José Mauricio de Barcellos

Tramoias

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Tenho encontrado, aqui e acolá, alguma resistência contra meu profundo desprezo e total descrédito em relação, hoje em dia, aos políticos de um modo geral. A esta altura, sou obrigado a dizer que ainda não vi uma só razão, um só motivo, por mais benevolente que queira ser com tudo isso que aí está, para acreditar que o Brasil vai, desta feita, se livrar, a partir das eleições gerais deste ano, daquela gente ruim principalmente por conta do enorme sofrimento e vergonha que nos foram impostos nas últimas décadas. Lamento, mas não vai.

Não estou capitulando, apenas sendo realista. Quando falo assim é porque quero agir. Quando reconheço tal estado de coisa é porque não me permito iludir. Quando alerto para o enorme perigo ao qual a sociedade brasileira está submetida é porque estou convicto de sua missão de vigilância e de resistência e do poder-dever que nos impõe a tarefa de nos opormos com todas as forças, todos os dias e todas as horas a essa gente, corrupta, incapaz, incompetente e voraz.

Reconheço que, ultimamente, algumas medidas vêm de serem adotadas contra as quadrilhas de Sarney a Temer que nos governam desde os idos de 1985, porém convenhamos, é muito pouco diante da enorme proteção de que desfrutam, mormente porque a impunidade deles decorre de regras que estão cravadas no atual texto constitucional, isto é, a lei da magna guarita para os poderosos, para os ladrões e para os vendilhões da Pátria.

De dois anos para esta parte o povo nas ruas exigiu e alcançou, através do milagre cívico da Lava Jato, o desbaratamento de parte das sociedades de criminosos que estavam à frente do executivo e do legislativo.

A limpeza já realizada está longe de ser suficiente, tanto quanto assim me parecem que o são, também, outras medidas adotadas como: o desmascaramento ou a prisão das principais figuras dos Partidos que constituíam a base dos governos do PT; o encarceramento dos poderosos e a consequente queda dos seus impérios da corrupção que sustentavam os tais governos; a proibição do fluxo de dinheiro podre que ia do empresário patife para mãos de todos os políticos no Brasil, sem exceção; o incremento de boas medidas de fiscalização e de patrulhamento das campanhas políticas e outras que tais.

Penso que nada disso resultará, depois de 2018, num novo Congresso Nacional e estou certo de que o político que não estiver inelegível ou preso, por mais patife que seja, vai se reeleger. Essa corja suprapartidária trabalha para isso todo santo dia e, nas nossas barbas, aprova planos, leis, medidas e dão sequencia aos conchavos e às tramas que os manterão nos privilégios de sempre, ainda que um ou outro não se reeleja. Vou dar um exemplo.

Com a escassez de dinheiro para suas campanhas políticas, em virtude da proibição do aporte de recursos vindos dos empresários ladrões, os políticos estão se virando de toda forma para se elegerem. Por conta disso estão na iminência de conseguirem contar com o concurso e o apoio de mais de 65.000 cabos eleitorais que “de grátis” trabalharão para eles. Vou explicar.

Uma Comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou, por unanimidade, novas regras para a criação de municípios por meio do Projeto de Lei Complementar (PLP) 137/15, vindo do Senado onde foi aprovado com os votos do PT e do PMDB, que prevê plebiscito e estudos de viabilidade municipal para criação, incorporação, fusão e desmembramento de municípios. A matéria que teve o regime de urgência aprovado na última quarta-feira (16/05), com o entusiasmado apoio do Presidente da Casa que quer ser candidato à Presidente da República, está pronta para ser votada, em Plenário, desde o dia 22 do corrente e precisa do apoio de um mínimo de 257 deputados. Desta forma o Brasil que tem hoje 5.570 municípios poderá chegar a quase seis mil. Há uma cortina de fumaça que fala da criação só de 200 municípios, mas aqueles maganos bem sabem que estamos falando em cerca de 400 novas cidades.

Sendo desta forma ponderem. Por via de consequência, serão mais 400 prefeitos e mais 400 vice-prefeitos; mais 4 mil vereadores, mais de 1200 secretários, mais de 40 mil funcionários públicos para os partidos indicarem e mais de 20 mil cargos em comissão. Cada um desses novos chupins da máquina pública estará em campanha para o político que lhe prometer um cargo público. O custo de tudo é incalculável tanto quanto será o tamanho da malversação de dinheiro do erário nas mãos dos novos alcaides e seus gestores ao contratar, comprar, gastar e inventar moda. A consequência disto é inevitável: menos médicos, menos professores, menos policiais tudo advindo de muita falta de vergonha na cara. Isto a imprensa calhorda não divulga, Agora, por exemplo, só está preocupada em difamar os militares e em cuspir no prato de quem lhes cevou por décadas. Assim, pouca gente sabe daquele conluio e quem ouviu falar não dimensiona o tamanho da encrenca. Percebam o absurdo. Um dos três Estados mais pobres e menos desenvolvidos do Brasil tem uma lista de 80 novos municípios para serem criados. É crível?

A tônica do procedimento dessa corja é comum para todos. O criminoso Zé Dirceu tomou uma cadeia de 30 anos porque, entre outras razões, mesmo depois de pego e condenado na Operação Lava Jato, durante o processo do mensalão do PT, continuou roubando. Da mesma maneira procedeu seu chefão Lula. É muito descaramento.

Aqui, a desfaçatez dos nossos congressistas segue no mesmo diapasão. Como se não fossem demais os 2, 5 bilhões que a Nação vai tirar dos desvalidos para pagar a reeleição de toda essa gente que fez tanto mal o País, aqueles insaciáveis querem mais, sempre muito mais. Até o derradeiro dia de seus mandatos vão sangrar o Tesouro; vão trair os eleitores, vão atraiçoar a Nação, vão mentir, enganar, faltar com a verdade e quando voltarem absolvidos nas urnas darão continuidade às suas tramoias de sempre. Digam se não é verdade. Digam se estou em erro ou, pelo menos, que exagero um pouco.

José Mauricio de Barcellos, ex-consultor Jurídico da CPRM-MME, é advogado. Email:bppconsultores@uol.com.br.

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