Como a uberização do trabalho contribui para a crise climática

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A uberização do trabalho caracteriza-se pela aparente autonomia dos trabalhadores, que atuam como se fossem  parceiros de aplicativos de transporte e de entregas. Esse modelo é bom para os usuários, que passam a ter mais opções de locomoção, mas gera precarização laboral: motoristas e entregadores trabalham longas jornadas sem intervalos adequados de descanso, sem garantias trabalhistas e à mercê da própria sorte e dos algoritmos que definem seus ganhos.

Se expandirmos a reflexão para o contexto climático, percebemos que o excesso de veículos vinculados a aplicativos de transporte tem um impacto ambiental significativo. O Brasil é o segundo maior mercado da Uber no mundo, com 1 milhão de motoristas cadastrados, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. O aumento da poluição atmosférica, causado pela queima de combustíveis fósseis, e o descarte inadequado de resíduos por motoristas e passageiros contribuem para a degradação ambiental e agravam o aquecimento global.

O tema é tão preocupante que algumas cidades e estados dos Estados Unidos vêm implementando políticas para reduzir as emissões de carbono geradas por motoristas de aplicativos. Em Nova York, por exemplo, foi estabelecida a meta de que 100% dos veículos da Uber e Lyft sejam elétricos até 2030. Já Seattle e São Francisco impõem taxas ambientais sobre viagens de aplicativos e oferecem incentivos para motoristas que utilizam carros elétricos.

No Brasil, algumas cidades começam a avançar nessa direção. São Paulo implementou um programa que incentiva o uso de veículos elétricos, oferecendo isenção do rodízio municipal para carros elétricos e híbridos. Além disso, há propostas em discussão para restringir a circulação de veículos de aplicativos em determinadas áreas da cidade, com o objetivo de reduzir congestionamentos e emissões. Curitiba, por sua vez, desenvolve um projeto de mobilidade sustentável que inclui incentivos para motoristas de aplicativos que optem por veículos elétricos.

Essas iniciativas representam um progresso rumo a uma uberização mais sustentável e demonstram que é possível equilibrar eficiência dos serviços e preservação ambiental. No entanto, os carros elétricos não são uma solução definitiva para a sustentabilidade. Ainda é necessário investir em fontes de energia renováveis para recarga, aprimorar a reciclagem de baterias e incentivar o transporte coletivo e a mobilidade ativa (como bicicletas e caminhadas), que geram impacto ambiental ainda menor. Diante da urgência da crise climática, medidas concretas precisam ser adotadas sem demora, e o setor de transporte por aplicativo não pode ficar à margem desse processo.

Willian Corrêa é jornalista, correspondente do Diário do Poder nos Estados Unidos.

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