Ney Lopes

A falta de Marco Maciel na política nacional

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Em 1975 elegi-me deputado federal pela primeira vez. Em Brasília, por acaso, o meu vizinho de apartamento era o deputado Marco Maciel.

A partir daí formou-se sólida amizade com o longilíneo pernambucano, conhecido como “mapa do Chile”, por parecer fisicamente com os traços geográficos do país de Pablo Neruda.

Na longa convivência com ele, nunca vi ninguém tão bem-intencionado, vida limpa e honradez, desde a relação familiar, até as condutas públicas.

Foi feliz o advogado e jornalista José Ângelo Castelo Branco, ao escrever a sua biografia e intitular o livro de “Marco Maciel — Um Artífice do Entendimento”.

Ao ver a crise brasileira atual, lembro do que ele dizia: “não há crise econômica. Há crise política”. Achava que as reformas somente deveriam ser feitas, após a aprovação da “reforma política, eleitoral e partidária”.

Discreto, sempre repetia a necessidade do político prevenir-se contra os invejosos e os autoficientes.

Certa vez, aconselhou ao seu primo Everardo Maciel, que dirigiu a Receita Federal com extrema competência, que não publicasse a sua declaração do Imposto de Renda, do ano em que entrou em cargo público e o da saída.

Afirmou, que se ele fizesse isto, os invejosos se tornariam seus inimigos mortais pelo resto da vida, por não poderem fazer o mesmo, além de taxarem de arrogância e açodamento.

Maciel era liberal convicto. Tinha amizade com todos os grupos. Nunca conspirou contra as esquerdas. Tornou-se amigo pessoal de Oscar Niemeyer, comunista confesso e usava a veia do conciliador.

Episódio curioso foi a sua escolha para vice de FHC. O PSDB queria alguém que andasse de camisa aberta, popular, perfil voltado para as massas e nordestino para atrair votos na região. Marco não tinha esse perfil, andava de paletó e gravata, não chamava palavrão, era religioso, comungava, ia semanalmente a missa.

O escolhido foi Guilherme Palmeira, senador de Alagoas. Houve um incidente desagradável, que levou Guilherme a renunciar.

Jorge Bornhausen, presidente do PFL, sem consultar FHC, indicou Maciel, que enfrentou resistências do tucanato. No seu livro de memórias, FHC confessou que ele foi o vice dos sonhos, não criava problema e resolvia tudo o que era para ser resolvido.

Sobre o seu zelo pelo dinheiro do contribuinte, o jornalista Fernando Castilho, em recente artigo, relatou que deputados do PT quiseram saber, se o vice-presidente já tinha feito como gestor algo de errado ou suspeito.

Perderam tempo e concluíram que só poderiam combater Marco Maciel pelas suas posições políticas. Procurar mal feito dele seria perder tempo.

Por todos estes fatos, justifica-se o título deste artigo. Hoje, com 80 anos, Maciel é vítima do Alzheimer. Vive “fora do mundo”, assistido pela dedicada esposa Ana Maria e filhos.

A sua vocação política foi gerada na política estudantil.

A atual escassez de líderes no Brasil é consequência do governo revolucionário ter editado o Decreto nº 62.024/67, que criou a “Comissão do General Meira Matos”, com o objetivo de reprimir o movimento estudantil.

Caso esse vandalismo não tivesse ocorrido, muitos jovens, gerados nas lutas universitárias, estariam preenchendo a lacuna da falta de um conciliador, no estilo Marco Maciel, na atual política nacional.

Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, procurador federal – nl@neylopes.com.br – blogdoneylopes.com.br

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