A mão de obra intensiva no Brasil urbano
O fechamento do primeiro semestre deu sinais de que a acomodação pós-covid chegou aos setores de turismo e eventos com níveis superiores a 2019. Indutores do desenvolvimento econômico, são áreas fundamentais para os centros urbanos.
Em 2012 as cidades assumiram a dianteira como destino de viagens, segundo a ONU Turismo — novo nome da Organização Mundial do Turismo (OMT). As paisagens naturais continuam no imaginário e são fundamentais para os momentos de lazer, mas as metrópoles e sua efervescente oferta cultural e de entretenimento assumiram a dianteira.
No Brasil, o destaque natural é para São Paulo. No ano passado foi reconhecida como destino global da música (fonte: Unesco) e, no âmbito doméstico, foi a mais vendida pelas operadoras de viagens, desbancando cidades do Nordeste que historicamente lideravam o ranking, segundo a principal entidade do setor, a Braztoa.
Em 2024, o balanço do primeiro semestre foi positivo — junho teve o melhor resultado para a hotelaria nos últimos seis anos, com ocupação média de 71,6%. O calendário de grandes eventos da segunda metade do ano promete manter aquecido o consumo na capital: estão previstas 233 montagens com capacidade de atração de turistas, 15% mais que no mesmo período do ano passado. Isso sem incluir encontros menores, em hotéis, ou peças de teatro, por exemplo.
Pelas peculiaridades desse mercado, de todos os dados econômicos, o mercado de trabalho deve sempre ser acompanhado mais de perto. Dele derivam a produtividade, a diminuição da desigualdade, o impacto no Produto Interno Bruto e até a redução dos programas de transferência de renda.
Estratégicos, turismo e eventos são setores de mão de obra intensiva; mais que isso, a interação humana é parte do produto. Quanto mais visitantes, mais pessoas trabalhando para atendê-los. Com a vantagem de não serem necessários grandes investimentos públicos diretos, apenas iniciativas que tornem as cidades melhores para os moradores, como segurança e mobilidade.
Em São Paulo perto de cem mil pessoas trabalham para que os eventos possam acontecer. Atrair e realizar mais é fundamental para a garantia desses empregos. Podem ser feiras de negócios, congressos, shows ou montagens esportivas — de preferência, simultâneos, pois atraem públicos diferentes.
Nos últimos anos os saldos na criação de empregos no turismo na cidade (contratações menos demissões) foram positivos em 32,1 mil em 2022, 28,6 mil no ano passado e o primeiro semestre deste ano ficou em 12,7 mil, indicando que 2024 deverá ficar cima dos 20 mil.
A criação de mais postos de trabalho, em todos os setores, pode ser incentivada pelo controle da inflação e uma esperada redução nas taxas de juros, o que carreará recursos para os setores produtivos, aumentando a necessidade de mão de obra — pelo menos é o que se espera. O risco, então, será a pressão no custo de vida devido ao aumento do consumo: mais pessoas trabalhando, mais salários pagos, mais dinheiro em circulação.
Estes bons resultados setoriais em turismo e eventos não podem ser vistos como uma meta alcançada — recuperar os índices de 2019 —, mas sim a base para que os setores castigados em 2020 e 2021 revejam suas estruturas e sigam se desenvolvendo — e contratando. Pelos perfis profissiográficos, turismo e eventos são a porta de entrada para jovens e oferecem uma séria de possibilidades de carreira, independente da formação.