Glórias de um botafoguense africano

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Estando eu servindo na Embaixada do Brasil em Abidjan, na Costa do Marfim (protocolarmente Côte d’Ívoire) no início dos anos 80, fui de férias ao Brasil.

O jovem Adama, funcionário da Embaixada que se destacava por sua, digamos, avantajada dimensão vertical, me encomendou uma camisa do seu time brasileiro favorito, o glorioso Botafogo. Com uma ponta de ciúme, propus-lhe oferecer uma do meu Fluminense.

Ocorre que o Fogão tinha feito um jogo, anos antes, em Abidjan e encantou o Adama e toda a torcida ebúrnea (palavra só encontrável nos telegramas da Embaixada). Agradeceu-me, com aquela candura e, mas ao mesmo tempo, dureza que só os africanos sabem ter, mas bateu o pé, também no seu jeito ainda mais africano. Queria a camisa do Botafogo. E pronto.

Será que é isso que ainda se chama, no léxico futebolístico, de amor à camisa? A conferir.

Resignado, comprei no Rio a melhor camisa alvi-negra que encontrei e que se ajustasse à compleição física do jovem africano, pus na bagagem e dei-lha de presente.

Na nossa próxima pelada de futebol de salão de sábado no Lycée Classique o nosso Adama aparece de camiseta normal. E a camisa do Botafogo? interpelei-o, meio admirado (e intimamente satisfeito). Respondeu-me, do alto de seus quase dois metros:

– Pardon, patron, mais le maillot du Botafogo c’est pour sortir avec les jeunes filles du village. (Desculpe, patrão, mas a camisa do Botafogo é para sair com as meninas da aldeia).

Namorador, o malandro viu na bela camisa alvi-negra uma maneira de conquistar as moças da aldeia onde morava, perto da Capital.

Consta que não foram poucas as conquistas.

Dante Coelho de Lima é diplomata.

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