Ford Mustang Mach 1 mostra porque o esportivo é um verdadeiro ícone
Testamos a atual versão do coupé esportivo mais vendido do mundo e seu poderoso conjunto mecânico com motor V8 aspirado de quase 500 cavalos
Segundo o dicionário Michaellis, dentre alguns significados, o termo “ícone” é considerado como “coisa que faz alusão ao que é mais característico ou representativo nela”. Para alcançar este status, é preciso ser muito diferenciado. Nas mais diversas áreas, são poucos os que conseguem virar um mito, uma lenda. E, entre os veículos, não é diferente.
Para um carro se destacar ao ponto de ser considerado um ícone, é preciso “queimar” muita gasolina. Ao longo da história pouquíssimos modelos conseguiram chegar neste nível. Até porque, é preciso ser muito mais que um “bom carro” para se destacar na multidão. Dessa forma, podemos contar nos dedos os veículos que se tornaram lendários, icônicos.
A maioria transformou, de alguma forma, o mercado mundial, como o Ford T (primeiro modelo produzido em série), os Volkswagen Fusca e Kombi (poucos veículos se deram tão bem em tantos mercados diferentes). Dos ainda existentes, o Porsche 911 (revolucionou o modo de se fazer esportivos) e o Ford Mustang (primeiro ‘muscle car’ da história).
Perto de completar 60 anos, o americano literalmente lançou moda ao inventar um estilo que não existia. Só por isso ele já mereceria o status de ícone, mas o esportivo foi muito além. Até os dias de hoje, desperta olhares por onde passa, em qualquer versão, como a atual Mach 1 vendida no Brasil, o nosso “Teste da Vez” e seus R$ 576.490.
Mesclado
No mundo animal, existem alguns casos de cruza de animais de espécies diferentes, o que gera espécimes híbridos. O mais famoso é entre o cavalo e o burro, que cria a mula. De maneira figurada, a Ford fez uma mistura com o Mustang, a de um tubarão com um cavalo.
O muscle car, tecnicamente falando, foi inspirado nos caças americanos de mesmo nome. No entanto, os aviões foram baseados em uma raça de cavalos selvagens dos Estados Unidos, os mustangs, que é de onde surgiu o nome e o símbolo do carro. No entanto, o design do esportivo é inspirado em um tubarão.
Desde sempre, independente da geração – a atual vendida no Brasil é a sexta –, o desenho da dianteira do carro é pontuda e inclinada para baixo, como os grandes tubarões brancos. Além disso, as luzes de circulação diurna em LED lembram as guelras do rei dos mares. O aerofólio traseiro faz a vez de barbatana e é primordial para deixar o esportivo “no trilho”.
A Mach 1 tem alguns detalhes diferenciados e que variam de acordo com a pintura da carroceria. O gigantesco capô conta com adesivo centralizado em preto fosco com uma faixa vermelha, no caso da cor cinza como na versão testada, os mesmos tons são vistos nas laterais, que seguem o padrão musculoso do modelo, de estilo coupé duas portas.
Por dentro, mesmo com a nova geração já apresentada e que chega ao mercado norte-americano no fim do ano, o Mustang, pelo menos no visual, ainda se mostra moderno. Seguindo a ideia dos caças, os botões de ajustes são interessantes e um charme a mais. O painel de instrumentos 100% digital é o ponto alto da cabine.
No geral, o interior é bem equilibrado. Apesar do uso exagerado de plástico duro, o acabamento é bem feito. O Mustang é um esportivo coupé 2+2, ou seja, tecnicamente, ele leva até quatro pessoas, mas o ideal são só duas mesmo. O porta-malas, para este tipo de carro, tem um espaço bom, com 382 litros.
Pouco importa
Como está no fim de vida da geração, a lista de equipamentos do Mustang deixa um pouco a desejar. Mas “apesar dos pesares”, pouco importa, pois a diversão ao volante chama muito mais a atenção, como deve ser. Mesmo assim, listamos o que ele tem.
Na parte da comodidade, ele vem com ar-condicionado digital dual zone, chave sensorial, o painel de instrumentos 100% digital tem tela de 12 polegadas, luz de aproximação com projeção do logo do Mustang (um dos itens mais legais), bancos com ajustes elétricos, iluminação ambiente personalizável e o Sync3 com tela de oito polegadas, conexão com Android Auto e Apple CarPlay com fio e sistema de som da Bang & Olufsen.
Entre os itens de segurança, faróis full LED, sensores crepuscular e de chuva, oito airbags, controles de tração e estabilidade, alerta e assistente de frenagem, piloto automático, câmera de ré, assistente de partida em rampa, monitoramento de pressão dos pneus e sistema de permanência em faixa com detecção de fadiga.
Na lista de ausências, o que mais faz falta são os sensores de estacionamento, por ser um veículo grande (4.797mm) e largo (2.081mm), com uma dianteira proeminente e baixa, eles são muito necessários. Piloto automático adaptativo, carregamento por indução e conexão sem fio, seriam interessantes, mas não fazem tanta falta assim, para o Mustang.
Para ‘gente grande’
Para otimizar a direção, o Mustang conta com seis modos de condução (Normal, Sport, Sport+, Pista, Drag e Neve/Chuva), além do MyMode (que o motorista pode configurar como achar melhor), que alteram do ronco do motor a calibração do volante. Cada um deles modifica inúmeros padrões do carro.
As principais alterações ficam pela resposta do acelerador, das trocas de marcha e dos freios, a rigidez da suspensão, que é magnética, e do controle de tração. O interessante é que, alguns pontos podem ser modificados individualmente, como a calibragem do volante e o som emitido pelo propulsor, que tem quatro opções (normal, esportivo, pista e silencioso).
Os mais legais, claro, são o “esportivo”, que deixa o ronco ainda mais grave e “pista”, que simplesmente deixa o Mustang com um urro animalesco e bem divertido também. O silencioso, como o nome indica, deixa o som mais abafado, para não gerar ciúmes acordar a vizinhança.
Entre todos os modos de condução, um não é aconselhável utilizar na cidade, o Pista. Como o nome indica, ele é ideal para se utilizar em um autódromo e poder tirar proveito de tudo que o Mustang oferece, principalmente com o controle de estabilidade desligado.
O Drag é, provavelmente, o mais divertido. Ele permite realizar manobras agressivas com o carro, como burnout, o famoso borrachão, e zerinhos. Os dois precisam ser feitos em área isolada, sem nenhum tráfego, seja de outros automóveis ou de pedestres.
Com o uso da tecnologia do veículo, basta ativar o modo Drag, alterando as configurações do veículo e usar freio e acelerador ao mesmo tempo para ver a fumaça dos pneus levantar, junto com o ronco agressivo do motor, é de arrepiar até quem não gosta de carro.
Diversão de sobra
Um detalhe interessante do Mustang, e que o ajuda a ser um ícone, é que ele está longe de ser o veículo mais caro à venda no Brasil, mesmo com seus R$ 576 mil. Não é o mais potente (são 483 cavalos e 56,6kgfm de torque) e nem o mais rápido, (zero a 100km/h em 4,3 segundos), um número decente, mas bem acima da casa mágica dos três segundos.
Mas mesmo com estes dados, qualquer um fica com um sorriso de “orelha a orelha” dentro do Mustang, seja o motorista ou passageiro, é impossível não se render a toda a mística do “cavalo” americano. A diversão a bordo é garantida.
O conjunto mecânico é assombroso, além do poderoso motor V8 5.0 aspirado – capaz de produzir um ronco gutural, de causar suspiros até em quem não gosta de carro –, ele vem com uma transmissão automática de 10 velocidades, simplesmente perfeita.
O câmbio não apresenta nenhum delay, as respostas são impressionantemente imediatas, deixando até caixas automatizadas de dupla embreagem para trás. As trocas são macias e no tempo certo, mesmo no modo “Normal”, ao pisar firme no acelerador, ele despenca rapidamente da oitava para a terceira, fazendo o esportivo disparar com facilidade.
A suspensão também surpreende. Como um bom esportivo, ele é naturalmente mais rígido, o que pode ser um grande porém por conta das nossas vias para lá de danificadas, mas até nisso, o muscle car manda bem. Mas claro que o grande astro do conjunto mecânico é o poderoso motor e seus 483 “puros sangues” selvagens.
Ganhar velocidade com o Mustang é algo realmente muito fácil. O difícil não é acelerar, mas saber a hora de parar de pisar no acelerador. A cada toque no pedal, o carro te instiga a apertar mais o pé, principalmente alinhado com o ronco “digno de Beethoven”.
Mesmo de tração traseira, em momento algum há a impressão de perda de controle do veículo, um salve para a eletrônica do carro e os controles de tração e estabilidade (que podem ser desligados, se o piloto for mais experiente, ou completamente insano). As curvas são feitas de forma suave e tranquila e os bancos, do tipo concha, ajudam a deixar motorista e passageiro colados no assento, sem ficar sacudindo de um lado para o outro.
Ah, e o consumo, sinceramente não importa, afinal, além de ser um veículo de mais de meio milhão de reais, você estará a bordo de um ícone, um legítimo V8, a última preocupação será com combustível. Mesmo assim, para quem gosta de números, durante o teste ele ficou com média de 5,2km/l, utilizando todos os modos de condução.
A opinião do Diário Motor
Como falamos no início, o Mustang é um verdadeiro ícone. Poucos veículos contam com este status. Com quase 60 anos de estrada, o primeiro muscle car da história só melhora com o tempo. Se vivêssemos em uma sociedade justa, todo mundo deveria experimentar certas coisas ao menos uma vez na vida, e dirigir o Mustang, certamente seria uma delas.
Infelizmente não vivemos em um mundo de conto de fadas e toda diversão tem seu preço. Mas para os poucos que podem gastar mais de meio milhão de reais em um veículo, o Mustang é uma compra para lá de correta, altamente divertida e vale – para quem tem – cada centavo investido. Vale a compra! Nota: 10.
Ficha Técnica
Motor: V8 5.0 aspirado
Potência máxima: 483cv
Torque máximo: 56,6kgfm
Transmissão: automática de 10 velocidades
Direção: elétrica
Suspensão: independente nas quatro rodas
Freios: a disco nas quatro rodas
Porta-malas: 382 litros
Dimensões (A x L x C x EE): 1.403 x 2.081 x 4.797 x 2.720mm
Preço: R$ 576.490
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