Fiat Mobi Trekking, de longe, o pior carro à venda no Brasil
Testamos a versão topo de linha do modelo de entrada da italiana no Brasil que, além dos muitos poréns, supera os R$ 77 mil
No universo automotivo, a qualidade – ou falta dela – de um veículo é a soma de diversos fatores quase que imutáveis ao longo dos anos. Do conjunto mecânico ao espaço interno, passando pelos materiais empregados, acabamento, lista de equipamentos e, claro, somado ao preço.
No final, o que acaba falando mais alto é o valor. Até porque, um carro pode não ter equipamento nenhum (os chamados “pé de boi”), mas se ele custar muito menos que a concorrência, se torna uma boa opção. O contrário também serve, pode ter toda a tecnologia do mundo, mas se for muito mais caro, ficará aquém dos demais.
Volta e meia a indústria gosta de surpreender e lançar veículos com ótimo custo benefício, que apresenta uma lista de equipamentos extensa aliada a um preço competitivo. O problema é quando o oposto ocorre, como é o caso do Fiat Mobi Trekking, o nosso primeiro “Teste da Vez” de 2023.
Na versão topo de linha, o supercompacto é, de longe, o pior automóvel vendido no Brasil. Atualmente, com a evolução dos veículos, chega a ser difícil achar um ponto muito negativo em um carro, mas com o Mobi o assunto é diferente, é quase impossível achar algo positivo, a começar pelo valor, que, com os opcionais, pode chegar a insanos R$ 77.240.
Individualista
Como costumamos falar, a parte do design é sempre muito pessoal, pois leva em conta o gosto de cada um. O que uma pessoa pode achar bonito, outra pode considerar feio. Desde o lançamento, em 2015, o Mobi não sofreu nenhuma grande alteração visual, mantendo o mesmo estilo, com a Trekking contando com detalhes – ditos – aventureiros.
O design, principalmente frontal, é harmônico ao se tratar de um veículo supercompacto e, mesmo com quase oito anos, se mantém atualizado. O grande porém fica pelas lanternas, que são exageradamente grandes. Os adesivos no capô, laterais e no teto dão um charme a mais ao carrinho. Mas como afirmarmos, cada um pode, ou não, gostar do estilo dele.
Por dentro é que as coisas começam a “desandar”. Se por fora o visual ainda é atual, o mesmo não podemos dizer da cabine. O design do interior está cansado e precisando urgentemente de uma atualização. Até a central multimídia – provavelmente o único ponto não negativo –, tem estilo ultrapassado, com bordas exageradas.
Como é de se esperar de um veículo de entrada – mas não de um que supera os R$ 70 mil – os materiais são bem simplórios, é plástico duro para tudo que é lado. O único detalhe diferenciado é o desenho dos bancos, no mais, lembra muito um modelo do início da última década.
Por ser um supercompacto, é esperado que o espaço interno não seja lá essas coisas. Mas o Mobi consegue ser pior do que o imaginado. Até para levar quatro pessoas é difícil, pois quem for atrás do motorista não terá uma posição confortável onde colocar as pernas. Dessa forma, cinco é impossível.
O porta-malas é outro porém, com apenas 200 litros, mal leva duas mochilas. Para se ter uma ideia, o principal corrente do pequeno italiano, o Renault Kwid, tem 290 litros, ou seja, é quase 50% maior. E, em um ponto que a Fiat sempre se destacou, os porta-objetos, quase não existem no Mobi.
De entrada
Um dos pontos mais importantes na avaliação de um veículo é a relação lista de equipamentos x preço final. Nisto, o Mobi faz mais feio ainda. Há apenas dois itens que podem ser considerados modernos: a tela da central multimídia que tem conexão sem fio com smartphones e o sensor de pressão dos pneus. No mais, o básico do básico.
Mesmo partindo de insanos R$ 70.990, ele vem com ar-condicionado manual, vidros elétricos apenas nas portas dianteiras, computador de bordo rudimentar sem velocímetro digital, direção hidráulica, travas elétricas e só. Além, claro, dos itens obrigatórios por lei, como airbag duplo e cinto de três pontos para todos os passageiros.
Para tentar minimizar um pouco a parca lista de equipamentos, o Mobi Trekking conta com alguns pacotes de opcionais que, juntos, podem acrescentar até R$ 4.500 ao valor do veículo. No preço final, ainda pode haver o custo da pintura. A cinza silverstone com teto em preto, igual a da unidade testada, sai por salgados R$ 1.750.
O Pack Safety acrescenta controle de estabilidade e auxiliar de partida em rampa. Já o Pack Top, agrega faróis de neblina, volante e cintos dianteiros com regulagem de altura, comando interno de abertura do porta-malas e tanque de combustível, alarme antifurto, retrovisores externos elétricos (sim, de série eles são manuais) e rodas de liga leve de 14 polegadas, que sem o pacote são de aço com calotas.
Ultrapassado
Lista de equipamentos parca e preço exorbitante, o conjunto mecânico salva o Mobi? Não, não salva! O problema do supercompacto é que, ao contrário dos outros modelos da marca que utilizam motor 1.0, ele não conta com a moderna caixa FireFly de três cilindros, mas sim a ultrapassada Fire, que gera 73 cavalos e 9,4kgfm de torque com gasolina.
Além disso, a direção, como já citamos, é hidráulica, em um modelo 2023! e não elétrica, como deveria ser. O câmbio é manual de cinco velocidades que tem um casamento muito estranho, enquanto as relações de marcha são bem curtas, as posições da manopla são super longas. Ao fazer as trocas, o movimento de alternância é exageradamente longo.
Por ser um supercompacto, mesmo com o motor ultrapassado, é esperado que, ao menos, ele seja bom de conduzir e econômico, mas fica só na espera mesmo, a realidade é bem diferente. Mesmo pequeno, o Mobi é lento nas manobras, o motor não responde bem, precisando de atenção ao fazer qualquer ultrapassagem, retomada ou saída em velocidade.
A suspensão, dita elevada na versão Trekking, é dura e não absorve bem as – muitas – imperfeições do solo. Mas convenhamos que, neste caso, a culpa não é do carrinho, mas sim da péssima qualidade do asfalto de nossas vias, inclusive da região central da capital federal.
A falta de uma direção elétrica gera dois poréns: dificuldade na hora de manobrar (neste caso, no Mobi, por ele ser leve, não faz muita diferença e vale frisar que ele não conta com sensor de estacionamento e câmera de ré) e segurança na estrada, pois a hidráulica tende a deixar o volante “mole” em alta velocidade, coisa que a elétrica não permite.
Por fim, o consumo também foi bem aquém do esperado. Durante o teste, o Mobi marcou míseros 11,7km/l abastecido com gasolina. E, lembrando, que as ruas de Brasília são mais planas, ou seja, o gasto aqui costuma ser mais otimizado, coisa que não ocorreu com o supercompacto.
A opinião do Diário Motor
Quando olhamos para o Mobi e por tudo que ele – não – entrega, é quase impossível não relacionar com o bom e velho Uno Mille, que fazia bem a função de “meio de transporte”, já que, assim como o primo, era um veículo básico, mas com um valor super condizente com a realidade. O Mobi seria um bom primeiro carro, para quem está começando a dirigir ou aquele estudante que vai para universidade e não quer depender de transporte público.
O problema em si nem é a falta de qualidade dos materiais, a parca lista de equipamentos ou o conjunto mecânico ultrapassado, o grande porém mesmo é somatório disso tudo com o exorbitante valor final de R$ 77.240. Ou seja, além de ruim, ele é – muito – caro e, consequentemente, não há pontos positivos. Não vale a compra! Nota: 0.
Ficha técnica
Motor: 1.0
Potência máxima: 75/73cv
Torque máximo: 9,8/9,4kgfm
Transmissão: manual de 5 velocidades
Direção: hidráulica
Suspensão: independente na dianteira e semi-independente na traseira
Freios: a disco na dianteira e tambor na traseira
Porta-malas: 200 litros
Dimensões (A x L x C x EE): 1.552 x 1.666 x 3.596 x 2.304mm
Preço: a partir de R$ 70.990
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