Primeiras impressões: Renault Oroch Outsider e sua crise de rivalidade

A picape ganha motor turbo, tem uma parca atualização nos equipamentos e, apesar de intermediária, mira na Fiat Strada

São Paulo (SP) – Quando em 2015 a Renault apresentou a Oroch – há época ainda sob a alcunha de Duster Oroch – a francesa inaugurava uma nova categoria no mercado brasileiro, a de picapes intermediárias, ou seja, maiores que as compactas e menores que as médias. 

Apesar de ser a primogênita do segmento, pouco tempo depois ela viu surgir um dos maiores sucessos do mercado brasileiro nos últimos anos, a Fiat Toro. A primeira, e até o momento única, rival da francesa produzida no Paraná chegou para pulverizar a categoria e bater de frente – em números – até com as médias. 

Nesse meio tempo, a Oroch não apresentou números de vendas ruins, mas viu a rival cair no gosto do brasileiro e ser uma das queridinhas do mercado com resultados impressionantes e maiores até que muito automóvel pequeno, fechando o “Top10 Mais Vendidos” de 2021 em sétimo lugar. 

Agora, para a linha 2023 da picape, a Renault apresenta um facelift profundo, com – breve – mudança visual, pequeno acréscimo de equipamentos e o maior destaque, a introdução do poderoso motor 1.3 Turbo. Tudo isso para focar em outra rival, a francesa aposta em uma “briga” com outra queridinha da Fiat, a Strada. 

Errou a mão

Apesar de intermediária, ela quer brigar com com a compacta Strada.

Como sempre, o grande porém da Oroch é o preço e neste caso vai um pouco além da clássica reclamação de “está cara”. Em três versões, ela parte de R$ 105.800, o que bate de frente com as opções mais caras com câmbio manual da Strada, com a vantagem de ser maior e ter um motor um pouco mais forte. 

A questão mesmo é a versão topo de linha, agora batizada de Outsider, configuração que tivemos contato durante o lançamento da picape em São Paulo e que as primeiras impressões fazem parte do nosso “Teste da Vez”. Ela custa salgados R$ 137.100, ou seja, R$ 17 mil a mais que a Strada Rach e o pior, apenas R$ 1 mil a menos que a Toro Endurance, que mesmo de entrada, tem mais equipamentos de segurança do que a francesa. 

Deveria ser melhor

A lista de equipamentos evoluiu, mas bem pouco e deixa a desejar.

Falando em lista de equipamentos, quando a Renault anunciou que teríamos uma nova Oroch, era esperado que ela viesse aliada com o Duster, já que compartilha a plataforma e, até então, o nome. Mas não foi o que aconteceu. 

Apesar de ter melhorado em relação a linha anterior, a atual ainda peca e está bem abaixo diante do próprio primo SUV e da grande rival Toro. Ela até é equilibrada diante da Strada, mas custando a diferença que já citamos. 

O ar-condicionado digital é um dos poucos destaques da lista de equipamentos.

De série, ela vem com ar-condicionado digital, central multimídia com tela de oito polegadas e conexão sem fios para smartphones, capota marítima, rodas diamantadas, computador de bordo com velocímetro digital, bancos com revestimento premium e os básicos vidros, travas e retrovisores elétricos. Faltou chave sensorial e partida por botão.

Na parte da segurança, nada demais, a lista conta apenas com controles de tração, estabilidade e anticapotamento, assistente de partida em rampas, piloto automático, luz de circulação diurna alógena (não há nada em LED na picape), sensores de estacionamento, crepuscular e de chuva e câmera de ré. 

Não há uma luz em LED, é tudo alógena.

O mais absurdo da lista da Oroch é ela ter apenas dois airbags, quando até o pequeno Kwid tem quatro. A Renault passa a sensação que, não fosse a legislação obrigar, não teria nem as duas bolsas de proteção frontais. Isso sem falar em nenhum outro item de segurança, nem monitoramento de pressão dos pneus ela tem. 

O estranho é que, os primos Duster e Captur contam com equipamentos interessantes, como alerta de ponto cego, câmeras 360º e chave sensorial com partida por botão, custando praticamente a mesma coisa da picape. Ou seja, a Renault não equipou de forma melhor a Oroch porque não quis. 

Um pouco de cada

As lanternas ganharam acabamento fumê.

Na parte visual, apesar de ter perdido o primeiro nome, a Oroch se mantém alinhada com o primo Duster, principalmente na dianteira. Para o facelift, ela teve a grade frontal e o para-choque redesenhados. Agora, segundo a Renault, ela tem um maior ângulo de entrada com 27,6º. 

A opção topo de linha, nosso “Teste da Vez”, conta com estilo mais próprio, recebendo alargadores de para-lamas, faróis de neblina auxiliares e frisos laterais, sem falar nas saias laterais que remetem a um estribo (apesar de não serem). O santo antônio e o rack de teto também foram modificados e as lanternas receberam acabamento fumê. 

Um dos pontos alto da picape, o ótimo espaço interno.

A cabine é uma fusão de estilos, com peças dos primos e próprias. A grande novidade é a tela da central multimídia que passa a ser no estilo flutuante. As saídas e controles do ar-condicionado são idênticas ao Duster, já o painel veio do Captur. Além disso, o acabamento escurecido dá um visual mais interessante à picape. 

Falando em acabamento, ele é bem feito, sem rebarbas, apesar do abuso de material simplório, como plástico duro. Por compartilhar a plataforma com o Duster, o espaço traseiro é bom, bem melhor que o da Strada, por exemplo. 

O ponto alto

O potente motor deixa a caminhonete arisca e ligeira.

O grande diferencial da nova Oroch é a motorização da versão topo de linha. Enquanto nas duas de entrada a Renault manteve o propulsor 1.6 aspirado aliado ao câmbio manual, a Outsider é mais uma a ganhar a novíssima caixa turbinada 1.3 de 170 cavalos e 27,5kgfm de torque combinado com câmbio automático CVT. 

Assim como no Captur e no Duster, o motor caiu muito bem na Oroch. No breve momento que tivemos com a versão topo de linha durante o lançamento da picape foi possível perceber que a caixa de força tem vitalidade e fôlego de sobra. 

Com o propulsor turbo, a tocada da Oroch é bem forte.

Apesar de CVT, o câmbio automático responde bem e deixa a picape bem esperta. Dessa forma, toda manobra é feita com extrema facilidade, seja ultrapassagens, saídas ou retomadas de velocidades. Basta o mais leve toque no acelerador para a caminhonete disparar pelo asfalto. A suspensão é outro ponto positivo. 

Por ser independente multilink, o sistema trabalha bem, não repassando as irregularidades do asfalto para a cabine. Até em trechos mais acidentados, com estradas de chão, ela manda bem. O grande porém do conjunto mecânico é a direção, que deveria ser elétrica, mas é apenas eletro-hidráulica. 

A opinião do Diário Motor

Renault Oroch 2023.

Comparada com a linha anterior, a 2023 da Oroch evolui, mas deveria ter ido além. A Renault, mais uma vez, parece ter receio de investir pesado na picape. O grande porém dessa vez é a parca lista de equipamentos, principalmente os de segurança, apenas dois airbags é inadmissível. Tendo como destaque o novo motor turbo. 

Com um preço exagerado – mesmo com uma motorização e espaço interno superior –, é difícil apostar que ela fará frente a Strada Ranch. Com a principal rival a disputa fica ainda mais dura. Se a Renault tivesse apresentado a Outsider por, no máximo, R$ 125 mil, seria uma opção interessante, mas por R$ 137.100 e pelo que ela apresenta, além da motorização, não vale a compra! Nota: 4,8.

Ficha Técnica

Motor: 1.3 turbo 

Potência máxima: 170cv

Torque máximo: 27,5kgfm 

Direção: eletro-hidráulica

Suspensão: independente nas quatro rodas

Freios: a disco na dianteira e tambo na traseira 

Capacidade de carga: 650kg 

Dimensões (A x L x C x EE): 1.634 x 1.834 x 4.719 x 2.829mm 

Preço: R$ 137.100

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*Viagem a convite da Renault.