Análise: ‘moeda única’, sonho de mil e uma noites

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Na visita que fez a Argentina, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, juntamente com o presidente Alberto Fernandez da Argentina, admitiram a criação de uma moeda chamada ‘Sur’, que seria “única” usada pelos dois países.

A ideia de criar uma moeda comum entre Brasil e Argentina até já foi cogitada dentro do próprio governo de Jair Bolsonaro (PL), com aval do ministro da Economia, Paulo Guedes, sem nunca ter sido levada adiante.

A moeda única na América do Sul é ainda um sonho de mil e uma noites.

O principal argumento é que protegeria os países das flutuações do dólar.

Impossível essa desvinculação do dólar.

A Rússia e a China já discutem alternativas de moeda única, mas não conseguiram porque o dólar é uma moeda mais forte do que as outras.

Se o Brasil quer ter uma moeda referência, atrativa, para que outros países utilizem o real como reserva, precisa ter uma moeda mais forte.

Uma moeda única pressupõe mercados de trabalho e financeiros eficientes.

Na América Latina os ciclos econômicos estão fora de fluxo e as políticas macroeconômicas não são coordenadas.

Logo não cabe falar em moeda única.

Com a Argentina em ‘crise permanente’, caberia ao Brasil bancar a maior parte da conta.

Infelizmente, a realidade é que o Mercosul tem sido imperfeito e está entre os blocos mais fechados do mundo.

Por exemplo, a negociação do acordo de livre comércio com a União Europeia já dura mais de 20 anos e não é aprovado.

Este é um sinal do estado de imaturidade da integração latino-americana, longe da meta de uma moeda comum.

Às vésperas de completar 25 anos, o euro não serve como parâmetro para a América Latina.

Veja-se que a integração europeia é um processo, que teve início após a Segunda Guerra Mundial, na década de 1950.

Ainda hoje existem dificuldades.

Cabe salientar que a Europa decidiu pela moeda única principalmente porque queria uma maior integração política para amarrar a Alemanha e evitar problemas com a tendência histórica desse país querer dominar a Europa.

A circulação do euro começou em 1º de janeiro de 2002, três anos depois de seu lançamento.

Entre 1999 e 2002, a moeda era usada para pagamentos eletrônicos.

Doze países da UE aderiram ao euro na época.

Hoje o euro é a moeda oficial de 19 dos 28 Estados-membro.

Há, portanto, países europeus, que não aceitam essa moeda.

Os problemas da América Latina poderiam avançar em busca de soluções, se ao invés de moeda única, fosse proposta a “Integração Latino Americana, o que aliás é previsto na Constituição do Brasil.

Integração é diferente de moeda única.

Esse caminho seria viável e a moeda única viria como consequência a longo prazo.

Começar pela moeda é totalmente errado

  1. Sobre a Comunidade Latino Americana de Nações falarei posteriormente. Na presidência do Parlatino patrocinei muitos estudos sobre esse tema.
Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, procurador federal – nl@neylopes.com.br – blogdoneylopes.com.br

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