vou ligar lá em casa, dar um tchau pro pessoal…

Eu falei pra ele:

– Presidente, olha só a minha situação. Amanhã vai sair no jornal: “No avião estavam o senador Jonas Pinheiro, o presidente do Senado, Ramez Tebet, e um assessor”. Não sai nem meu nome no jornal!

– Você ainda brinca numa situação dessas? – ralhou Ramez.

Descemos, conforme o plano. Tocamos no chão com as duas rodas, aquele cheiro de queimado, uma fumaceira danada subindo do lado de fora, caminhões de bombeiro, ambulâncias, guinchos, uns carros de serviço, todos seguindo pelas pistas auxiliares, parecia filme. O ajudante de ordens grita:

– Vamos baixar o bico!

O trem de pouso dianteiro toca o chão, tudo normal. O avião para, o ajudante de ordens abre a porta da frente, fala pra gente descer correndo, os bombeiros chegam jogando água nos pneus, colocam a gente nos carros, o povo aplaudindo no terminal de passageiros, levam a gente pra estação de autoridades do aeroporto, daqui a pouco chegam as nossas bagagens, médicos perguntando se a gente tá bem, tudo certo.

Seguimos para o compromisso, Ramez Tebet sobe pra fazer o discurso (que, normalmente, era eu quem escrevia) e, no fim, pede desculpas pelo atraso, narra o episódio e diz:

– No avião estavam o senador Jonas Pinheiro, eu e o meu assessor, o diretor de Comunicação do Senado, Vagner Caldeira.

Desce da tribuna, olha pra mim:

– Viu só? Falei seu nome, pra sair no jornal amanhã!

No fim, descobrimos que os trens de pouso nunca tiveram defeito. O problema era a luz do painel, que deveria indicar o trem de pouso baixado e travado. Estava queimada!

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