A melancólica retirada de Boris Johnson

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Após sucessivos desgastes por parte de seus ministros e outros funcionários do governo, Boris Johnson, primeiro ministro inglês, renunciou ao posto de primeiro-ministro do Reino Unido.

Ele desocupará a posição de premiê menos de três anos depois de conduzir seu partido, por uma vitória eleitoral que provocou grande repercussão em 2019.

Johnson deve continuar no cargo por mais três meses, até que os conservadores apontem seu substituto por meio de eleições internas.

Iniciam-se as etapas para escolha de quem ocupará o cargo.

Os candidatos precisam do apoio de pelo menos oito deputados conservadores para concorrer.

Se houver mais de dois candidatos, os parlamentares conservadores realizam uma série de votações até que restem apenas dois.

No primeiro turno, os candidatos devem obter 5% dos votos para continuar na disputa (atualmente isso significa receber os votos de 18 parlamentares).

No segundo turno, o apoio tem que ser de 10% (36 parlamentares).

Nas rodadas subsequentes, o candidato com o menor número de votos é eliminado.

Quando restarem apenas dois, todos os membros do Partido Conservador – pouco mais de 100 mil integrantes – votarão em uma eleição para determinar o vencedor.

Acredita-se que esse processo deva finalizar em setembro.

Quando conhecido o nome do eleito, Boris Johnson oferecerá sua renúncia à rainha Elizabeth 2ª e ela, por sua vez, convocará o novo líder do partido para formar um governo.

A renúncia de um primeiro-ministro não implica eleições gerais automáticas.

O legado de Boris Johnson não é dos melhores.

Ele defendeu o “Brexit”, saída do Reino Unido da União Europeia, que foi uma das decisões mais erradas da história.

Após a saída, o Reino Unido tem a maior inflação e o pior crescimento dos países do G7.

Insiste numa política de imigração chauvinista, a base do extremismo político de direita, quando faltam milhares de trabalhadores na agricultura, indústria e serviços e não consegue navegar sozinho no encaminhamento de questões delicadas como pós Covid e guerra da Ucrânia.

O termo chauvinismo significa patriotismo doentio, nacionalismo extremado, orgulho nacional exacerbado e cego.

Com tais comportamentos, Boris conduziu o Reino Unido ao isolacionismo, em nome da vã tentativa de regressar à glória passada.

Ao anunciar a renúncia, o primeiro ministro saiu-se com uma frase ridícula.

Disse ele: “Quero que saibam quão triste estou de abdicar do melhor emprego do mundo”.

Sem dúvida, uma melancólica retirada.

Estava mesmo na hora dele deixar o cargo.

 Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino Americano (PARLATINO); e- Presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara; procurador federal; professor de Direito Constitucional da UFRN – nl@neylopes.com.br – blogdoneylopes.com.br

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