Foi bonita a festa, pá (E a seleção canarinho barrada)

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Com chuva e tudo, poucas vezes Paris foi tão Cidade-Luz como na abertura dos Jogos Olímpicos.

Só faltou uma certa avezinha amarela a esvoaçar, graciosa, ao lado dos pardais que outrora dominavam os céus da Paris. Houve até um tempo em que um deles que se chamava Edith e que, aliás, teve um canto seu coroando a festa (*).

A Seleção Canarinha de futebol masculino, bicampeã olímpica, foi barrada na linda festa de Paris. Não se classificou, um fato que não é isolado, mas que é uma marca a mais na trajetória descendente do futebol masculino brasileiro.

A pífia participação do Brasil na recente Copa América foi a prova definitiva de que as coisas não vão bem. O “escrete canarinho” que no nosso imaginário futebolístico nos traz à lembrança uma certa ave que, hoje já não gorjeia como aqui nem alhures.  No máximo ainda crocita um desafinado pio. Acho até que nem mesmo o ornitólogo Johann Dalgas Frisch, famoso por registrar cantos de aves brasileiras, se interessaria em gravá-lo.

A equipe da Copa América mais parecia um bando de luxuosos pernas-de-pau, chutadores de bola, milionários no paraíso do futebol europeu, com suas tatuagens, brincos e penteadas estilosos que desafiam a criatividade de cabeleireiros de qualquer salão de beleza. A crítica esportiva, que adora produzir mitos, baba em profusão bovina e os chama de “joias”. Sem falar que alguns desses famosos vez por outra acabem deixando a glória do noticiário esportivo para frequentar as páginas policiais em casos escabrosos de  abuso sexual contra marias-chuteiras em inferninhos de luxo.

A coisa está feia. Era uma vez um canarinho que voava alto e bonito e  que encantava os céus do esporte bretão com seu voo gracioso e condoreiro. Hoje não passa de um bando de aves que já não gorjeiam nem aqui nem alhures e que quase se arrastam em grotesca revoada. Voo de galinha, diriam outros.

 É certo que de todos os pretensos favoritos, o Brasil é o único time em formação. Por certo “mal formation”, no jargão médico.

Argentina, Uruguai e a Colômbia têm suas linhas e esquemas de jogo testados e consolidados há tempos. A Argentina tem  quase o mesmo time e esquema  desde que foi campeão do mundo em 2022.

E o nosso arteiro e serelepe Vini, hein?

Pois o Vini, algibeira  polpuda de euros e libras, já não “baila comigo, como se bailava na tribo”. No jogo com a Colômbia, imaturo, mal ensaiou passos (ou passes) nessa dança da desilusão e deixou-se tomar, tolamente, no início do jogo, um cartão amarelo que o tirou do próximo jogo.

E ficou por ali com aquela boca onde parece caber mais dentes do que lhe permite a arcada.

É fogo, Maestro, teria dito o Vinicius, o outro, o de Moraes.

Fomos eliminados pelo Uruguai. Foi em Las Vegas, mais conhecida pelos seus cassinos de amplos salões, seus panos verdes e roletas e mesas do bacará e os caça-níqueis, onde a gente arrisca o vil metal.

Mas naquela noite, não muito longe dali o latifúndio relvado de dimensões regulamentares de 64x100m parecia invadido e colonizado por um MST vestido de azul celeste. O eficiente meio campo do Uruguai, tomado emprestado ao Flamengo, não tomou conhecimento das infrutíferas tentativas de organização tática do grupo de estrelas da bola, “joias” e “meninos-prodígios” brasileiros, mitos que – repito – a imprensa se compraz em criar.

Na reforma agrária promovida pelo “Loco Bielsa” (loucos estamos nós) não tocou um hectare de terra produtiva ao agro (ou talvez, ogro) brasileiro. Naquele pedaço de terra em se plantando nada dá. E deu no que deu.

Já disse que, entre os autoproclamados favoritos ao título desta Copa América, Argentina, Colômbia e Uruguai são equipes há tempos fortemente consolidadas. Só o Brasil continua a renovar seu plantel, com a inestimável participação da crítica especializada, de “joias” valiosas, meninos de olhos brilhando de encantamento, subitamente endeusados e levados a uma utópica Pasárgada europeia, onde quem são os amigos dos reis são os gananciosos empresários.

A Copa do Mundo vem por aí. Até lá alguma coisa tem que ser feita para recuperar o prestígio do futebol brasileiro, e da seleção canarinho, aquela outrora “Pátria de chuteiras”, esse grande negócio em que hoje  se converteu. O, tempora,

(*) Lembremos que Piaf significa pardal em francês. A famosa cantora Edith Piaf teve um de seus maiores sucessos, Hymne à l’amour, cantada no encerramento da festa da abertura das Olimpíadas de Paris.

Dante Coelho de Lima é diplomata.

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