Cão que ladra não morde, doutor Guedes
Barra de S. Miguel, AL – Há dias, o Paulo (Posto Ipiranga) Guedes fez uma demonstração explicita do seu comportamento zombeteiro e arrogante. Achando-se o todo poderoso da república bolsonarista, deu-se ao direito de desafiar os empresários ameaçando cortar recursos do sistema S que são usados na educação, principalmente em cursos profissionalizantes. Poderia, a bem da verdade, fazer as ponderações sobre o que pensa das instituições em petit comitê, como ensinam os manuais de boas maneiras, mas preferiu os holofotes para mandar o seu recado que atravessou os ouvidos do presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, como ferro em brasa.
A atitude de Guedes foi no mínimo indelicada com os anfitriões que o chamaram à federação para saber das suas ideias para a economia. E ao justificar os cortes no sistema, saiu-se com essa pérola: “Tem que meter a faca no sistema S também. Estão achando que a CUT perde o sindicato, mas aqui fica tudo igual? Se tiver a visão do Eduardo Eugênio corta 30%; se não tiver, corta 50%”. O argumento de Guedes beira à idiotice, mas deve ser atenuado pelo bom vinho que lhe foi servido pelos comensais do PIB carioca.
A questão que o Posto Ipiranga levanta é fácil de responder: a CUT, doutor Guedes, arrancava dinheiro dos trabalhadores. O sistema S, dos empresários. É simples assim. E se os empresários não reclamam, como os trabalhadores reclamavam dos pelegos e parasitas sindicais, é porque querem continuar contribuindo. Essa sua tese de que a contribuição pesa no custo das empresas e, portanto, nos preços finais ao consumidor, é uma balela, uma falácia. Um argumento artificial e infantil para quem se propõe a destravar a economia e fazer o país crescer.
A indelicadeza do Posto Ipiranga pegou de surpresa a plateia de empresários que esboçou um sorriso nervoso ao ouvir a fala do futuro ministro. Guedes foi grosseiro com os anfitriões. Foi indiferente até aos salamaleques oferecidos a ele durante a visita, fazendo um carnaval fora de tempo. A intenção, como deixou claro, era constranger os empresários que saíram do encontro sem entender bulhufas das propostas dele sobre a economia. Até agora o ministro não apresentou nenhum plano factível para tirar a economia do caos e gerar emprego e renda. Trabalha com a ideia de vender o país negociando as empresas estatais rentáveis, como a Petrobrás, por exemplo. O resto, por enquanto, é factoide para disfarçar o vazio das suas intenções.
Guedes fez insinuações sérias na Firjan. A primeira delas é a de que estaria disposto a fazer menos cortes nas receitas do sistema S, que provêm da contribuição dos empresários, se a conversa for boa. Que conversa, Guedes? É aquela feita nos bastidores, longe dos olhares dos contribuintes, dentro de um gabinete sem testemunha? É assim, no conchavo, que vai agir a república bolsonarista? Pegou mal, você precisa se explicar melhor. A outra é de que os dirigentes do sistema não utilizam bem o dinheiro arrecadado. Uma acusação leviana – se não for provada – que joga lama em todo colegiado da CNI.
Ora, se o Guedes suspeita que o dinheiro arrecadado não está sendo bem utilizado que procure os meios legais para impedir a devassa quando assumir o ministério. Se não tem indícios do desvio, que se reserve nos comentários para não correr o risco de governar com factoides e desacreditar o governo que lhe deu cartas brancas para agir. Mas com responsabilidade.
O Posto Ipiranga não entendeu ainda que o seu discurso prosaico na Firjan foi para uma plateia que participou ativamente da campanha do seu chefe, o capitão Bolsonaro. Os empresários, que compõem essas entidades patronais, defenderam a bandeira do Bolsonaro com unhas e dentes pela afinidade ideológica que une a classe e o novo presidente. Esses mesmos senhores aplaudiram o Bolsonaro em uma de suas visitas de campanha a CNI em Brasília. E quando questionados sobre a cabeça oca do capitão em relação aos problemas do país, saíram em sua defesa: “Ele não sabe nada, mas o Posto Ipiranga sabe tudo”, disse um deles na saída do encontro.
Agora, empoleirado no poder, Guedes bota as unhas de fora exercendo o seu poder paralelo como se dependesse apenas dele todas as decisões do governo. Ora, doutor Guedes, essa sua posição autocrata só é possível em um regime de força, numa ditadura. Numa democracia, como a que vivemos, deve-se respeitar o parlamento por onde vão passar nove das suas dez propostas econômicas. É lá que o senhor deve explicar direitinho o seu plano econômico, convencer os senadores e deputados para não frustrar os eleitores do capitão.
O brasileiro já se acostumou com essa fanfarrice dos que chegam ao poder achando que pode tudo por esperteza ou ingenuidade. O povo, na sua sabedoria, sabe que cão que ladra não morde.