Testamos a Renault Oroch Outsider, que insiste no erro dos dois airbags
A primeira picape intermediária do Brasil conta com um bom conjunto mecânico e preço abaixo das rivais, mas peca nos itens de série
O segmento de picapes intermediárias é um dos mais novos no Brasil e um dos mais confusos também. Criado em 2015 pela Renault Oroch, a categoria ganhou – muito – destaque com a Fiat Toro, lançada no ano seguinte. Apesar da italiana fazer um malabarismo para dizer que foi a criadora do segmento, a pioneira é a francesa.
Nestes quase 10 anos, a categoria passou boa parte deles com apenas as duas representantes. Muitas marcas ensaiaram entrar na disputa, mas poucas realmente o fizeram. Apenas em 2022 veio a terceira representante, a Ford com a Maverick, em uma pegada completamente diferente de Oroch e Toro. No mesmo ano, a Chevrolet apresentou a nova Montana.
No ano passado, a Ram entrou na disputa com a Rampage, tendo outra pegada, completamente diferente das outras quatro. Com isso, a categoria conta, hoje, no Brasil, com cinco representantes. Sendo que as primas Toro e Rampage são as únicas com opção diesel e tração 4×4. A Maverick tem uma versão com tração integral e outra híbrida.
Já Montana e Oroch são as únicas totalmente voltadas para a cidade, apenas com motorização flex e tração 4×2. O problema é que, apesar de ser a menos cara de todas e ter um bom motor na versão topo de linha, a Outsider – o nosso “Teste da Vez” –, a Oroch peca muito nos equipamentos, principalmente para um veículo de uso urbano.
Precificação
O valor da versão topo de linha da Oroch tem poréns diferentes. Apesar de salgada, parte de R$ 153.790, mas pode chegar a R$ 155.790 dependendo da pintura (uma igual a unidade que testamos, a “cinza lune”, acrescenta R$ 2 mil), ela é mais barata que as rivais. A Montana RS, opção mais completa da concorrente direta da francesa, bate R$ 158.550.
Já a líder absoluta da categoria, a Toro, na versão mais completa a gasolina, a Volcano, chega em R$ 171.990 (ou seja, R$ 18 mil a mais que a Oroch). Mas a versão intermediária da italiana, a Freedom, que tem alguns itens melhores do que a francesa, sai praticamente pelo mesmo preço, R$ 156.990. Maverick e Rampage superam, e muito, os R$ 200 mil.
Semelhança familiar
Apesar de não ter mais o nome Duster, a Oroch segue com o visual praticamente idêntico ao irmão SUV. Ela segue o estilo da renovação do utilitário ocorrida em 2020 (o da picape foi em 2022). O destaque visual da Outsider fica pelos “airbumps” no para-choque dianteiro. Além de apresentar um estilo mais robusto à picape, ele agrega faróis auxiliares à francesa.
O equipamento está presente também nas laterais, funcionando como um “fake” estribo (a peça é apenas visual e não serve de suporte para acessar a cabine) e na traseira. Ela ainda conta com santo antônio exclusivo para versão, rack de teto e alargadores de para-lamas.
Na cabine, o destaque fica pela central multimídia do tipo flutuante, pelo filete laranja que corta o painel de um lado a outro e pelo acabamento escurecido. No entanto, os materiais são simplórios – uso abundante de plástico duro –, o acabamento é bem feito, sem rebarbas e não há peças mal encaixadas.
Por compartilhar a plataforma com o Duster, o espaço traseiro é bom, levando quatro adultos com conforto, um quinto sempre gera apertos desnecessários. A caçamba, que vem com capota marítima de série, pode levar até 650kg.
Os deslizes
Desde o facelift, os itens de série da Oroch contam com um gigante porém, mas com a recente atualização do irmão Duster, o problema ficou ainda mais escancarado, ter apenas dois airbags (o SUV finalmente conta com seis). A marca passa a impressão de que, não fosse a legislação, não teria nenhuma bolsa de proteção. Vale lembrar que o Kwid tem quatro.
No mais, a lista de equipamentos é mediana, principalmente para uma picape de mais de R$ 150 mil. Ela vem com ar-condicionado digital, central multimídia com tela de oito polegadas e conexão sem fios para smartphones, computador de bordo com velocímetro digital, bancos com revestimento premium, os básicos vidros, travas e retrovisores elétricos e capota marítima.
Na parte da segurança, nada demais também, ela vem apenas com controles de tração, estabilidade e anticapotamento, assistente de partida em rampas, piloto automático, luz de circulação diurna halógena, sensores de estacionamento, crepuscular e de chuva (esses dois últimos os maiores diferenciais) e câmera de ré.
Para se ter uma ideia, por um preço parecido (R$ 157.990) o Duster Outsider é muito mais bem equipado. Além dos seis airbags, ele vem com câmeras 360º, carregador para smartphones sem fio, monitoramento de ponto cego, assistente de frenagem de emergência, chave tipo cartão sensorial e partida por botão, nenhum destes estão presentes na Oroch.
Ponto alto
Apresentado no facelift, o conjunto mecânico da Outsider é o grande destaque da Oroch. A picape conta com o moderno motor 1.3 TCe. A caixa turbinada gera ótimos 170 cavalos e 27,5kgfm de torque e está aliada a transmissão automática CVT, direção eletro-hidráulica (o maior deslize) e suspensão independente nas quatro rodas.
O motor encaixou perfeitamente na picape. Ela tem fôlego e vitalidade de sobra com a caixa turbinada. Ao contrário de modelos aspirados, a transmissão CVT surpreende positivamente, pois encaixa bem com o propulsor turbo. O conjunto garante uma pegada esperta e sem ruídos exagerados, como é de costume destes modelos.
Com o bom casamento do câmbio com o motor, a picape é bem esperta. Toda manobra é feita com extrema facilidade, sejam ultrapassagens, saídas ou retomadas de velocidades, basta o mais leve toque no acelerador para a caminhonete disparar pelo asfalto.
A suspensão é outro ponto positivo. Por ser independente multilink, o sistema trabalha bem, não repassa as – muitas – irregularidades do asfalto para a cabine. Até em trechos mais acidentados, como estradas de chão, ela manda bem, mas nada muito exagerado, já que ela não é uma caminhonete 4×4.
Como é monobloco, uma característica da categoria, a Oroch também tem uma boa dirigibilidade, que fica ainda melhor com a motorização turbo. Em momento algum ela sai de traseira, até mesmo em curvas de alta velocidade, fica sempre “na mão”. Mesmo acelerando fundo, ela não sai do traçado.
O grande porém do conjunto mecânico é a direção, que deveria ser elétrica, a Renault segue insistindo no sistema eletro-hidráulico ultrapassado. O consumo poderia ser melhor, apesar de não ter sido ruim, mas longe de ser bom também. Ao fim do teste, com gasolina, e rodando basicamente na cidade, a picape marcou 9,2km/l.
A opinião do Diário Motor
O maior porém da Renault Oroch é a relação preço versus lista de equipamentos. Custando praticamente a mesma coisa do irmão Duster, e ser praticamente uma versão com caçamba do SUV, tem muito menos itens de série, principalmente de segurança. E, em pleno 2024, um veículo de mais de R$ 150 mil não pode contar apenas com dois airbags.
Ela até poderia não ter os outros itens como o irmão, da forma que não conta, mas as bolsas de proteção meio que é obrigação em qualquer veículo, ainda mais nesta faixa de preço. O conjunto mecânico, apesar da direção eletro-hidráulica, funciona muito bem e ajuda a levantar a nota da picape, garantindo uma excelente dirigibilidade. Graças a ele, vale fazer o teste, com uma possível compra! Nota: 6.
Ficha Técnica
Motor: 1.3 turbo
Potência máxima: 170cv
Torque máximo: 27,5kgfm
Direção: eletro-hidráulica
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: a disco na dianteira e tambor na traseira
Capacidade de carga: 650kg
Dimensões (A x L x C x EE): 1.634 x 1.834 x 4.719 x 2.829mm
Preço: a partir de R$ 153.790
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