Ocino Batista

Não é testemunho, é fuxico

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Lendo a notícia que a ex-mulher do general Pazuello, ofereceu-se para depor na CPI da covid19, recordei um adágio muito popular aqui no nordeste: “Coisa oferecida, está podre ou está sentida”. Na hipótese a expressão “sentida”  refere-se a não cheirar bem. E é exatamente assim, que penso em relação ao pedido da ex do ex-ministro da saúde. Partindo-se do princípio de que ex-mulher, seja qual for o motivo da separação, acredita piamente que a vingança é um prato que se come frio, suponho que a ex-senhora Pazuello viu na CPI da covid o terreno fértil para plantar sua vingança contra seu ex-marido.

Com raríssimas exceções, as relações com ex não são, por assim dizer, um mar de rosas. Ex-aliados costumam infernizar a vida dos companheiros de outrora; Veja-se como exemplo, o caso da deputada Joice Hasselmann, aliada de primeira hora do presidente Bolsonaro, de quem hoje é inimiga de sangue. Na política, em geral, a relação com ex é sempre conflituosa.

Porém, quando a contenda é com uma ex-mulher, aí o bicho pega. Para quem atua ou já atuou em Varas de famílias, há que concordar comigo. A linha que separa o amor e o ódio é muito tênue, e aquele calor que unia dois corpos, transforma-se em chamas do fogo do inferno a separá-los. Nas audiências de separação e divórcio o que se ver é um querendo destruir o outro a qualquer custo, não importa as armas a serem utilizadas no embate, vale usar os filhos, o cachorro, falar mal de familiares, e até chegar ao extremo de revelar segredos de alcova, deixando rubros, experientes juízes e promotores.

O ex-parceiro, quase sempre, tem sede de vingança, seja por um abandono, uma traição, a troca por alguém mais jovem, a sede de sangue está sempre na boca da(o) ex, e quando o ex é uma figura pública, nada melhor que a ajuda da mídia para expor seus defeitos, comprovados ou não, pois os fuxico, as infâmias, calúnias, injúrias e difamações, quando bem espalhadas, são armas poderosas na arte de destruir reputação. Quando o ex em conflito é o homem, não é incomum partir para as vias de fatos e muitos resolvem a questão com uso de violência, e neste cenário muitas mulheres perderam a vida nas mãos dos seus ex, seja marido, namorado ou amante. Políticos famosos, como o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, soube porquê se diz que uma ex-mulher tem força na língua como um boi tem no cangote. Os dissabores causados pelo desamor é o mote mais usado por quem quer vingar-se de um abandono, uma desilusão.

E de bom alvitre que quem deseja seguir carreira política, pense duas vezes antes de separar-se de alguém, pois ex-companheiros, ex-aliados, podem até lhe conceder perdão, mas se for ex-esposa ou amante, renove o estoque de analgésicos, pois vem dor de cabeça por aí.

Ocino Batista é professor e advogado. Email: obsantos@globo.com.

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